Ao entrar em vigor a partir desta quarta-feira (2), a nova fase do plano São Paulo, que coloca todo o estado na fase amarela, revela também que a Baixada Santista já estava nesta etapa desde o dia 16 de novembro – um dia após o primeiro turno.
No entanto, como houve alteração nas datas de divulgação, isso acabou não se tornado público.
Pelo menos, oficialmente.
Assim, a Baixada Santista seria a única região do Estado de São Paulo que retroagiria naquela ocasião, ficando no mesmo patamar do Vale do Ribeira, São José do Rio Preto, Araçatuba e Barretos.
Na ocasião, o governo do Estado prorrogou automaticamente a quarentena no estado, inicialmente até 16 de dezembro – o que foi alterado agora e passa a vigorar a partir desta quarta (2) – com a nova reclassificação, conforme informação oficial, devido a instabilidade de dados do Ministério da Saúde.
Se tivesse sido mantida e anunciada na ocasião, justamente um dia após as eleições do primeiro turno, o cronograma anterior deixaria 89% da população do estado na fase verde, com o progresso de outras sete regiões.
Ou seja, passariam para a fase verde as regiões de Franca, Ribeirão Preto, Araraquara, São João da Boa Vista, Bauru, Marília e Presidente Prudente.
E seriam mantidas as regiões de Piracicaba, Grande São Paulo (incluindo a Capital), Campinas, Sorocaba e Taubaté.
Casos crescentes
No entanto, com a verificação do avanço de casos e internações por Covid-19, o Governo de São Paulo optou pela ampliação de medidas de distanciamento social, conforme anunciado na segunda (30), um dia após o fim das eleições do segundo turno, provocando sérias críticas por parte da imprensa e de munícipes nas redes sociais.
Com base nos dados divulgados durante a coletiva de segunda (30), quando o governador João Doria anunciou as alterações, é possível verificar que em relação ao total de óbitos por 100 mil habitantes, a Baixada Santista já estaria na fase laranja – anterior à nova reclassificação.
Os índices, aliás, são os maiores do Estado: 7,9 óbitos/100 mil habitantes, conforme dados divulgados pelo comitê de contingenciamento.
Indicadores sobre ocupação de leitos e elevação de pacientes internados em UTIs têm crescido desde outubro, conforme revelam reportagens do Boqnews.
Confiram alguns links e textos
Tristes recordes
Conforme estudo do médico e professor da USP e Santa Casa, Carlos Eid, da Abramet – Associação Brasileira de Medicina do Tráfego, quatro das dez cidades do Estado de São Paulo com o maior índice de mortes pela Covid/100 mil habitantes são da Baixada Santista.
São os casos de Santos, líder absoluta, Cubatão (4º lugar), São Vicente (7º) e Guarujá (8º).
Coordenador dos estudos, o médico analisa os gráficos divulgados pelo governo do Estado, publicados pela Fundação Seade, sendo atualizado sempre às quartas-feiras à noite (os publicados são da última semana).
Nota-se a elevação substancial de mortes na comparação dos meses.
Em outubro, foram 146 óbitos pela Covid-19 na Baixada Santista.
Em novembro, 227 óbitos – 55,5% a mais.
Já na comparação entre 1º de novembro a 1º de dezembro, a média móvel de pacientes internados em UTIs subiu de 137,43 para 213,71 no mesmo período – crescimento de 55,5%.
Por sua vez, na média móvel de internações semanais, a alta foi de 51,5% no mesmo período, passando de 270 para 409
Diferença em duas semanas
Para efeitos epidemiológicos, estas duas semanas a qual a Baixada Santista permaneceu na fase verde – a despeito de já estar na fase amarela conforme os números – podem trazer sérios problemas com agravamento da situação.
“O tempo de incubação é de até 14 dias. Se restringíssemos antes teríamos evitado mais exposição e após duas semanas (tempo em que os infectados estariam perceptíveis) certamente com menos casos, casos e contatos identificados”, explica o médico infectologista e professor universitário, Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas e membro da Sociedade Paulista de Infectologia.
“Em um círculo virtuoso, impactaríamos menor com menos circulação viral e casos. Ao retardar a medida, e sem fiscalização efetiva, deixamos a progressão solta por mais tempo. Certamente podemos colocar na conta desse atraso – e da leniência – muitos casos novos”, lamenta.
Eleições?
Coincidência ou não, o fato da Baixada não ter sido rebaixada para a fase amarela já no dia 16 de novembro teria relação com o fato do PSDB ainda disputar duas prefeituras para o segundo turno, segundo apurou o Boqnews.
Em Praia Grande, com Raquel Chini (eleita) e em São Vicente, com Solange Freitas.
Ninguém, porém, confirma isso oficialmente, inclusive membros do tucanato na região.
Afinal, conforme apurou o Boqnews, colocar a região como fase amarela poderia prejudicar a performance do partido em ambos os municípios, especialmente em São Vicente, onde pela primeira vez o PSDB poderia conquistar a prefeitura local, cidade, aliás, berço político do ex-governador Marcio França, principal oponente do governador João Doria no Estado de São Paulo.
Oficialmente, a única nota foi enviada pela prefeitura de Santos, administrada por uma das lideranças do PSDB na região e presidente do Condesb – Conselho de Desenvolvimento da Baixada Santista, Paulo Alexandre Barbosa.
Em nota, a Prefeitura santista informa que só teve acesso aos novos dados do Plano São Paulo na data do anúncio da reclassificação do plano.
“A Administração ressalta que a decisão de reclassificar a Baixada Santista e outras regiões do Estado na fase amarela do Plano São Paulo na última segunda recebeu aval de médicos especialistas do Centro de Contingência do coronavírus em São Paulo, o que demonstra que a decisão se baseou em dados epidemiológicos”.
Já o governo do Estado informa que o Plano São Paulo norteia a retomada consciente da economia e do cotidiano da população, com a premissa da segurança, prevenção, e garantia da assistência, aliada ao incentivo à manutenção das atitudes essenciais como higienização das mãos, ambientes, além da obrigatoriedade do uso de máscara e, sobretudo, do fortalecimento da rede hospitalar.
As mudanças valerão até 4 de janeiro, podendo ser alteradas caso o cenário seja alterado dentro dos critérios do Plano São Paulo.
Mudanças
Em Santos, as mudanças vigoram a partir desta quarta (2).
- Atividades físicas e esportivas em outros estabelecimentos públicos e privados – de segunda a sexta, das 6h às 11h e das 17h às 22 horas. Aos sábados e domingos, das 8 às 18 horas.
- Eventos sociais, culturais, esportivos e corporativos – duração máxima de dez horas por dia até às 22 horas (incluindo tempo de montagem e desmontagem).
- Comércio e atividades econômicas – limite de atendimento – 40%, com funcionamento por 10 horas diárias – limitado até às 22 horas.
- Região Central – segunda a domingo – das 9 às 19 horas (bairros do Valongo, Centro, Paquetá, Vila Nova e Vila Mathias)
- Restante da cidade – segunda a domingo – 11 às 21 horas
- Escritórios e estabelecimentos de prestação de de serviços técnicos – das 9h às 19 horas
- Shoppings centers – das 12h às 22 horas
- Imobiliárias e corretoras de imóveis – 9 às 19 horas
- Concessionárias, lojas e revendas de veículos – 9 às 19 horas
- Bares, restaurantes e lanchonetes – das 11h às 21h ou das 12h às 22 horas
- Salões de beleza, barbearias, cabeleireiros e clínicas de estética – das 10h às 20 horas
- Comércio ambulante da região central (Valongo, Centro, Paquetá, Vila Nova e Vila Mathias) – das 9 às 19 horas
- Comércio ambulante na faixa de areia da orla – das 9 às 19 horas
- Demais comércios ambulantes – 11 às 21 horas
- Quiosques de lanches (foto) – das 12h às 22 horas
- Quiosques de coco – das 10h às 20 horas
E ainda:
- Escolas de idiomas, cursos livres e educação profissionalizante – das 10 às 210 horas ou das 12h às 22 horas
- Academias – De segunda a sexta-feira, das 6h às 11 horas e das 17h às 22 horas
- Aos sábados e domingos – das 7 às 17 horas