A primeira escola profissionalizante do Brasil, a Etec Dona Escolástica Rosa, de 1908, está com seu futuro incerto após o Ministério Público do Trabalho (MPT) determinar, no ano passado, a desativação do prédio em razão da constatação de danos estruturais que ameaçavam a segurança de estudantes e funcionários.
Após quase cinco meses do fim das atividades no local – alugado ao Centro Paula Souza – a situação só tem se agravado.
A proprietária, a Santa Casa, informou que ingressou com ação de despejo contra o Centro Paula Souza.
Contudo, ainda aguarda a finalização do processo.
Após transferir os 1.302 alunos da Etec para um novo endereço na Vila Mathias, o imóvel ainda guarda documentos e objetos que não foram transferidos para o local.
“Em relação ao antigo imóvel, a instituição está negociando com a Santa Casa como será feita a desocupação e a devolução do prédio”, informa o CPS em nota.
No entanto, não há previsão de quando isso ocorrerá.
Sinais de abandono
Os sinais de abandono – que já eram evidentes na parte interna – agora ganham maior impacto também na fachada.
No local, nota-se a queda de parte do forro, o mato crescendo.
E ainda ferros expostos já no portal de entrada da edificação.
Outro problema é a quantidade de fezes de pombos que ‘enfeitam’ o local nos ambientes internos, podendo, assim, gerar problemas de saúde pública para as pessoas que moram nas proximidades.
O Centro Paula Souza mantém quatro vigilantes no local, em forma de turno para evitar problemas, como eventuais invasões.
Por ser uma área extensa e nobre em frente à orla da praia da Aparecida, há o temor real do imóvel ser invadido por moradores de rua e, em especial, usuários de drogas.
Há décadas
Não é de hoje que os problemas com a infraestrutura do Escolástica Rosa existem.
Há pelo menos duas décadas, alunos já criticavam as constantes ausências de materiais de higiene e até de carteiras.
Formada em Nutrição, a ex-estudante da escola Juliana Medeiros lembra que durante o período quando estudou lá, entre 1995/96, a estrutura já se mostrava deficitária.
“Os alunos reclamavam. E na época tínhamos informações de que os cursos técnicos seriam fechados”.
Juliana ainda ressalta que no período em que esteve na instituição, os diretores nunca se posicionaram em relação aos perigos da estrutura e falta de materiais.
2009/10
Já Neleia Aricieri, formada em Técnico em Segurança, também reclama da falta de infraestrutura proporcionada pela Etec.
De acordo com ela, neste período, a estrutura já apresentava sinais de problemas.
“O prédio não era dos melhores, pois precisava de pintura e reparo. Toda a instalação precisava de uma reforma”, afirma.
Ela ainda relata que não haviam aparelhos de ar condicionados nas salas de aula.
“Como toda escola pública sempre falta, então acho que me acostumei, pois sempre estudei em escola estadual”, ressalta.
2012/13
Em seu tempo como aluna, a técnica em Administração, Rosângela Santos, classificou a estrutura como precária.
Segundo a profissional, haviam vazamentos e os telhados estavam condenados.
Além disso, os banheiros sempre necessitavam de manutenções.
No entanto, ela acredita que não havia o que a direção pudesse fazer pela falta de recursos.
A ex-aluna lembra quando chovia.
De acordo com ela, os estudantes chegaram a ser dispensados após fortes chuvas, porque a instituição ficava inundada, impossibilitando as aulas.
“Quando chovia, vazava água pelo telhado, escorria por algumas paredes, tinha vazamentos também nos banheiros. Na lanchonete, quando chovia, molhava nossos pés pois entrava água na altura da canela”.
2017/18
As constantes reclamações só chegaram ao fim do ano passado após a desocupação do imóvel.
O formando em Técnico em Administração, Vinícius Cação, lembra que, durante o horário de aulas, existiam reformas sem a menor proteção aos alunos.
Ele ainda relembra que em 2018, os estudantes e professores organizaram um protesto exigindo melhores medidas de segurança e reformas nas estruturas.
No entanto, como Rosângela, o formando não culpa a diretoria pela ausência de melhorias.
“O problema não era a direção, mas os órgãos governamentais que não davam a atenção devida”, ressalta.
Contudo, mesmo tentando não criticar a diretoria, Cação salienta que a diretoria à época era responsável por algumas ações na escola.
“Era avisado o local que deveria ser evitado, mas que muitas vezes nunca era respeitado pelos alunos e a diretoria não insistia para eles não passarem por lá”, afirma.
Em busca de solução
O impasse sobre o futuro do imóvel chama a atenção.
O vice-presidente da Comissão estadual de Ciência e Tecnologia, Kenny Mendes (PP), explica que, infelizmente, a Assembleia Legislativa não pode se mobilizar para que o imóvel, localizado à Av. Bartolomeu de Gusmão, 111, devido ao local ser de propriedade da Santa Casa.
“A legislação impede que o Estado faça qualquer tipo de investimento em um imóvel que não lhe pertença”, ressalta.
No entanto, Kenny afirma que não desistiu da Etec. Segundo ele, existem conversas com os deputados federais do seu partido, principalmente com o presidente da legenda, Guilherme Mussi, para buscar recursos que auxiliem o hospital.
De acordo com o deputado, existem estudos para ajudar o local. “Nós sabemos que a Santa Casa não têm recursos para a ampla reforma”, ressalta.
Ele complementa que espera que o Estado volte a alugar o Escolástica Rosa para retomar as ações educacionais na centenária escola.
Fins educacionais
Pelo testamento de João Octávio dos Santos, que doou a área à Santa Casa, o espaço só pode ser usado para fins educacionais.
Ele doou 120 contos de réis em dinheiro vivo (cerca de R$ 6 milhões).
Além de 74 propriedades, cujos aluguéis deveriam cobrir as despesas com pessoal, alimentação e manutenção.
O nome da escola é uma homenagem à mãe de João Octávio, uma escrava, falecida quando ele tinha 23 anos.
No entanto, não deixou herdeiros.
Confira detalhes completos no link a seguir: http://memoriasantista.com.br/?p=4565
Confira galeria de fotos do Escolástica: