O relógio marcava 10h10 desta terça-feira (26) quando a enfermeira entrou para retirar o acesso da medicação intravenosa no braço direito da paciente.
Era um dos últimos atos realizados no quarto 803.
Depois do procedimento, hora de arrumar a bolsa e partir.
Partir para uma vida nova, depois de 11 dias no Hospital de Campanha Vitória.
A saída de Zenaide Cristina Israel de Carvalho, 42 anos, da unidade foi emblemática.
Afinal, ela foi a última paciente a receber alta de covid-19 do Hospital Vitória, cuja desmobilização, como hospital de campanha, se encerra na sexta-feira (29).
Dessa forma, o hospital Vitória não recebe novos pacientes desde a última quinta-feira (20), por solicitação da United Health Group Brazil, a quem pertence o imóvel.
O grupo é responsável pela Amil, dona do hospital Ana Costa, em Santos.

Após 11 dias internada no Hospital Vitória e de ter vencido a Covid, Zenaide reencontrou os filhos e o marido. Foto: Rogério Bonfim/PMS-Divulgação
Zenaide
A janela, à direita da cama, no oitavo andar, foi a única ligação de Zenaide com o mundo externo.
Ela trabalha na recepção de outra unidade de Saúde em Santos e testou positivo para covid-19 no último dia 8.
Dessa forma, dores fortes e cansaço a levaram para uma unidade de pronto atendimento (UPA), onde um teste rápido confirmou o diagnóstico da doença.
Portanto, na fase inicial, foi liberada para voltar para casa.
Depois, a falta de ar forçou o retorno à UPA novamente.
Ou seja, de lá, foi encaminhada direto para o Hospital Vitória.
“Cheguei tarde de noite e já passei a tomar oxigênio. Agora, graças a Deus, estou aqui recebendo a minha alta”.

Zenaide Cristina Israel de Carvalho foi a última paciente a sair do Hospital Vitória, que será devolvido ao grupo empresarial proprietário. Foto: Rodrigo Bonfim-PMS/Divulgação
Sinal de positivo das enfermeiras
Assim, a sensação de alívio era enorme porque ela quase foi entubada.
Nervosa, não queria ter acesso aos boletins médicos.
Dessa forma, ela se guiava e mantinha a fé pelos sinais de “positivo” feitos pelas enfermeiras.
“Passei por momentos muito ruins. Mas todo o cuidado, carinho, afeto e afago que recebi aqui fizeram toda a diferença. Para uma pessoa como eu, totalmente ativa, que acordava às 5h para trabalhar, estar em uma cama de hospital era desesperador. Aqui só tem anjo”, diz.
Assim, a alta de Zenaide Cristina do Hospital Vitória contou com festa no corredor, feita pelos funcionários, e algumas lágrimas entre o grupo que se despediu dela.
“A grande lição que tiro daqui, depois desses dias, é ter mais paciência. E gratidão, a cada dia, por acordar viva e poder respirar. Saber esperar e amar ao próximo. Essas foram as grandes lições. Sou muito grata a todo cuidado que recebi aqui, toda atenção desde os gestos mais simples, como na hora do banho, na hora de passar pomada, esquentar a comida que eu deixava, quando não comia na hora que chegava”.
Família
No térreo da unidade, um trio a esperava para o abraço que faltava há 11 dias.
O marido José Luiz Carvalho e os filhos Luís Felipe Israel Carvalho e Luiza Israel Carvalho.
Assim, a mãe teve a oportunidade para finalmente parabenizar a filha, que fez 19 anos no último domingo.
José Luiz conta que o período sem a esposa foi “complicado demais”.
“Mas Deus é grande e é por isso que ela está aqui hoje. As enfermeiras foram maravilhosas. Hoje teremos um almoço especial”.
O abraço de Zenaide Cristina com a família foi feito sob aplausos da equipe do Hospital Vitória.
Assim, ela aproveitou para um breve discurso de agradecimento a todos que a atenderam.
“Que Deus abençoe grandemente a cada um de vocês”.
Do pico de atendimentos à desmobilização
Em outubro, o Hospital de Campanha Vitória registrou o menor índice de pacientes desde a sua abertura: do dia 1º a 20 deste mês (último dia de recebimento de pacientes), a média foi de 11 internados/dia pela covid-19.
O pico de internações no Vitória ocorreu em abril deste ano, com média de 74 pacientes/dia (1º/4 a 20/4), impactado pelo início da circulação de variantes do coronavírus em meados de março.
Assim, na última segunda-feira (26), o Hospital Vitória atendia cinco pacientes.
Dessa forma, o maior número de internações simultâneas no local, 85, foi registrado no dia 5 de abril de 2021.
Em 2020, a menor média de internados ocorreu em outubro (1º a 20/10/20), com 23 pacientes/dia e a máxima em dezembro (1º a 20/12/2020), com 39 internados/dia.
Desmobilização
Dessa forma, o imóvel onde funciona o Hospital de Campanha Vitória pertence à United Health Group Brasil, que gentilmente cedeu o espaço sem custos para a Prefeitura de Santos utilizar como hospital de campanha no enfrentamento à covid-19.
Portanto, o local estava sem uso e a cessão estava de acordo com a estratégia do Município em abrir leitos de campanha em equipamentos de saúde e não em locais públicos como estádios e ginásios.
Agora, um novo destino deve ser dado ao hospital pelo seu proprietário.
Adequações estruturais foram necessárias para que atendesse às necessidades de um hospital de campanha.
Houve investimento de R$ 4,9 milhões na estrutura física.
Além da rede de gases e na compra de equipamentos e leitos hospitalares.
E ainda: ventiladores mecânicos e monitores multiparâmetros.
Se optasse pela construção de um prédio similar ao Vitória, a Prefeitura de Santos teria um custo 30 vezes maior.
Dessa forma, hospital passou a receber pacientes em maio de 2020, sob gestão compartilhada entre a Prefeitura de Santos e o Instituto Social Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Ao todo, R$ 66.577.852,70 foram investidos no custeio, com recursos da Prefeitura e do Governo do Estado de São Paulo.
Ou seja, cada internação, em média, custou R$ 41,6 mil.
“O Hospital de Campanha Vitória foi fundamental para o enfrentamento da covid-19. Foi o nosso equipamento destinado 100% para o combate da doença e ajudou a salvar muitas vidas. Foram 1.600 pacientes assistidos e com muita qualidade. Seguimos analisando diariamente o comportamento da pandemia da covid-19 em nosso município e, se for necessário, temos total condição de reabrir leitos de campanha”, destaca o secretário de Saúde, Adriano Catapreta.
Leitos mantidos
Assim, a Prefeitura de Santos manterá leitos de campanha para o tratamento da covid-19 no Complexo Hospitalar dos Estivadores, na Santa Casa e na Beneficência Portuguesa.
Dessa forma, para uma eventual ampliação de leitos, além destes podem ser considerados outros estabelecimentos que também deram suporte hospitalar durante a pandemia.
Ou seja, são os casos do Complexo Hospitalar da Zona Noroeste, Hospital de Pequeno Porte, UPA Central e UPA Zona Leste.