Quando assumiu a função de ficar à frente da presidência do Condesb – Conselho de Desenvolvimento da Baixada Santista em 28 de janeiro do ano passado, o prefeito de Santos, Rogério Santos, não imaginava o que encontraria pela frente na missão que acabara de aceitar, com aval dos seus oito colegas prefeitos.
Afinal, naquele momento, a pandemia dava sinais de relativo controle e o início da vacinação era um alento para o combate ao Covid-19.
Ledo engano.
A partir de fevereiro, os números de infecções e mortes começaram a subir de forma progressiva.
Até chegarem ao ápice na segunda quinzena de março, com praticamente todos os leitos hospitalares ocupados pela Covid-19.
Não só no Brasil, mas também na Baixada Santista.
Afinal, os sinais do caos na rede hospitalar eram cada vez mais claros e críticos.
Uma entrevista coletiva envolvendo médicos, secretários de saúde e especialistas da rede hospitalar ocorrida na Secretaria de Saúde de Santos dias antes da decisão mais dura que tomou mostrava a apreensão do cenário de saúde regional em relação à falta de leitos (confira reportagem aqui) e impossibilidade de atendimento às pessoas.
Assim, no comando da entidade, Santos se reuniu com os demais prefeitos da região e propôs uma solução drástica.
Ou seja, acatar o pedido dos profissionais da saúde e gestores hospitalares.
E assim, realizar o lockdown nos nove municípios da Baixada Santista, onde residem mais de 1,8 milhão de pessoas.
Cidades, aliás, com características bem distintas.

Comércio e atividades consideradas não essenciais fecharam as portas durante lockdown realizado por 13 dias no ano passado. Foto: Divulgação
“Decisão mais difícil”
Assim, tudo – ou praticamente tudo que não fosse essencial – fechou entre os dias 23 de março e 4 de abril, totalizando 13 dias consecutivos (vide matéria)
“O lockdown foi a decisão mais difícil da minha vida”, lembra o prefeito, agora ex-coordenador do Condesb, bastão que passou para sua colega de Praia Grande, Raquel Chini. durante sessão realizada na terça.
(A vice-presidente do Condesb será Juliana Ogawa, do gabinete da Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano).
“Era um dilema entre saúde e economia. Sei que gerou desemprego, com fechamento de comércios, mas a atitude salvou vidas”, lembra Santos enfatizando a colaboração dos demais oito prefeitos da região que também aprovaram a medida.
Durante a entrevista, Santos usou duas vezes a palavra ‘solidão’ para expressar momentos que o levaram a tomar a decisão e propor junto com seus pares o que seria feito, seja à frente do Condesb – representando todos os governantes municipais da região – ou como prefeito diante daquele momento.
Afinal, protestos de comerciantes contrários à decisão ocorreram na cidade, inclusive em frente à sua residência.
Comércios fecharam e muitos comerciantes, que já cambaleavam, simplesmente sucumbiram.
Outro cenário
Ainda que a pandemia não tenha acabado, a fase crítica, ao que tudo indica, já passou.
“Mas estamos monitorando diariamente”, salienta.
Assim, assegura, a Cidade já estará preparada para iniciar a vacinação da quarta dose, como ocorre em alguns países, como no Chile e Canadá.
“Estamos preparados para a quarta, quinta… Enfim, quantas doses forem necessárias”.
Depois dos indicadores terem subido em janeiro – com aumento de mortes e elevação do percentual de internações pela Covid – chegando a quase 80% em razão da variante Ômicron, o cenário parece ter se estabilizado em Santos.
Na quarta (23), a taxa geral de ocupação dos 299 leitos Covid-19 estava em 27%.
Já os 152 leitos de UTI tem ocupação de 30%, sendo 26% na rede SUS e 33% na rede privada.
“Esta diminuição de casos nos dá um certo alento”, diz.
“Pelo menos, no momento, não temos qualquer novidade de nova variante no horizonte”, enfatiza.
Ele aguarda a posição do governo do Estado em relação à liberação do uso das máscaras.
Além das ações para a retomada da atividade econômica para as próximas semanas.

Após 1 ano de mandato à frente do Condesb, o prefeito de Santos, Rogério Santos, relembrou o momento mais difícil e solitário que já passou em razão do lockdown realizado na região entre 23 de março a 4 de abril do ano passado. Foto: Nando Santos
Economia
Aliás, fortalecer a economia, com geração de empregos, será a nova missão que o Condesb terá que priorizar ao longo deste ano.
Dessa forma, durante o encontro, o governo paulista apresentou o Plano Estadual das Ferrovias, com melhor aproveitamento da malha ferroviária, inclusive a volta da linha entre Baixada Santista e Miracatu, no Vale do Ribeira.
Além do projeto da Linha Verde, ligando a Grande São Paulo à região.
Aliás, incluindo a possibilidade de uma nova pista unindo tanto o transporte rodoviário como ferroviário.
Assim, Santos aposta em frentes que serão importantes para a recuperação econômica regional pós-pandemia.
Além disso, cita a entrada em funcionamento do aeroporto metropolitano em Guarujá e o fortalecimento das atividades no aeroporto de Itanhaém, no litoral sul paulista.
Além do apoio ao projeto Andaraguá, que além de terminais e implantação de empresas terá um aeroporto para cargas.
Não bastasse, a definição sobre a destinação regional dos resíduos sólidos.
E ainda: investimentos federais e estaduais tanto nas balsas entre Santos e Guarujá e na proposta de desestatização do porto santista.
Encontro
Na semana retrasada, Santos se reuniu com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.
Ele esteve na Cidade onde participou da audiência pública sobre o processo de desestatização do cais santista na Associação Comercial de Santos.
Na ocasião, ficou acertada que a construção do túnel ligando as zonas leste e noroeste será incluída no processo de privatização do cais santista.
A exemplo do que já ocorre no túnel entre Santos e Guarujá.
Resta saber, porém, se haverá tempo hábil para que a privatização ocorra até o final do ano, como pretendem as autoridades do setor portuário.
Afinal, em ano eleitoral, tal cenário parece improvável, conforme confirmam até empresários do segmento e políticos.