Com situação preocupante, profissionais da Saúde pedem lockdown na Baixada | Boqnews

Triste realidade

18 DE MARÇO DE 2021

Siga-nos no Google Notícias!

Com situação preocupante, profissionais da Saúde pedem lockdown na Baixada

Médicos e gestores públicos e privados demonstraram preocupação com o crescimento exponencial de pacientes para serem internados em unidades de Santos.

Por: Fernando De Maria

array(1) {
  ["tipo"]=>
  int(27)
}

Lockdown, com paralisação total dos serviços nas nove cidades da Baixada Santista.

Esta foi a palavra mais comentada por médicos, gestores públicos e de hospitais durante a coletiva realizada hoje na sede da Secretaria Municipal de Saúde.

No entanto, por enquanto, esta possibilidade ainda não será colocada em prática, conforme acordado entre os prefeitos da Baixada Santista, que se reuniram, por videoconferência, na tarde de hoje.

Contrariando informações divulgadas em grupos de whatsapp.

Um novo encontro está marcado para amanhã (19), às 16 horas.

Porém,  se aprovada, a decisão será uma questão de tempo.

E ele urge.

Afinal, motivos para este cenário mais rígido não faltam: assim como outras regiões do Estado, a Baixada Santista está prestes a sofrer um colapso na rede hospitalar.

“O cenário é preocupante”, enfatizou o secretário de Saúde de Santos, o médico Adriano Catapreta.

A taxa de isolamento em Santos é inferior à média do Estado.

 

Secretário Catapreta (com microfone): situação em se agravado com uma velocidade preocupante. Fotos: Nando Santos

Quem escolher?

A situação atual é tão crítica em relação à falta de leitos tanto em hospitais públicos como particulares que médicos estão tendo que escolher quem ocupará a vaga em um leito, especialmente de UTIs – Unidade de Terapia Intensiva.

Para se ter ideia, em duas semanas, o total de internados em leitos de UTIs em hospitais públicos e privados apenas em Santos cresceu de 172 para 242 – alta de 40,7% – quando o secretário apresentou os números à Imprensa, no início da tarde de hoje.

E pior, os números só crescem.

Horas depois, o boletim Coronavírus da prefeitura santista já apresentava uma pequena elevação. Agora são 253 pessoas internadas nas UTIs.

Para se ter ideia da gravidade, no ano passado, o pico de internados em UTIs ocorreu em 23 de maio, com 186 internados.

Catapreta aponta que o País vive o “pior momento da pandemia”.

 

Médicos Stanislau e Caseiro concedem entrevista à Imprensa e reforçam necessidade do lockdown. Foto: Nando Santos

 

Motivos

Alguns fatores ajudam a entender este cenário.

O tempo médio de um paciente internado Covid chega a 21 dias, três vezes mais que um paciente hospitalizado, mas de outra doença.

“Não há rotatividade de leitos”, justifica os motivos do colapso do sistema.

O secretário reconhece que a decisão do lockdown só surtirá efeito se todos os municípios da região estiveram unidos.

“Precisamos dos apoios dos demais cidades e de conscientizar a população da real situação”, enfatizou Catapreta (vídeo abaixo).

Ele informou que a prefeitura está adquirindo mais 60 respiradores para ampliação de leitos, inclusive na UPA da Zona Leste.

“Mas será que teremos profissionais para tudo isso?”, indaga, revelando um outro desafio: a busca por profissionais especializados no atendimento a pacientes internados em UTIs, como médicos, fisioterapeutas e enfermeiros.

“Nossa preocupação é que as pessoas não consigam atendimento para serem tratadas. Vivemos a maior crise sanitária que passamos neste País”, salientou Catapreta.

 

 

1.157 óbitos

Hoje, Santos atingiu 1.157 óbitos – em quase um ano desde o início da primeira morte – média próxima a 100/mês.

De forma técnica, os médicos infectologistas Marcos Caseiro e Evaldo Stanislau defenderam o lockdown como única forma de evitar o colapso no sistema hospitalar.

“Há enorme contingente ainda de pessoas não infectadas, ou seja, é um erro achar que a maioria já teve contato com o vírus, ainda que de forma leve”, salientou Caseiro (vídeo abaixo).

 

 

Já Stanislau  (vídeo abaixo) acrescentou que as novas cepas impactam a potencialidade de transmissão, inclusive de reinfecção entre aqueles que já tiveram a doença anteriormente.

“Teremos que fazer uma série de lockdowns até que a população esteja totalmente vacinada”, alerta.

A previsão do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, é que a população brasileira esteja vacinada até o final do ano.

Outro ex-ministro, Arthur Chioro, é mais cético.

Em entrevista ao Jornal Enfoque – Manhã de Notícias, o médico falou que pelo ritmo atual de compras do Ministério da Saúde, esta meta só será atingida no segundo semestre de 2022.

 

 

 

Escolhendo quem vive ou morre

“Já estamos escolhendo quem vai viver ou morrer”, enfatiza o chefe da Atenção Pré-Hospitalar e Hospitalar da Secretaria de Saúde de Santos, Luiz Carlos Espíndola.

“Sem dúvida, vivemos o pior momento da pandemia, ainda mais grave que a fase mais grave, que foi de março a maio do ano passado”, lembra

Ele explica que não é raro dois pacientes sofrerem paradas cardíacas em pontos diferentes da cidade ao mesmo tempo.

“Como faltam leitos, precisamos decidir qual paciente iremos atender primeiro”, relata o profissional, lembrando que está aumentando a ocorrência deste tipo de situação em pacientes entre 40 a 50 anos.

“Muitas destas paradas cardíacas podem estar relacionadas à Covid”, acrescenta.

Estudos mostram que o vírus gera inflamação no coração e pode provocar infarto, inclusive em pessoas mais jovens.

Para se ter ideia, o boletim do Hospital Santa Casa de hoje informa a morte de um paciente de 50 anos pela doença.

A posição de Espíndola é reforçada pelo presidente regional Santos da Associação Paulista de Medicina, Antônio Leal.

“Estamos com a sensação de impossibilidade, impotência e exaustão. Afinal, já faltam insumos, vagas e, principalmente, falta de civismo”, definiu o profissional.

“É duro, drástico, mas não tem outra forma (o lockdown)”.

Médicos e gestores de hospitais relataram os dramas que estão vivenciando nos hospitais públicos e particulares: faltam leitos, medicamentos, os profissionais estão exauridos e agora há risco de colapso no abastecimento de oxigênio hospitalar. Foto: Nando Santos

 

Hospitais particulares

Representantes de hospitais como a Casa de Saúde, Santo Expedito e São Lucas informaram que suas unidades não têm mais leitos disponíveis.

“Estamos com 100% de ocupação nas UTIs e enfermaria nas unidades de Santos e Praia Grande”, relatou Luis Roberto Fernandez,  diretor clínico da Casa de Saúde de Santos.

Não bastasse, há dificuldades para encontrar medicamentos usados nos leitos de UTIs, especialmente para pacientes Covid-19.

E quando encontram, a alta de preços chega a 1000%.

A velha lei da oferta e procura. E da exploração comercial.

“Temos três pacientes no PS sem saber o que fazer. Vivemos cenas dantescas. Estamos para inaugurar um novo um prédio (no Boqueirão, em Santos), mas não encontramos respiradores”, salientou.

Além disso, ele reforça que o tempo de permanência nos leitos tem sido maior, em razão das novas variantes, mais contagiosas.

“Além disso, a idade dos pacientes tem caído cada vez mais”.

 

Pior período

Situação idêntica ao do hospital São Lucas.

“Após um ano, enfrentamos uma situação pior que no início da pandemia. Nunca vivi momento como este para controlar uma doença”, relata Marco Cavalheiro, diretor clínico do Hospital São Lucas.

As mensagens por pedido de vagas viraram uma constante em seu celular.

“Somente durante a coletiva recebi 12 pedidos”, relatou.

Não bastasse, há o temor de todos os representantes dos hospitais dos riscos na interrupção do oxigênio, além de medicamentos usados para combater o vírus na fase mais crítica.

“Trata-se de uma doença individual, onde cada paciente reage de uma maneira distinta”, salienta o médico, que sintetizou o drama ao relatar um problema particular.

Seu irmão está com febre há dois dias.

“Se ele precisar, não terei vaga no hospital onde eu trabalho”, sintetizou ao demonstrar a gravidade da situação.

 

Profissionais exauridos

 

Drama semelhante ao do Hospital Santo Expedito, no Campo Grande.

“Não temos mais leitos e nosso estoque de medicamentos está com os dias contados. Os profissionais estão exauridos”, reconheceu o diretor Cardec Rufino.

Situação também comum aos hospitais filantrópicos como a Santa Casa e a Beneficência Portuguesa.

Neste último, faltavam respiradores, como falou, com exclusividade, o provedor do hospital, Ademir Pestana, durante entrevista ao Jornal Enfoque – Manhã de Notícias, na segunda (15).

 

 

Maior hospital da região, a Santa Casa também tem enfrentado dificuldades para atendimento crescente da demanda, como explica o vice-provedor Carlos Teixeira Filho.

“Estamos ampliando leitos dentro das nossas possibilidades. Nós estamos nos avizinhando com problemas com medicamentos e profissionais”, alerta.

“Temos espaço físico, mas poderemos não ter mão-de-obra para dar o atendimento necessário”, complementa.

“Estamos chegando no limite. De leitos, de medicamentos e profissionais”.

 

Planos de saúde

Nem os planos de saúde estão encontrando alternativas para internar seus clientes em hospitais conveniados.

“Temos pacientes em Santos e Praia Grande que estão aguardando vagas. Tentamos já hospitais de São Paulo, sem sucesso”, explica o diretor do Núcleo Governança Clínica da Unimed, José Roberto Del Sant.

Indagado sobre um hospital de campanha que seria instalado no ano passado no interior da unidade localizada na Vila Belmiro, ele informou que o espaço foi reformulado em razão do novo Centro Médico, inaugurado este ano.

“Vamos remanejar na segunda (22) o atendimento pediátrico para outro local em razão do aumento da demanda de outros pacientes”, explicou.

Ele reconhece que os 13 leitos disponíveis no novo centro médico poderão ser utilizados, se necessário, para atendimento a pacientes Covid-19.

“Mas como um local de transição do paciente. Não como UTI. Ele não está preparado para tal”, justifica.

Sem citar o nome do plano, o secretário de Saúde, Adriano Catapreta, confirmou que hoje a rede pública de Santos internou um paciente a pedido de um plano privado de saúde, que não encontrava vaga na rede privada.

E salientou que, ao contrário do que muitos falam, a cidade tem recebido pacientes de outras localidades fora da Baixada Santista, mas que os pacientes ocupam vagas do Estado, como as existentes no Hospital Guilherme Álvaro, que também convive com sua capacidade de atendimento no limite.

 

Gestores da Santa Casa, Cacá Teixeira, e Ademir Pestana, da Beneficência Portuguesa, demonstraram a preocupação com o risco da falta de leitos, medicamentos e de profissionais. Foto: Nando Santos

 

Condesb

À tarde, os prefeitos da Baixada Santista estiveram reunidos para definir ações a serem realizadas.

Por enquanto, o lockdown foi descartado.

Em nota, “o Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista (Condesb), que reúne as nove cidades da região, esteve reunido na tarde desta quinta-feira (18) por videoconferência”.

“As cidades analisam a adoção conjunta de medidas mais restritivas em virtude do avanço exponencial da pandemia em todo o estado e na Baixada Santista”.

“Os municípios também reiteraram o pedido ao Governo do Estado de São Paulo para a realização de barreiras orientativas nas estradas de acesso à região, reforço no policiamento e manutenção do cancelamento da operação descida”.

“Os prefeitos expressaram, ainda, preocupação quanto à antecipação de feriados na cidade de São Paulo e os reflexos destra ação na Baixada”.

São Paulo antecipou os feriados a partir do próximo final de semana, que serão emendados até a Páscoa, na primeira semana de abril.

Um novo encontro acontece nesta sexta (19), às 16 horas.

 

Lista de profissionais e gestores da saúde presentes à reunião 

Além do secretário de Saúde, participaram da coletiva os médicos infectologistas Marcos Caseiro e Evaldo Stanislau, representando a Sociedade Paulista de Infectologia.

E ainda: José Roberto Del Sant – diretor do Núcleo Governança Clínica da Unimed; Erminda Pongiluppi Aluani – diretora Complexo Hospitalar dos Estivadores e Hospital Vitória; Mônica Mazzurama – diretora técnica  do Hospital Guilherme Álvaro;

Além de Carlos Teixeira Filho – vice-provedor da Santa Casa de Santos; Ademir Pestana – presidente da Beneficência Portuguesa de Santos; Marco Cavalheiro – diretor clínico do Hospital São Lucas; Luis Roberto Fernandez – diretor clínico da Casa de Saúde de Santos; Cardec Rufino  – diretor do  Hospital Santo Expedito

E também: Antônio Leal – presidente regional Santos da Associação Paulista de Medicina; Luis Carlos Spindola –  diretor do Departamento de Atenção Pré-hospitalar e Hospitalar da Secretaria Municipal de Saúde e Fábio Santos dos Santos – diretor do Hospital Frei Galvão.

 

Confira parte da coletiva de hoje

https://www.facebook.com/JornalBoqnews/videos/472068403849492

 

 

Notícias relacionadas

ENFOQUE JORNAL E EDITORA © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

desenvolvido por:
Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.