Desde o último dia 23, Santos entrou na lista dos municípios que liberaram o uso de máscaras em unidades de saúde.
Dessa forma, a medida contraria até a indicação da Secretaria de Saúde do Estado, que trata do uso obrigatório em unidades de saúde públicas ou privadas.
Não bastasse, a própria Anvisa publicou nesta sexta (31) uma nova recomendação sobre o uso dos equipamentos. (veja abaixo)
A retirada da obrigatoriedade ocorreu seis meses após entrar em vigor o Decreto 9.810, assinado pelo prefeito Rogério Santos (PSDB).
O decreto obrigava o uso obrigatório de máscara facial não profissional para atendimento em unidades de saúde.
A revogação provocou indignação de especialistas, que ressaltam os riscos de contaminação em unidades onde a proliferação de vírus é constante.
Hospitais e ambulatórios se adequam à liberação, apesar de muitos profissionais da saúde questionarem a medida, que os coloca em risco, assim como os próprios pacientes e acompanhantes.
Em nota, a Prefeitura santista alega que a medida “considerou a ampla vacinação contra a covid-19: 86,8% da população vacinável tem as duas doses iniciais de vacina contra a covid-19 e 72,7% o primeiro reforço”.
“Importante lembrar que os públicos-alvo para a vacina bivalente precisam ter ao menos 2 doses anteriores para ter acesso à vacina de segunda geração”.
“Imunossuprimidos devem ter 3 doses. Salientamos, ainda, que as policlínicas abrem diariamente, inclusive aos finais de semana, para vacinação”.
Além disso, complementa a nota oficial, há o fornecimento de máscaras às unidades de saúde para funcionários que desejarem manter o uso durante o período de trabalho.
Nada consta, no entanto, para pacientes que queiram usar o acessório, mas não o dispõem na hora do atendimento.
Mesmo raciocínio
Mesma linha de raciocínio da Prefeitura de Peruíbe, que aponta a elevada taxa de vacinação como justificativa para a liberação.
Em nota, a Administração informa que as quedas de 96,9% de óbitos e de 92% de internações pela doença, em comparação ao mesmo período do ano anterior, contribuíram para a retirada da obrigatoriedade.
“Além disso, também considerou o avanço na vacinação, com 99,41% da população com esquema completo, e segue aplicando a vacina bivalente para os grupos elegíveis”.
“Entretanto, o uso continua sendo recomendado nestes locais como auxílio no combate à disseminação da covid-19 e outras doenças”, reconhece.
Ou seja, desobriga, mas reconhece a necessidade, tornando-se o entendimento dúbio.
Dessa maneira, mesma situação ocorre em Guarujá, que também desobrigou o uso de máscaras nas unidades de saúde.
No entanto, “há a recomendação do uso de máscaras de proteção facial para grupos de risco da covid-19”.
Ou seja, idosos, pessoas com comorbidades, imunocomprometidas ou que apresentem sintomas gripais.
“A decisão leva em conta os baixos índices de casos, internações e mortalidade da doença no Município, além do avanço da imunização contra a covid-19 e demais medidas de enfrentamento à pandemia”, informa em nota.
Dessa forma, libera, mas também recomenda simultaneamente, deixando os pacientes em dúvida.
Nem todas aderem
Pelo menos três cidades que responderam à Reportagem não aderiram à medida tomada por Santos.
Casos de Praia Grande, Itanhaém e Cubatão, que obriga o uso em todos os espaços destinados à Saúde (PS, UBS, Policlínica).
Não bastasse, Praia Grande vai além.
Também determina o uso do equipamento no transporte público.
E isso inclui os dois Terminais Rodoviários, Tatico e Tude Bastos.

Dessa forma, a Santa Casa segue a recomendação do Município, mas mantendo a obrigatoriedade em setores considerados críticos. Foto: Divulgação
Hospitais
Em razão da desobrigatoriedade, conforme o decreto municipal, hospitais também se adequam à nova determinação.
Na Santa Casa, o uso de máscaras permanece obrigatório em unidades críticas, como os centros Cirúrgico e Obstétrico, além das UTIs.
Assim, caso ocorram novas determinação do Estado, Município ou Comitê Interno de Biossegurança, as orientações passarão por reavaliação, informa a Assessoria de Comunicação do hospital.
Na Beneficência Portuguesa, a liberação ocorre também apenas em parte das setores, como na Ala da Administração.
Dessa forma, as alas de risco de contaminação, como isolamento e centro cirúrgico, não sofreram mudanças.
Assim, o uso em outros setores, como o PS, fica a critério do paciente.
Conforme a assessoria de imprensa da Beneficência, o PS do hospital registra aumento nos casos de síndromes respiratórias, com sintomas brandos, não justificando a solicitação de internação.
Em nota, a Unimed – que conta com um complexo de saúde na Vila Mathias – emitiu a seguinte nota, via Assessoria de Comunicação.
“Mesmo com a desobrigação do uso de máscaras em estabelecimentos que prestem serviço de saúde, a Unimed de Santos procederá com cautela, mantendo em alguns setores e determinados processos o uso de máscaras”.
Por sua vez, a ação terá reavaliação em 30 dias.

Médico infectologista Evaldo Stanislau critica as prefeituras que derrubaram a obrigatoriedade do uso de máscaras em unidades de saúde. “É um equívoco do começo ao fim este tipo de medida”. Foto: Jornal Enfoque/Arquivo
Medida equivocada
Com larga experiência como médico e professor universitário, o infectologista Evaldo Stanislau critica a liberação da obrigatoriedade do uso das máscaras.
“É uma medida equivocada”, lamenta.
Além disso, ele esclarece que independente da Covid-19, os ambientes da área de saúde são frequentados por pessoas que apresentam algum sintoma e procuram estes locais em busca de diagnóstico ou tratamento.
“Esta clientela já é de maior risco. E existem também os acompanhantes, além dos profissionais de saúde que estão continuamente expostos neste ambiente”, enfatiza.
Stanislau descontrói a teoria dos que defendem o fim do uso do equipamento no ambiente de saúde alegando queda nos números e mortes da Covid-19.
Dessa forma, na última semana, o Brasil ultrapassou a marca de 700 mil vítimas, consolidando-o na triste vice-liderança global da doença.
“Quem garante que neste momento não existem outros patógenos respiratórios começando a circular ou novas variantes?”, indaga.
Conforme ele, os dados sobre a diminuição da circulação da Covid são “frágeis”, pois não há testagem.
“Muitos apresentam problemas respiratórios e quando a gente faz o teste, os resultados são positivos”, enfatiza.
Não bastasse, lembra o médico, existem outros patógenos de transmissão aérea, como a gripe e tuberculose.
“As autoridades se equivocam redondamente. O ambiente de saúde não merece menos cuidado, mas mais cuidado”, ressalta.
Lições da Covid
“E isso é aproveitar a lição da Covid e adotar uma medida simples e barata, que impediria a circulação não só do vírus da Covid, mas de outros patógenos também”, salienta.
Assim, Evaldo ressalta que o elevado índice de vacinação, alegado pelas prefeituras, também não justifica o fim da obrigatoriedade.
“A vacina não evita a infecção, mas formas graves da doença”, enfatiza.
Não bastasse, a proteção da vacina não é eterna.
“Se a pessoa não tomar as doses de reforço, a proteção imunológica cairá, aumentando o risco com mais pessoas frequentando ambientes de saúde sem máscaras.
“É um equívoco do começo ao fim este tipo de medida”, lamenta o profissional.
Sem resposta
As demais cidades da região não citadas na Reportagem não responderam até a conclusão deste texto.
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