Violência, uma palavra que tem ganho cada vez mais espaço no cotidiano das pessoas.
Neste domingo (25), denominado Domingo de Ramos pela Igreja Católica, celebra-se não só o início da Semana Santa, mas também a data quando todas as paróquias brasileiras recebem doações dos fiéis para ajudar no estímulo a projetos sociais, cujo tema leva em consideração a campanha da fraternidade.
Neste ano, o lema é propício e atual: Fraternidade e superação da violência – Em Cristo somos todos irmãos.
Entende-se, aliás, o termo violência como qualquer ação que prejudique alguém.
Não só crimes físicos, mas também verbais, psicológicos, sexuais e, agora, mais recentemente, os virtuais, onde as redes sociais se transformaram em um front de verborragia, ódio e acusações sem fim.
Vide caso da vereadora carioca assassinada Marielle Franco, vítima duplamente da violência: do homicídio em si e do ódio destilado nas redes sociais, com suspeitas já desmentidas.
Paróquias
Assim, neste domingo (25), 47 paróquias da Baixada Santista coletarão recursos para financiar projetos voltados ao combate a toda forma de violência.
Do valor arrecadado, 60% será usado para financiamento de projetos da região e outros 40% para o Fundo Nacional de Solidariedade, da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
“São ações que contribuem para melhorar o cotidiano das comunidades”, destaca a coordenadora diocesana, Marcia Prol que, ao lado do marido, Carlos Henrique, ajuda na coleta das propostas a serem analisadas posteriormente por integrantes da Diocese.
Em 2016, quatro projetos da região foram selecionados sob o tema Ecumenismo. Em 2017, foram 11 sobre Meio Ambiente. “Este ano, a expectativa é que recebamos ainda mais projetos”.
O edital será publicado no jornal Presença Diocesana e as informações no site da Diocese de Santos.
Este ano, propostas aprovadas no ano passado estarão sendo colocados em prática.
Neste sábado (24), às 9 horas, 33 mudas da Mata Atlântica serão plantadas na Ponta da Praia, iniciativa da paróquia Nossa Senhora do Carmo.
Já a proposta de coleta de óleo iniciada com oito famílias na Zona Noroeste atingiu 3 mil famílias que ajudam ao meio ambiente e garantem renda extra.
“Os recursos arrecadados neste domingo (25) servirão para propostas voltadas à temática deste ano”, destaca.
Sociedade doente
O antropólogo e professor universitário Darrell Champlin enfatiza que a sociedade vive momentos difíceis.
Ele salienta o poder da tecnologia como impulsionador de novas práticas de intolerância e violência.
“As pessoas se escondem atrás do anonimato nas redes sociais. E mesmo quem se identifica não esconde o discurso do ódio”, explica.
A tecnologia é uma salvaguarda para tomar atitudes que dificilmente seriam feitas de forma isolada ou pessoalmente.
“Há o instinto de manada. Quando estão em grupo as pessoas agem, muitas vezes, de forma distinta se estivessem a sós”.
O antropólogo também destaca os efeitos negativos do mau uso da tecnologia.
“As pessoas estão vivendo enclausuradas no espaço eletrônico, ficando presas dentro de casa em frente a computadores ou celulares”.
Como resultado, o profissional destaca outro problema da era moderna: o crescimento dos suicídios.
“São 800 mil no mundo por ano”, salienta. Um a cada 45 segundos.
Champlin, americano de nascimento, explica que o estágio atual da violência é multifacetado, ou seja, está atrelado a vários motivos.
Mas no Brasil, em especial, ele se acentua por absoluta ausência de punição.
“Dá a impressão que é possível fazer o que bem entender, pois não haverá punição. Infelizmente, os maus exemplos vêm de cima”.
Ele cita casos de políticos condenados em instâncias superiores que aguardam por décadas até efetivamente cumprirem pena, como o caso do ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf.
Já nos Estados Unidos “que também tem seus problemas”, ressalta, a tolerância é pequena para quem comete contravenções.
“O cidadão tem total liberdade. Mas se pisar na bola, é preso”.
Ele também ressalta que o crescimento da violência – sob todas as formas – “está exacerbado no Brasil, mas não é exclusivo do País”.
Estudo
A forma como o brasileiro encara a violência faz parte do amplo estudo desenvolvido pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP, que em 1999 e 2010 realizou levantamentos em 11 capitais de estado comparando os resultados.
Denominado Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar sobre Atitudes, Normas Culturais e Valores em Relação à Violação de Direitos Humanos e Violência, o estudo detalha o quanto o tema – das mais variadas formas – faz parte do cotidiano dos brasileiros (confira exemplos no quadro).
Este e outros materiais sobre o assunto estão disponíveis em site nevusp.org.