Junho de 2024 foi o mês mais quente da história, superando o recorde de 2023, anunciou o observatório europeu Copernicus.
Todos os meses seguintes a junho de 202 bateram recordes de temperatura. Significa isso que o mundo está numa sequência de treze meses de calor histórico.
A temperatura média global dos últimos doze meses – de julho de 202 a junho de 2024 – é a maior já registrada. Não por acaso, na Arábia Saudita, mais de mil e trezentas pessoas morreram durante a peregrinação a Meca.
Chuvas torrenciais atingiram não apenas o Rio Grande do Sul, mas a China, Quênia, Afeganistão, Rússia e França.
No início de julho, o furacão Beryl devastou ilhas do Caribe e se tornou o furacão de categoria cinco no Atlântico, mais precoce já registrado.
O mar também se aqueceu. A temperatura dos oceanos chegou a novos máximos no Atlântico, Pacífico Norte e Índico.
Foram quinze meses consecutivos de novos máximos.
Algo impactante, impressionante e preocupante.
Enquanto isso, as geleiras do Alasca mostram degelo irreversível.
O derretimento dos glaciares provocado pelas mudanças climáticas é fator de aumento do nível do mar e acelera a ameaça às cidades costeiras de todo o planeta.
Esses fatos cientificamente provados deveriam alarmar todas as pessoas que têm algum discernimento.
Mas, principalmente, aquelas que têm responsabilidade maior.
Ou seja: dispuseram-se a cuidar da coisa pública.
Vivem com remuneração gerada por tributos, numa das nações em que a carga imposta sobre os contribuintes é uma das mais excessivas de todo o planeta.
Aos poucos, a população se conscientiza de que as mudanças climáticas deixaram o espaço da ficção e se tornaram crua realidade.
Tanto que se fala em “emergência climática” e não mais em meras mudanças.
Deveria alertar os políticos a pesquisa da Quaest, realizada entre 5 e 6 de maio, na qual 99% dos brasileiros associaram as mudanças climáticas com as enchentes no sul.
Para 70% dos entrevistados, a tragédia poderia ter sido evitada.
A busca por culpados nas redes sociais se intensificou.
Os alvos preferenciais da raiva e da revolta da população, adivinhem: 33% governo federal e 18% governador e políticos do Rio Grande do Sul.
Justifica-se a indignação do povo. São ausentes ou escassas as respostas aos alertas de risco feito no passado. São parcos os recursos destinados à emergência climática.
Para os brasileiros que se manifestaram, os políticos são os grandes responsáveis pela tragédia anunciada.
Tragédia que pode se repetir em qualquer outro lugar.
Se os políticos continuarem a ignorar a angústia da população e continuarem a pouco ou nada fazerem para prevenir, amenizar e se preparar para as catástrofes vindouras, talvez tenhamos de nos preparar para manifestações mais intensas do que aquelas ocorridas em 2013.
Só que, desta vez, não serão apenas estudantes e o pretexto não será o aumento de dez centavos no custo dos ônibus.
O motivo é muito mais sério. Interessa a todos.
Por isso mesmo, as providências para mostrar que a cidade está pronta para receber os desabrigados, para poupá-los do desconforto do calor extremo ou da chuva incessante, para alimentá-los, vaciná-los, vesti-los, enfim acolhê-los, devem ser tomadas ontem.
Isso vale para todos os 5570 municípios brasileiros e, principalmente, para os 645 municípios paulistas.
O que é que cada política local está fazendo para melhor enfrentar aquilo que virá?
José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.
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