Apelo desvirtuado | Boqnews

Opiniões

29 DE MARÇO DE 2012

Apelo desvirtuado

Por: Fernando De Maria

array(1) {
  ["tipo"]=>
  int(27)
}

A partir de quarta-feira (4) os supermercados paulistas não precisarão mais entregar gratuitamente as sacolas plásticas aos consumidores. Na prática, vários varejistas já haviam abolido as mesmas. Escondidas, apenas com muita reclamação eram entregues aos clientes. Até estabelecimentos de diretores da Associação Paulista de Supermercados – APAS descumpriram o TAC – Termo de  Compromisso de Ajustamento de Conduta firmado junto ao Ministério Público (MP).


Pelo acordo, as sacolas retornáveis deverão ser vendidas à população tendo as dimensões das atuais sacolas plásticas. Os supermercados que não aderirem  poderão ser acionados pelo MP.


Alguns pontos divergentes, no entanto, chamam a atenção da campanha Vamos Tirar o Planeta do Sufoco. O setor nega, mas fica claro que o objetivo é  mais econômico que ambiental.


Estima-se que o setor economizará R$ 70 milhões anuais para a confecção das ‘vilãs’ sacolas plásticas. Agora, ao invés das biodegradáveis serem comercializadas a R$ 0,19, serão oferecidas outras de TNT, ráfia, nylon ou polietileno a até R$ 0,59. A questão é: será difícil encontrar algum fornecedor que comercialize sacolas com durabilidade a tais preços. Um modelo de TNT, por exemplo, custará  ao comerciante algo em torno de R$ 2,40 a unidade. Como será vendido  pelos supermercados quase quatro vezes mais barato?


Além disso, alguns dos produtos sugeridos pela entidade aos supermercadistas confeccionarem suas sacolas reutilizáveis são tão danosos ao meio ambiente quanto as tradicionais sacolas plásticas. O nylon, por exemplo, é uma fibra sintética com forte impacto ambiental, cuja degradação pode chegar a 400 anos! E o polietileno é um derivado do plástico! Sem comentários…


Ora, se a APAS quer realmente lançar desafios para alertar à população sobre os perigos das sacolas plásticas por que não deixam de vender produtos com embalagens prejudiciais ao meio ambiente. Pressionem a indústria a também se adequar à realidade ambiental. Afinal, basta percorrer as prateleiras e perceber o volume de produtos que abusam de materiais para se tornarem mais atraentes ao consumidor.


Sem uma ação educativa e de conscientização ambiental coletiva, tendo os próprios supermercados como aliados para alertar sobre a importância da reciclagem  oferecendo também pontos para descarte de materiais reciclados, a decisão reforça a sensação de se tratar  mais de uma ação mercadológica que ambiental.


Mesmo com a campanha em vigor há mais de dois meses, o setor de  coleta de lixo da Terracom, que opera nas principais cidades da região, não registrou alteração no volume de sacolas que chegam aos caminhões de coleta, porque os resíduos estão sendo colocados em outras sacolas plásticas.


Portanto, uma ideia boa poderia ser melhor aproveitada se outras ações realmente ambientais saíssem do papel. Afinal, as ideias também precisam ser recicladas. E muito.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Notícias relacionadas

ENFOQUE JORNAL E EDITORA © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

desenvolvido por:
Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.