O recado das ruas, dado em alto e bom som pelos milhares de manifestantes que ocuparam praças e avenidas das principais cidades brasileiras, não deixou dúvidas em relação ao elevado grau de insatisfação que permeia a sociedade brasileira, especialmente no que diz respeito aos atos de corrupção protagonizados por políticos e à forma de condução da política econômica defendida pelo Governo Federal. Mais do que frustração e desânimo com o atual cenário de acontecimentos perniciosos à sociedade brasileira, o quadro de pessimismo instaurado oferece um perigo ainda maior porque pode aprofundar uma crise prenunciada a partir das medidas impostas à população por meio da elevação de tarifas públicas e aumento de tributos.
A falta de confiança nos rumos do País já revela-se evidenciada na recente pesquisa elaborada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), dando conta que, nos últimos 12 anos, o pessimismo traça uma curva crescente e contínua em todos os segmentos da atividade industrial. A descrença na capacidade do Governo reverter a situação atual, associada ao descrédito com a classe política que ocupa os diversos níveis de representação institucional, colocam em risco a continuidade de projetos e serviços fundamentais, visto que reduzem drasticamente o interesse de participação de investimentos externos e comprometem a capacidade de arrecadação própria das administrações.
Nesse sentido, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), que alicerça a proposta desenvolvimentista do atual governo, permanecerá em estado de profunda inércia. A escassez de recursos ora admitida, porém omitida no período eleitoral, já não camufla a incompetência demonstrada até aqui na execução dos projetos propostos. Isso porque, a conotação política dada ao PAC em nada contribuiu para o seu sucesso. Ao contrário, apenas deu margem a desvirtuamentos e politicagens que, pelo que se viu até aqui, poucos benefícios geraram à população diante das expressivas somas de verbas públicas empregadas.
Inegavelmente, o Brasil necessita de um conjunto de ações permamentes voltadas a dotar o País com as condições estruturais que favorecem seu desenvolvimento social e econômico, porém essas iniciativas não podem ocorrer a qualquer preço e, muito menos, devem servir para alavancar pretensões políticas e eleitorais. Mais do que distinguir governos, projetos públicos devem estar alinhados a perspectivas realistas de execução, de forma que não sejam negligenciados ou apressados ao bel prazer dos governantes, que, ressalte-se, não fazem favor algum em cumprir metas para atender os reais anseios dos eleitores que os escolheram.
É de se esperar, portanto, que no atual quadro de penúria cumpra-se apenas o que é possível cumprir, sem açodamentos e desperdício dos recursos pertencentes a todos os brasileiros.
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