O Dia da Consciência Negra, comemorado a cada 20 novembro, ainda reveste-se de particular significado e importância no País, uma vez que, inegavelmente, a questão racial vem obtendo maior notoriedade em razão de manifestações racistas que, lamentavelmente, têm se repetido com frequência em redes sociais, praças esportivas e lugares públicos.
Mais do que simbolizar uma data reservada ao estímulo e ao aprimoramento das relações humanas, ela deve servir à reflexão e ao estabelecimento de iniciativas para o combate às práticas excludentes motivadas por diferenças étnicas, religiosas e sociais.
No Brasil, assim como na quase totalidade dos países colonizados sob a égide da cultura escravocrata, os reflexos do período de exploração autoritária da mão-de-obra negra ainda se fazem sentir, especialmente pelas décadas de subvalorização da cultura afro na formação da identidade nacional.
Igualmente relevante é a tradução abstraída dos indicadores socioeconômicos oficiais.
Eles revelam, de forma inequívoca, as consequências do triste legado deixado pela escravocracia: apesar de representarem mais de 55% da população brasileira, os negros e pardos ocupam, proporcionalmente, poucos cargos de liderança; têm participação modesta nas atividades de representação política; ainda são pouco presentes nas universidades e recebem menores salários para o exercício das funções produtivas.
Como resultado, representam a maior fatia do contigente das famílias de baixa renda no País.
Como se isso só não bastasse, também são os negros as maiores vítimas da criminalidade urbana, especialmente os jovens; eles compõem o maior contingente da população carcerária; e as mulheres as que mais sofrem com a violência doméstica.
Nesse sentido, o despertar de uma consciência nacional para a questão racial é necessária e justa, devendo estar inserida em um conceito amplo da luta pelo fim de todo e qualquer tipo de preconceito.
O quadro de injustiças sociais que ainda perdura no Brasil requer o estabelecimento de novos métodos e modelos de organização social, com a redução das diferenças a partir da garantia de vivência digna e igualdade de oportunidades a todos, sem exceção.
Assim, o papel do Estado como provedor das condições mínimas e essenciais voltadas ao cumprimento dos deveres civis, que assegure direitos de cidadania e reserve espaço a uma maior participação dos brasileiros afro descendentes é necessária, por isso deve perdurar até a conquista plena de igualdade de condições.
Mais do que nunca, a miscigenação que caracteriza a formação da população brasileira deve ser motivo de orgulho nacional, devendo ser vista como um fator preponderante na construção de uma nação próspera e fraterna,que não exclui ou marginaliza seus filhos.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação
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