A área da saúde é, de forma disparada, a mais delicada para qualquer administrador público. Os anseios populares nem sempre são atendidos, assim como os recursos, insuficientes para atender a demanda.
Portanto, o anúncio da aquisição por parte da Prefeitura de Santos pelo Hospital dos Estivadores tem um significado emblemático. Inaugurado em 1970 e construído pela categoria portuária, a unidade manteve-se aberta durante anos. No entanto, os baixos valores pagos pelo SUS e problemas de gestão levaram ao fechamento do hospital, que desde 2004 não atendia aos pacientes do SUS – Sistema Único de Saúde.
Em razão de dívidas previdenciárias, o imóvel de 11,3 mil m2 foi transferido ao INSS, que o vendeu por R$ 13 milhões no mês passado, valor a ser quitado em 10 anos com recursos municipais. A decisão do prefeito João Paulo Tavares Papa se torna um oásis para ampliar o atendimento de leitos públicos à população diante da escassez ofertada, especialmente na Baixada Santista. Afinal, um prédio daquele porte atraia a cobiça da iniciativa privada, ávida por oportunidades imobiliárias.
A decisão encontra respaldo quando se nota como a região é esquecida pelas autoridades estaduais e federais. Ocupamos a vice-lanterna na proporção do volume de leitos de internação e SUS por mil habitantes, ganhando apenas do Vale do Ribeira em um total de 15 regiões administrativas no estado. E sem levar em consideração o fluxo de veranistas que chegam à região, lotando ainda mais os já cheios hospitais. Nossa média é de 1,73 leitos de internação (por mil habitantes) e 1,07 por leitos SUS, índice menor que o próprio Estado de S. Paulo, que é de 2,41 e 1,53, respectivamente.
A situação efetiva para amenizar este abandono das autoridades ao longo das décadas só ocorrerá se tanto os governos do Estado e Federal injetarem recursos na unidade, com uma visão metropolitana. Afinal, o uso exclusivo de recursos municipais para a manutenção do hospital poderá ser um Cavalo de Tróia para a Cidade.
Isso porque Santos está fazendo o papel de agregador metropolitano. Isso porque, a Cidade tem índices de leitos, SUS ou não, bem superiores à média paulista e até do preconizado pela Organização Mundial de Saúde. Ou seja, temos leitos hospitalares privados e públicos para dar e vender se fossem exclusivos para moradores santistas.
Porém, quando se analisa a questão metropolitana, o quadro é estarrecedor. Excluindo Cubatão, os demais municípios oferecem menos de um leito SUS por habitante. Uma tragédia.
Portanto, louva-se a iniciativa do prefeito em buscar ampliar o volume de leitos. A sua ação, porém, só terá sucesso caso as prefeituras da região e os governos estadual e federal também se unam no esforço de minimizar a crônica falta de leitos hospitalares, dividindo os custos para a manutenção do Estivadores.
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