Os acontecimentos ocorridos na última semana na Via Anchieta, no trecho que divide as cidades de Santos e Cubatão, em razão da violência no embate entre marginais e a polícia nas comunidades das vilas Siri e dos Pescadores, em Cubatão, no sábado e domingo, seguido pelo protesto de caminhoneiros ao longo da Via Anchieta nos dias subsequentes são reflexos do atual estágio da sociedade, cujos erros do passado estão sendo cobrados hoje.
Abro um parênteses às manifestações dos caminhoneiros, que reivindicavam melhorias. Foram necessárias paralisações que pararam (e continuam parando!) as estradas brasileiras para que o Governo aceitasse conversar e aceitar os pedidos da categoria. Justos, por sinal.
Voltando à questão do embate entre polícia e traficantes, que provocou terror tanto à população local, como aos motoristas que subiam à serra na noite de domingo, o episódio não foi o primeiro nem será o último.
Não é surpresa que onde há ausência do Estado, há a presença da marginalidade. A falta de alternativas para jovens e crianças contribui para o crescimento do poder paralelo. Este, por sua vez, recruta aprendizes do crime para fortalecer seus negócios ilícitos, não raro com aval de gente de todas as esferas da sociedade justamente partindo de quem critica tais atos em frente às emissoras de TVs, mas que atua de forma nebulosa nos bastidores das vielas, seja de forma direta ou por terceiros.
O avanço da periferia na região é reflexo da ausência de políticas públicas sérias realizadas ao longo de décadas que garantissem ao trabalhador braçal ter um local digno para morar, enquanto construía as residências dos mais abastados e corria risco de morte na construção de obras, como a Imigrantes, ou no polo industrial. Foi assim em todas as cidades da região. Nem Bertioga, o município mais novo, escapou desta realidade.
Se no passado estes núcleos de miséria nem eram notados pela elite, hoje a realidade é outra. Mas, infelizmente, eles só são lembrados em momentos de tensão e pânico.
É bom lembrar que a presença do tráfico nestas comunidades (mas não apenas nelas, ressalve-se!) é resultado do interesse crescente por membros da classe social mais abastada.
Hoje, portanto, a bola da vez é a Vila dos Pescadores. Amanhã, será outra que ganhará as páginas do noticiário. Mas não há corporação policial suficiente para atender as demandas. Deve ser alterada, portanto, a forma de agir.
Afinal, após a saída policial das comunidades, ficam os moradores, com seus riscos reais. Urge, portanto, a necessidade de implantação de políticas sociais voltadas às comunidades, como escolas em tempo integral, urbanização de ruas, construção de habitações, enfim, uma nova realidade de forma que o cidadão realmente se beneficie e tenha uma vida digna, algo que, infelizmente, está longe de ocorrer para milhares de cidadãos da região que vivem sobre palafitas ou nos cortiços.
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