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26 DE ABRIL DE 2012

Ferida exposta

Por: Fernando De Maria

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O corajoso artigo publicado na edição passada neste jornal na coluna do médico Bruno Pompeu, denominado A Arte está Morrendo, teve uma repercussão impressionante (no site: www.boqnews.com/coluna.php?cod=12507), pois tocou em uma ferida exposta que muitos falam, mas poucos têm a coragem de tornar a opinião pública: o atual papel do médico diante do paciente e o compromisso social que ele tem.


Escrito por um médico, o assunto ganha uma dimensão ainda maior. Suas palavras sintetizam bem como anda esta realidade. Eis um trecho:


— Não mais se olha para o doente. Pouco se fala, mal se escreve, pouco se acerta. Erros e tropeços são seguidos de mais exames, mais raios-x, tomografias e ressonâncias. O diagnóstico se esvai e a vida do moribundo escoa pelo ralo da morte. A medicina clássica não morreu! Foi o médico que se prostituiu, que se perdeu numa falsa realidade científica, discutível, caríssima e sem volta.


As frases, em tom de desabafo, sintetizam uma realidade que muitos pacientes se deparam, seja no atendimento público como no privado. Opinião compartilhada por outros médicos que ainda lutam contra a maré e fazem da profissão um sacerdócio. Mas não são todos.


Quantos e quantos erros médicos — alguns fatais — não ocorrem, muitos simplesmente pela falta de atenção dada ao paciente? Claro que existem profissionais bons e ruins como em qualquer área, mas teme-se que os bons se tornem exceções em um futuro não tão distante.


Um dos motivos deste panorama decorre da proliferação de cursos de Medicina, onde o objetivo de muitos jovens é apenas o status que a profissão supostamente atrai. E assim, formados, optam por clínicas particulares e por áreas mais lucrativas.


O Brasil é o quinto país no mundo em número de médicos. Ao todo, temos 188 cursos de Medicina, mais que os Estados Unidos, com 131 faculdades. Somente neste século, foram abertas 77 escolas. O ensino particular predomina: 61% dos cursos são pagos e 39% públicos.


Há uma elitização do ensino de Medicina e assim o jovem que paga (caro, aliás!) para estudar terá em mente um objetivo claro: atuar em áreas mais lucrativas da Medicina para poder restituir o investimento empregado. Isso é cristalino como a água.


Apesar de termos um número elevado de médicos, há uma concentração brutal dos mesmos. Seis em cada dez profissionais no Brasil clinicam na região Sudeste. Enquanto no Norte, não chegam a 0,5. (4,21% do total). Um disparate. E se levar em consideração a residência médica, a discrepância é maior.


O MEC resolveu agir cortando 514 vagas oferecidas em 16 cursos de Medicina, todos de instituições particulares. É uma iniciativa louvável, mas ainda insuficiente para evitar que a arte da Medicina morra, conforme o desabafo do médico Bruno Pompeu.

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