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Opiniões

08 DE AGOSTO DE 2022

Gordon nos deixou 

Por: Da Redação

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Para quem não entendeu o título, Gordon era o personagem de Jô Soares em “Família Trapo”, programa humorístico da TV Record, que foi ao ar entre 1967 e 1971.

Em minha opinião, foi um dos melhores, senão o melhor do tipo na história da TV brasileira, que teve suas primeiras temporadas transmitidas ao vivo.

Jô era o mordomo da família. O nome era uma referência à sua condição física, só alterada por curto período, no início dos anos de 1970, quando chegou a alegar que ser magro tirava a graça de sua performance, como se isso fosse possível.

Desde muito jovem, Jô Soares contracenou com grandes atores, em programas memoráveis e sempre de forma brilhante, protagonista.

Ele era o impagável alemão com limitado vocabulário em português, que sentava-se ao lado do inesquecível e genial Manuel de Nóbrega, no banco do programa “Praça da Alegria. Quando não sabia a palavra exata, perguntava a Nóbrega: “Cómo chamáze…”; e quando recebia a tradicional resposta “sacana”, respondia: “Zatamente!”.

Jô foi comediante, ator, roteirista, escritor e, um antigo desejo, concretizado apenas no final da década de 1980, entrevistador. E que entrevistador! Culto, poliglota, fruto de sua sólida formação pregressa, capaz de deixar seus convidados totalmente à vontade, ou constrangidos, sem perder a classe. Nesse caso, foram poucos, geralmente quem era convidado contra sua vontade.

Como entrevistador, creio que ele alcançou o “olimpo” antes reservado a outra celebridade: Hebe Camargo.

Jô contracenou com grandes humoristas ao longo de sua profícua atuação e, junto com eles, hoje deve estar arrancando gargalhadas no céu. Gênios como José Vasconcellos, Renato Corte Real, Chico Anysio e Ronald Golias, entre outros.

Por falar em Golias – ou, mais exatamente, em Carlo Bronco Dinossauro, seu personagem em “Família Trapo” -, Jô comentou que ele gostava de contracenar sempre com pessoas ao seu lado direito. Para “mexer” com Golias, Jô mudava de lado, que mudava de lado, para recuperar a posição. Assim, eles faziam uma espécie de “bailado” no palco. Como isso era feito ao vivo, ficava mais evidente a capacidade de improviso dos dois.

E o roteiro era o menos importante: o esquecimento de falas era contornado por “cacos” ainda mais hilários!

Jô foi um artista inovador, longevo… Mas poucos sabem sobre sua “carreira esportiva” e de uma de suas proezas que poucos conseguiram:

Numa edição especial de “Família Trapo”, de 1967 – um dos poucos VTs que sobreviveram aos incêndios dos teatros da TV Record -, Sócrates (personagem de Ricardo Corte Real, filho de Renato) e Gordon estavam preocupados em contar a Bronco que haviam convidado outro atacante para substituí-lo em jogo de futebol amador.

Quem era o atacante? Pelé! Mas Bronco não o reconheceu e quis avaliá-lo. Pediu para ele bater um pênalti.

Quem era o goleiro? Gordon! Ele “fechava o gol”…

Pelé correu e deu sua tradicional “paradinha” mas, propositalmente, passou da bola, após o que Bronco gritou: “Assim você cai!”, para delírio da plateia. Depois, para ensinar Pelé, bateu bisonhamente um pênalti.

Pelé agradeceu a dica e resolveu bater o pênalti “direito”. Surpresa geral, Gordon se jogou ao solo, fazendo uma defesa espetacular, em dois tempos!

Jô defendeu um pênalti de Pelé! Proeza comparável a de outro Gordon, o Banks, ao espalmar cabeceio do Rei, na Copa de 1970. Menos… Menos…

Só por isso já merecia estar no Memorial das Conquistas do Santos FC.

A ideia até que não é má…

Adilson Luiz Gonçalves  é escritor, Engenheiro e Pesquisador Universitário  Membro da Academia Santista de Letras.

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