Maria Patrícia | Boqnews

Opiniões

26 DE NOVEMBRO DE 2015

Maria Patrícia

Por: Da Redação

array(1) {
  ["tipo"]=>
  int(27)
}

Em referência ao Dia da Consciência Negra, esta coluna decidiu, de forma justa, publicar hoje uma das mais belas histórias que envolve superação de preconceito e a união de um povo em torno de uma pessoa, por sua essência, bondade e capacidade profissional. A história de Maria Patrícia Fogaça, a “mãe do povo santista”, como chegou a ser conhecida entre a população mais necessitada.

Maria Patrícia nasceu santista, em 26 de março de 1838, filha de Patrício e Joana, ambos pretos forros da família Andrada. Batizada na Igreja Matriz, teve como padrinhos João Bonifácio de Andrada e Ana Joaquina. Com nove anos de idade viveu a tragédia da morte do pai, que se matou no Caminho do Jabaquara, e acabou assumindo o papel de amparadora da mãe, até o fim da vida dela.

Antes de se casar aos 19 anos de idade, com Levino, homem pardo, também livre, e que exercia com muito amor a profissão de alfaiate, Maria Patrícia iniciou seus aprendizados de parteira com as pessoas de sua comunidade, e dedicou-se ao máximo na tarefa de trazer a vida e a esperança para este mundo.

Dedicada e atenciosa, ganhou fama entre os mais necessitados, àqueles que não tinham condições de pagar por uma profissional formada em faculdades de medicina da Europa, como Mademoiselle Jenny Campos, que estudara em Montpellier, França, assim como Maria Berthel, Sofia Schaeler e Elisabeth Pelessier. Apesar da ausência de conhecimento acadêmico, Maria Patrícia era amada pelo povo e respeitada por grande parte da classe médica santista, como o famoso doutor Silvério Fontes (pai do poeta Martins Fontes), que acabou se tornando seu maior protetor e mestre.

De parto em parto, sem distinção a quem atender, fosse rico ou pobre, negro ou branco, Maria Patrícia foi responsável pelo nascimento de centenas de santistas. Aos 56 anos de idade, negra guerreira da vida teve de enfrentar um verdadeiro bombardeio. Corria o ano de 1894, quando as obstetrizes da cidade começaram a contestar o fato de Maria Patrícia ser isenta do imposto profissional, ignorando o fato dela ser uma das poucas, e por muito tempo a única, a atender a camada da população mais pobre.

A concorrência não poupou no ataque e até a cor da pele de Maria Patrícia era pretexto para desqualifica-la perante à sociedade, onde ainda havia, do formas isoladas, ranços pela abolição total. Mas a sua boa fama e competência, aliada à consideração que gozava em todas as classes sociais, a fizeram superar a guerra, vencendo-a com louvor.

A “mãe negra dos santistas” trabalhou até onde não podia mais e partiu com sua missão cumprida em 18 de novembro de 1913, deixando uma legião de órfãos.

Da época da guerra contra as outras parteiras, ela guardava um poema satírico que fora publicado na imprensa santista, que revelava sua força junto à comunidade:

Nada houve mais notável,
ao terminar a semana,
que a queixa criteriosa
apresentada com gana

por madame de Berthel
contra a mimosa Jenny,
que é formada e conhecida
por toda a gente d’aqui

e que exerce com perícia
delicada profissão,
para que dizem ter jeito
e muito segura mão.

Mas por zanga ou concorrência,
que sofreu sua colega,
esta falou, deu denúncia
gritou… fez um “péga! péga!”…

Mas Jenny co’a papelada
que trouxe d’Academia
embrulhou em papel pardo
a tal colega Maria

E se a faina das denúncias
vai ser grande na polícia,
um conselho já vou dando
– Respeitem Maria Patrícia

Com esta tenha cuidado,
sra. Berthel – dou-lhe um ovo!
O diploma que esta tem
foi-lhe dado pelo povo,

e povo é danado bicho
e bicho que faz asneira,
cuidado, pois, co’a Patrícia
olhe em casa um Zé Pereira

*Texto reproduzido do site Memória Santista

Notícias relacionadas

ENFOQUE JORNAL E EDITORA © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

desenvolvido por:
Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.