As cenas ocorrem com uma triste frequência. Incêndios em favelas são provocados por motivos diversos – de uma vela que acidentalmente toca na madeira aos gatos que se espalham pela vielas e caminhos que cortam a periferia, sem contar com as suspeitas de incêndios criminosos por pessoas de olho em moradias e verbas públicas. Por sorte, ninguém morreu.
O mais recente episódio desta história ocorreu na última quarta-feira (8), quando estimam-se que os barracos onde 350 famílias residiam na favela do México 70 viraram cinzas. Trata-se de um dos maiores incêndios já ocorridos naquela comunidade vicentina.
O episódio não é o primeiro e muito menos será o último. Naquela região, vivem – segundo estimativas – 1.830 famílias. Um incêndio ocorrido em 2010 de menor proporção já assinalava que verbas do PAC – Plano de Aceleração do Crescimento estavam liberadas para que os barracos fossem substituídos por moradias mais dignas em 2012. Nada mudou.
O Brasil tem hoje 13 milhões de pessoas residindo em favelas, segundo o Datapopular, instituto de pesquisas que analisa o avanço das classes menos abastadas no consumo. No Estado de São Paulo, a Baixada Santista é a região do estado que concentra o maior número destas subabitações. Conforme Pesquisa de Condições de Vida, realizada em 2006 pela Fundação Seade nas três regiões metropolitanas paulistas, um em cada dez moradores da região vive em favelas (exatos 11%). Na região de Campinas, este percentual é de quase a metade (6%) e na Grande São Paulo, 2,9%.
Para efeito comparativo, a favelização tem crescido, apesar dos anunciados investimentos em moradias populares pelas autoridades. Mesmo levantamento ocorrido em 1998 mostrava que, na época, 10,1% das famílias da Baixada Santista viviam em barracos isolados ou favelas e 4,1% em cortiços, concentrados especialmente em Santos, em bairros como Vila Nova e Paquetá. Em números absolutos, a região abriga hoje entre 150 e 200 mil moradores que vivem em barracos – número maior que a soma conjunta de toda a população de Cubatão e Bertioga.
Guarujá, com mais de 80 favelas, se destaca neste cenário, seguida por São Vicente. Mas Santos, uma das cidades mais ricas do País, também esconde em suas periferias uma triste realidade, abrigando milhares de pessoas que se espremem entre vielas e barracos nos mangues que margeiam bairros da Zona Noroeste.
O fato é que o elevado número de favelas reflete a segregação social a qual milhares de pessoas foram impelidas, graças aos investimentos – sem planejamento – em habitação popular ao longo de décadas, seja no polo de Cubatão ou no porto de Santos e na própria construção civil, que empurraram a população mais humilde a lugares esquecidos pelo Poder Público.
Nestes locais, hoje impera o poder paralelo em franca ascensão, fortalecido pelo tráfico de drogas que alimenta os desejos de todas as classes sociais, sem piedade, contribuindo para o consumo crescente de entorpecentes e a escalada da violência.
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