No meio de tantas discussões favoráveis e contrárias, com prejuízos coletivos, a greve dos caminhoneiros teve o mérito de alertar a sociedade sobre o volume de impostos que nós, brasileiros, pagamos pela má qualidade dos serviços públicos recebidos.
Segundo o relatório Doing Business 2018, o país tem apenas o 125º melhor ambiente de negócios de um total de 190 países. Neste mesmo ranking estamos em 184º lugar em termos de impostos. O Banco Mundial assinala que no Brasil perde-se 1.958 horas por ano (82 dias) apenas para o pagamento de tributos e taxas.
E que os impostos representam 68,4% do lucro médio das empresas. Ou seja, os governos em todas as esferas são sócios dos empreendedores brasileiros.
Portanto, não é à toa que a greve dos caminhoneiros – cuja bandeira central foi a redução do valor do diesel, fato ampliado para outros itens – foi abraçada, de forma geral, pela sociedade, mesmo ela sendo a maior prejudicada.
Neste País, ser empreendedor é arriscar-se na incerteza, pois os volumes de impostos são tantos que empurram o cidadão para a sonegação e, é claro, para a corrupção, praga que se alastra em uma velocidade ímpar em todas as esferas e poderes. Muitos pagam por fora para não pagar por dentro. E a sociedade perde.
A despeito deste cenário real e de algumas bobagens defendidas por alguns manifestantes, como o pedido pela volta da intervenção militar, além de aproveitamento por parte de empresários pela situação (o setor se beneficiou com a manutenção da desoneração da folha de pagamento), o movimento jogou luz para a forma como a sociedade brasileira é tratada.
Muitos dos nossos representantes (?) brincam com o dinheiro público. Afinal, o fato de estarem no poder – e isso vale para tanto ao Executivo, Legislativo e Judiciário – acaba sendo a porta de entrada para abusos com recursos pagos por todos, via impostos e taxas.
Cito o exemplo dos deputados federais. Além do salário de R$ 33.763,00, eles contam com ajuda de custo, cota para despesas de gabinete (em São Paulo, R$ 37.043,53), cota para contratação de até 25 funcionários (R$ 101.971), além de auxílio-moradia de R$ 3.800 (se não morarem em apartamentos funcionais).
Valor da conta dos 513 deputados pagos pelos brasileiros: R$ 1,1 bilhões, segundo levantamento do site Congresso em Foco. Média mensal de quase R$ 92 mil por deputado. Uma excrescência em um País com tanta desigualdade social. Um mundo da fantasia a qual a grande maioria dos políticos vive.
Ou seja, inclua-se na conta o Senado, as assembleias legislativas e câmaras de vereadores. O mesmo raciocínio vale para as benesses do Judiciário e os abusos dos executivos em todas as esferas, sempre ávidos em aumentar impostos para suprir as despesas as quais os cidadãos precisam arcar com o suor do seu trabalho.
Portanto, a paralisação merece aplausos diante da necessidade de reflexão sobre como a sociedade brasileira é tratada. Passou a hora de dar uma basta nestas mamatas públicas. A população cansou. Tem no voto a sua arma para começar a mudar este panorama. A chance se aproxima.
Deixe um comentário