O embate travado entre o Governo Federal e o Congresso, em torno da derrubada do decreto que estabeleça o aumento do Imposto sobre Operação Financeira (IOF), revela as contradições que marcam o atual momento político vivido atualmente pelo País.
Ao mesmo tempo em que o Executivo justifica a necessidade de aumentar a arrecadação de tributos como forma de não extrapolar os limites do arcabouço fiscal que ele mesmo definiu, revelando total falta de planejamento e incapacidade de promover redução de gastos, parlamentares justificam o veto à medida adotando a narrativa de austeridade na lida com os recursos públicos aprovando, ao mesmo tempo, a ampliação do número de cadeiras na Câmara Federal, que resultará na elevação das despesas do Legislativo.
Como isso só não revelasse a incongruência do debate, o impasse criado pela divergência entre os poderes será judicializado e discutido por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), corte que há muito assegura supersalários, benesses e penduricalhos a membros do judiciário muto além do teto definido pela Constituição.
Como se vê, são rotos falando de esfarrapados, atuando em causas próprias sem qualquer preocupação com a população que deveriam servir.
Assim, mais do que nunca, torna-se necessário aperfeiçoar o sistema político vigente por meio de uma reforma do Estado brasileiro.
Nesse contexto, torna-se imprescindível o envolvimento mais efetivo das entidades civis representativas e a participação do cidadão nesse processo de reformulação porque representa uma das poucas medidas capazes de impedir a continuidade de atos lesivos ao País.
Mais do que exigir o cumprimento de leis e normas vigentes, devemos cobrar com vigor a prática cotidiana da ética, da honestidade e do caráter dos escolhidos para nos representar.
Inadmissível supor que o regime democrático possa prescindir de legítimas instituições, porém essa representação pode ser feita por meio de organismos que não exijam tamanho dispêndio de dinheiro público e a manutenção de estruturas burocráticas supervalorizadas.
O custeio das instituições políticas já é por demais oneroso diante as imensas necessidades da população.
Cobrar a fiel execução das metas definidas pelos governos, transparência no uso dos recursos arrecadados por meio de tributos e, sobretudo, fiscalizar os atos e ações dos mandatários eleitos representam, juntamente com o exercício do voto, a única fórmula realmente capaz de moralizar, de forma eficaz e perene regimes políticos dissociados dos reais interesses da sociedade que os escolheu.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação
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