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07 DE OUTUBRO DE 2024

Pondo fim ao ódio

Marcelo Galuppo

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Houve uma época em que não podíamos discordar.

Há quarenta anos, quem discordasse do governo era mandado para a cadeia, se tivesse sorte.

Que a esquerda pôde protestar durante o governo Bolsonaro e que a direita possa protestar durante o governo Lula é indício de que vivemos em uma era com muito mais liberdade do que a em que viveram nossos pais.

Mas agora, discordar não é mais suficiente.

Parece ser um requisito para viver no século XXI que estejamos divididos, armados e preparados para silenciar e, se for necessário, eliminar quem pensa de modo diferente.

E isso não ocorre apenas no Brasil: dos Estados Unidos à Polônia, da Alemanha à Índia, estamos marcados pela polarização.

Na minha adolescência, quando nos reuníamos na casa de minha avó, havia uma regra que proibia três assuntos: futebol, religião e política.

Trata-se de campos que envolvem todo nosso ser, nosso cérebro, mas também nosso coração.

Por isso, nunca somos neutros e objetivos quando se trata de nosso time, nossa fé e nosso candidato: apoiamos nosso time na vitória, mas sobretudo na derrota, cremos em nosso Deus sobretudo quando ele parece estar ausente e defendemos nosso candidato mesmo quando tudo indica haver razões para votar em outro.

É nossa própria identidade que está em jogo, quando se trata dessas questões.

Toda identidade se forma por um processo de pertencimento a um grupo, mas também de diferenciação, de individualização.

Por isso ela é sempre tensa, e qualquer ameaça a seus valores expõe essa contradição, abalava visceralmente nosso ser e desencadeia em nós emoções profundas, nem sempre as melhores, como o ódio.

O ódio prejudica todo mundo: quem é ofendido, humilhado e violentado, mas também quem o manifesta, que se tortura por não ter sido capaz de se conter (e, se alguém não sente algum tipo de remorso depois de explodir em um acesso de ira, é porque há algo de errado com essa pessoa).

O ódio afasta pessoas que se amavam e que podiam se respeitar até o momento em que ele surge.

Toda sociedade pressupõe algum tipo de cooperação entre seus membros, e o ódio é um tipo de atrito que impede essa máquina de funcionar de maneira adequada.

Mas o pior de tudo é que o ódio nos cega: quando odiamos alguém, só conseguimos ver um aspecto de sua vida, somos fixados nele, emburrecidos pelas nossas emoções.

Lutar contra o (próprio) ódio é reconhecer que as pessoas valem mais do que o time para o qual torcem ou o candidato em que votam.

 

Marcelo Galuppo é professor da PUC Minas e da UFMG e autor de “Os sete pecados capitais e a busca da felicidade”. (Citadel Grupo Editorial).

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