As queimadas que mais uma vez atingem várias regiões do País, especialmente áreas da região amazônica, do cerrado e também no interior paulista, já fazem por merecer uma maior atenção por parte das autoridades, que há muito tem protelado o estabelecimento de políticas mais efetivas para prevenir os danos causados pela recorrência desses sinistros.
Já está evidente que os efeitos das mudanças climáticas e, em alguns casos, ações criminosas, têm contribuído para o aumento do número de ocorrências e ampliado os danos ambientais, agora também ameaçando a saúde das populações residentes nas cidades cobertas pela fumaça emanada desses incêndios.
Também está mais do que claro que as regiões mais afetadas pelo fogo abrigam municípios com baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), onde a luta pela sobrevivência faz uso de métodos arcaicos na lida com a terra.
Nesse sentido, mais do que representar um ato de benevolência, a promoção de ações visando assegurar melhores condições de vida às comunidades pobres dessas regiões representa uma necessidade premente, não só pelo cumprimento dos direitos fundamentais à dignidade humana, mas sobretudo pela necessidade de interromper a degradação desses ecossistemas.
Sem acesso à saúde, à educação e marginalizados dos processos de geração de renda, grandes contingentes populacionais têm contribuído involuntariamente para a degeneração de bens naturais.
Assim, às autoridades cabe implementar políticas consistentes e duradoras para do desenvolvimento sustentável daquelas regiões, com maiores investimentos em infraestrutura e tecnologia para adaptação dos cultivos agrícolas à nova realidade ambiental.
A criação de mecanismos e alternativas de cunho econômico local, além de garantir a subsistência das famílias, oferecerá condições para evitar novos incêndios.
Da mesma forma, cabe ao Governo Federal, diante da realidade conhecida, liderar um processo de integração com estados, municípios, cooperativas e empresas do agronegócio com o intuito de estabelecer métodos e ações preventivas para tornar mais ágil e eficaz as operações de combate à propagação dos focos de incêndios, com a utilização dos recursos humanos e materiais já existentes.
Os impactos ambientais, sociais e econômicos produzidos pelas queimadas ainda não foram totalmente dimensionados, contudo um país como o Brasil, que tem sua principal base energética alicerçada em recursos naturais e boa parte de sua economia calcada na produção agropecuária, obrigatoriamente deve incluir o tema entre as principais prioridades nacionais para as próximas décadas.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação