O bombástico depoimento do ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, na última semana, cujo teor ainda não foi totalmente revelado, colocou Brasília em ebulição.
O empresário, que está há quase dois anos na prisão e que, mesmo irredutível inicialmente em revelar os bastidores do propinoduto mantido pelo seu conglomerado, começa a mostrar o verdadeiro toma-lá-dá-cá ou suruba – como disse o senador Romero Jucá, longe também de ser um modelo de perfeição – que ocorre em Brasília e pelo Brasil afora.
O relato do empresário ao ministro Herman Benjamin, corregedor-geral da Justiça Eleitoral e relator da ação no Tribunal Superior Eleitoral que investiga a chapa formada por Dilma Rousseff e Michel Temer na campanha eleitoral de 2014, coloca em risco a própria sobrevivência no cargo do atual presidente.
Não bastasse, dezenas de executivos da empresa também fizeram delação premiada e fatos novos irão surgir a cada semana. E irão provocar danos em efeito cascata. Por exemplo, o eventual sucessor no cargo de Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, também já foi acusado de ter recebido dinheiro de forma, no mínimo, suspeita. O mesmo ocorre em estados e municípios, envolvendo governadores, deputados e prefeitos. As bombas irão pipocar.
Por ironia, a investigação por parte da Justiça Eleitoral decorre de um pedido do PSDB, hoje partido aliado de Temer, cujos dois últimos candidatos à Presidência, José Serra e Aécio Neves, também aparecem como eventuais beneficiários de esquemas do propinoduto da empreiteira, segundo denúncias publicadas na imprensa. Todos, é claro, negam.
Assim, não existem santos – aliás, um dos codinomes dos beneficiários do esquema conforme listagem encontrada na sede da empresa, cuja suspeita paira em um influente político paulista.
O depoimento do empresário desnuda como ocorre a política brasileira. Infelizmente, apoio, de forma geral, virou moeda de troca. O repasse de verbas feito pelas empresas – muitas delas optam em simplesmente não aparecer nas doações oficiais (vide caso da relação Odebrechet e a cervejaria Itaipava) – em troca dos mais variados benefícios revela os interesses espúrios existentes entre os poderes políticos e econômicos.
Assim, ao contrário do que o empresário falou que se sentia o ‘bobo da corte’ dos governos Lula e Dilma, para os quais acertou repasses milionários de propina, os verdadeiros ‘idiotas’ estão do outro lado do balcão: ou seja, a população brasileira que se depara com dificuldades diárias na saúde, educação, mobilidade urbana para citar apenas alguns exemplos.
Deixe um comentário