Gestada do Pacto Global, proposto pela Organizações das Nações Unidas (ONU) no início do milênio, lapidada e adotada com estardalhaço pelo mercado corporativo e financeiro, a sigla transformada em qualificativo, ESG, está se espraiando. Os exageros são naturais, assim como as apropriações inapropriadas, com o perdão do trocadinho.
A popularização pode ensejar algumas reflexões, já que as preocupações com o meio ambiente, os relacionamentos humanos e responsabilidade ampliada e transparente é algo premente, quiçá permanente.
No original em inglês, “E” vem de “environmental”, consolidando as questões ambientais, de preservação, recuperação, baixa emissão; o “S” de “social”, ampliando o espectro dos tradicionais stakeholders com atenção especial às comunidades onde se insere e interage; e o “G” de “governance”, com o regramento das práticas sustentáveis, ética, transparência e conduta.
Essa força adquirida no mercado corporativo vem de 2004, quando o Pacto Global e o Banco Mundial publicaram o relatório “Who Cares Wind”, algo como “Quem se Importa Ganha”.
Ou seja, mais que o foco no próprio negócio e lucros a (quase) qualquer preço, as corporações empresariais com mais atenção às questões ambientais, sociais e de governança teriam melhores resultados no longo prazo. O resumo é: não haverá sustentabilidade empresarial sem esta nova postura.
Há dois anos, completados no final de outubro, o Governador João Dória adotou o termo Vale do Futuro como direcionador das ações no Vale do Ribeira, região onde a riqueza natural não se traduziu em bem-estar social. Simplesmente o mais amplo programa de redução de pobreza, promoção de desenvolvimento econômico sustentável e qualidade de vida.
Plenamente alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), cujo DNA remete também ao Pacto Global do início do milênio.
A visão para o Vale do Ribeira/Vale do Futuro foi clara: transformar as riquezas locais em desenvolvimento social e econômico sustentável. Pensando de forma ampla, mais ODS e ESG impossível. Esses dois anos mostraram as dificuldades, porém, sinalizaram caminhos.
No caso dos ganhos proporcionados pelas atividades turísticas, as iniciativas tiveram como base a valorização das comunidades originais, caiçaras e quilombolas, com ênfase na gastronomia de sabores sutis, a evolução das rotas cênicas, que valorizam as características naturais marcantes da maior reserva de Mata Atlântica do País e, mais recentemente, na promoção internacional qualificada, feita em parceria com a Adventure Travel Trade Association (ATTA). O futuro do Ribeira passa por um consumidor de viagens mais consciente.
O programa Vale do Futuro não se encerra com as iniciativas já empreendidas. Os recursos alocados pelo Governo do Estado na região nesses dois anos foram o início, a sinalização positiva e indicativa. Cabe agora a resposta do mercado.
É hora de transformar o Vale do Ribeira, por meio de ações empresariais, no primeiro destino turístico ESG do País, no qual o setor privado alia-se aos esforços públicos e colabora para o desenvolvimento da região.
Vinicius Lummertz é secretário de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo.
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