Um dos crimes que ocupa o topo dos índices de violência certamente é o de roubo de cargas, crime este muito específico e praticado por quadrilhas especializadas, muitas vezes com o apoio e financiamento do tráfico de drogas que vê nesta modalidade uma oportunidade de aumentar os seus lucros.
Todas as investigações e ações de inteligência policial apontam para uma participação do comercio ilegal e de comerciantes inescrupulosos como receptadores destas cargas roubadas, chegando em alguns casos até mesmo a encomendarem as cargas de interesse que serão roubadas.
Em todas as grandes cidades do Brasil existem hoje feirões de mercadoria que realizam a venda no varejo de toneladas de produtos roubados. Essas feiras já são conhecidas não só da polícia como também por grande parte da população, causando prejuízos milionários ao setor e inacreditavelmente funcionam em data, hora e local fixos.
Paralelo a essas feiras existem uma grande quantidade de comerciantes que possuem estabelecimentos informais nas comunidades que efetuam a venda de mercadorias e produtos roubados, a preços muito inferiores aos praticados no comércio legal.
Como esses “comércios” estão em zonas dominadas pelo tráfico armado de drogas, eles contam com a proteção dada pelos traficantes, revertendo logicamente parte do lucro para o chefe do tráfico local.
Este fator é facilmente comprovado devido ao rastreio das mercadorias roubadas que são apreendidas durante as operações policiais nas comunidades e nos feirões irregulares.
Para esse rastreamento, o setor de investigação da polícia faz o cruzamento do código de barras do produto apreendido com o registro de ocorrência do roubo da mercadoria, identificando de qual lote roubado é oriunda determinada mercadoria e todas as mercadorias apreendidas nos últimos meses foram de frutos de roubos de cargas praticados nas rodovias que cortam os estados.
Para conseguir a redução dos índices de roubos de cargas, além da repressão policial e introdução de novas formas de policiamento nas vias publicas, se faz necessário também um profundo trabalho de investigação e inteligência, identificando as quadrilhas que atuam no setor, os seus mentores, os locais de armazenamento da mercadoria enquanto ela “esfria” (deixa de ser procurada pela polícia), e principalmente a identificação e prisão dos receptadores (quem compra) das mercadorias, pois sem a receptação não existe comercio de venda.
José Ricardo Bandeira é professor, perito em Criminalística e Psicanálise Forense, comentarista e especialista em Segurança Pública, presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina e do Conselho Nacional de Peritos Judiciais da República Federativa do Brasil, membro ativo da International Police Association e da Comissão de Segurança Pública da Associação Nacional de Imprensa.
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