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04 DE FEVEREIRO DE 2017

Traçado equivocado

Por: Fernando De Maria

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Salvo honrosas exceções de praxe, os técnicos que atuam em órgãos governamentais vivem em uma redoma distante da realidade cotidiana das pessoas. Discutem, planejam, fazem desenhos e estudos de uma cidade ideal, mas raramente enfrentam na pele a mesma situação a qual o cidadão comum se depara diariamente.

Na última semana, mais uma vez, o governador Geraldo Alckmin esteve em Santos. Entregou – ainda que de forma incompleta – o primeiro trecho do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que percorre 11,5 km, entre as estações Barreiros (São Vicente) e Porto (Santos). O investimento total nesta etapa foi de R$ 1,4 bilhão nas 15 estações (a da Conselheiro Nébias passará a funcionar nas próximas semanas).

A obra é indiscutível sobre o ponto de vista da mobilidade regional. A expectativa é que 25 mil pessoas sejam transportadas por dia neste primeiro trecho – cujo traçado, a despeito de ligeiras alterações, era semelhante ao da extinta linha férrea, que ligava Juquiá ao Porto de Santos, via Estrada de Ferro Sorocabana.

A questão, porém, incide no segundo trecho, que prevê a extensão da linha via Rua Silva Jardim até chegar ao Centro Histórico de Santos, cortando vias e prevendo indenizações de imóveis para a passagem do novo traçado.

Trata-se de um equívoco, algo que apenas os engravatados de plantão cismam em desconhecer em razão do natural fluxo das pessoas. Ao invés de ampliar a linha em Santos, cujo transporte municipal é razoável e será integrado ao VLT deveria-se investir na sua expansão para São Vicente e Praia Grande, integrando-o ao BRT (Bus Rapid Travel) com corredores de ônibus rumo ao litoral.

Os números explicam esta realidade. Enquanto a taxa de crescimento anual de Santos é de 0,21%, Praia Grande cresce a 2,09%, sem contar os demais municípios do Litoral Sul, onde vivem mais de 210 mil pessoas e as taxas superam a média regional e do Estado. E só tendem a crescer. Não bastasse, Santos tem um dos maiores índices de veículos/habitante do País.

Ou seja, a segunda fase do VLT será mais útil aos usuários de outras cidades, que necessitam do transporte para se locomover provenientes de municípios vizinhos do que os próprios santistas, excetuando-se os que residam nas proximidades das estações.

Assim, espera-se que a EMTU – Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos reveja esta ideia anacrônica, sob o risco de travarmos o sistema viário de Santos sem que haja o devido benefício para os moradores, deixando de lado efetivamente o conceito de metropolização, tão discutido e tão pouco efetivo.

 

Nota da EMTU

Sobre o editorial “Traçado equivocado”, esclarecemos que o projeto executivo do trecho Conselheiro Nébias – Valongo está em fase final de desenvolvimento.

O traçado foi exaustivamente debatido em audiências públicas, inclusive com a colaboração de técnicos da Prefeitura de Santos. Foram atendidas às sugestões de mudanças no itinerário que viessem ao encontro de programas de revitalização da região do Mercado propostas pela Prefeitura, facilitando inclusive a integração de passageiros com as catraias e o atendimento às universidades, hospitais e futuros empreendimentos imobiliários públicos e privados ao longo do traçado.

Além disso o resultado da pesquisa Origem-Destino identificou que o desejo de viagem dos usuários é o centro de Santos. Do ponto de vista da mobilidade, o Terminal Valongo será integrado à Estação Rodoviária e também permitirá uma integração mais racional com linhas intermunicipais que atendem a Cubatão. Com relação ao BRT de Praia Grande, o  projeto foi selecionado no Programa de Aceleração do Crescimento – PAC – Pacto da Mobilidade do Ministério das Cidades e aguarda liberação de recursos por parte da União.

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