Quem não gosta de samba bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé.
Samba da Minha Terra
Dorival Caymmi
Durante muito tempo, São Paulo foi considerada o túmulo do samba, por não incentivar com afinco a cultura carnavalesca, mais atrelada aos cariocas e baianos. Com a construção do sambódromo, na gestão Luísa Erundina, aos poucos a Capital começou a conquistar espaço e hoje ocupa o segundo lugar, tomando a vice colocação de Santos.
O tempo passou, o Carnaval santista, que sofreu reveses nos anos 90 e no início deste século, com violência, desmotivação por parte das agremiações e falta de apoio do Poder Público, ressurgiu das cinzas e hoje conta com um espaço próprio para os desfiles atrelado ao centro cultural que será entregue ao público da Zona Noroeste, abrindo espaço para a difusão da cultura carnavalesca e para atividades culturais.
A retomada do Carnaval santista em 2006 contribuiu para animar as cidades vizinhas a fortalecer e retomar as suas festas. Desta vez, porém, Cubatão e São Vicente abriram mão de realizar seus desfiles por falta de verbas. Guarujá e Praia Grande continuam com a tradição.
Apesar de não realizar os desfiles, Cubatão pelo menos manteve as atividades carnavalescas nos bairros de forma a garantir a tradição, mas São Vicente tomou uma atitude bem radical: além de cortar as despesas com as escolas de samba por falta de verbas, proibiu qualquer tipo de manifestação carnavalesca. E a comunicação oficial foi feita a poucos dias da festa. Não bastasse, quem desrespeitar a ordem poderá até ser preso. Policiais civis e militares, Guarda Municipal e fiscais da prefeitura atuarão pelas ruas da primeira cidade do País para “caçar” os foliões que insistirem em brincar justamente nesta data tão tradicional.
A alegação da municipalidade é que ela está impedida de apoiar qualquer evento que ocorra em ruas vicentinas. Baseia-se em uma decisão do juiz da Vara da Fazenda Pública da Comarca de São Vicente, Eurípedes Gomes Faim, que em abril passado deferiu pedido do Ministério Público contra o município, impedindo a realização de eventos em vias de trânsito rápido. Só que há um claro exagero da interpretação da lei.
Ao proibir a realização de qualquer tipo de manifestação cultural em algumas vias, há uma clara restrição e uma afronta à manutenção da principal manifestação popular do brasileiro. Para se ter ideia, com a decisão, o bloco Ba-baianas, que existe há 76 anos, não poderá se concentrar, fato inusitado. Nas redes sociais, chovem críticas à decisão pela falta de bom senso.
Populares prometem promover uma manifestação neste domingo (10) reunindo representantes das escolas e blocos para protestar contra a medida. Todos perdem com isso: os foliões, as escolas de samba, o comércio, os ambulantes e a rede hoteleira. E menos dinheiro em circulação representa menor arrecadação em impostos. Portanto, vale a pena o boicote?
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