Carnaval da superação.
Assim resume o presidente da Liga Independente Cultural das Escolas de Samba – Licess, Benedito Fernandes, o Ditinho, em relação aos desfiles realizados – pelo terceiro ano consecutivo de forma antecipada – na Passarela do Samba Dráusio da Cruz nos dias 2 e 3 de fevereiro.
Para Fernandes, que também preside a escola X-9, vice-campeã do Carnaval santista deste ano, atrás da União Imperial, as dificuldades financeiras – com a redução no repasse de verbas por parte da Prefeitura – não apagaram o brilho e a alegria na passarela do samba.
“Foi uma organização sem incidentes, com pontualidade, mesmo com a redução do período de desfiles de três para dois dias”, ressaltou.
O dirigente enfatiza que todas as escolas superaram as adversidades.
Apesar da diminuição no repasse de verbas (veja quadro), algumas obrigações passaram para responsabilidade das escolas e da Liga.
Por exemplo, o pagamento pelos jurados e laudos dos carros já estavam em vigor desde o ano passado e neste ano foram acrescidas as despesas com o mucks (espécie de guindaste), guinchos e caminhões-baú.
Em 2016, as escolas do grupo Especial (espécie de série A) receberam R$ 181 mil. No ano passado, R$ 90 mil e agora, R$ 54,5 mil.
Na prática, segundo o presidente da Liga, estas despesas representaram 20% do valor total destinado às agremiações do Grupo Especial, por exemplo, cujo montante já havia sido reduzido para pouco mais da metade em relação a 2017.
Assim, a criatividade foi fundamental para garantir a tradição dos desfiles das escolas de samba de Santos.
Nos anos 80, Santos ostentou o título de segundo melhor Carnaval do Brasil (atrás do Rio de Janeiro).
O secretário de Turismo, Rafael Leal, reconheceu as dificuldades enfrentadas pelas agremiações em razão da diminuição das verbas destinadas pelo Poder Público e elogiou a qualidade dos desfiles apresentados na passarela.
“Foi uma grata surpresa”.
Para 2019
Se o Carnaval de 2018 foi de superação, o de 2019 será de evolução.
É o que espera o presidente da Liga, que planeja para março um encontro com o secretário (agora na pasta de Cultura) e o prefeito Paulo Alexandre.
Na pauta, a possibilidade da Licess administrar o Carnaval, de forma que a entidade e as escolas captem recursos para fortalecer o setor.
“Queremos trabalhar para fazer um belo Carnaval para 2019, administrando-o de ponta a ponta”, explica o dirigente.
“Buscaremos um relacionamento maior com o setor turístico, com promoção de eventos e atração de segmentos da Cidade para fortalecer as escolas”.
Apesar de achar a proposta louvável, Leal entende que algumas etapas precisam ser cumpridas, como a criação de corpos jurídico e técnico para a profissionalização.
“Estamos em um processo de amadurecimento, que requer profissionalismo e maturidade para crescer”, enfatiza.
Ele reconhece, porém, que a festa ainda não é um produto turístico.
“Hoje, o Carnaval santista é uma manifestação cultural e de desenvolvimento econômico”, reconhece.
A geração de empregos é um dos argumentos do dirigente da Liga para fomentar a economia local e destacar a potencialidade do Carnaval.
Somente a X-9 investiu R$ 122 mil em mão de obra gerando 84 empregos durante 4 meses.
Antecipação
Outro ponto polêmico em pauta é a antecipação dos desfiles das escolas de samba, conforme solicitação da Liga.
Desde 2016, eles ocorrem uma semana antes da data oficial. O presidente da entidade, por exemplo, se opõe. “Não está sendo benéfico às escolas”, crê.
A opinião é compartilhada pelo secretário-geral da Licess, Heldir Lopes Penha, o Aldinho, também diretor-geral de Carnaval da União Imperial.
“Isso precisa ser revisto”.
A expectativa é que haja mudança em 2019, quando a festa ocorrerá de 2 a 5 de março.
Leal explica que a decisão foi da Liga, cuja maioria dos dirigentes optou pela mudança.
Para ele, a iniciativa foi uma “decisão inteligente”.
Ele enumera profissionais do samba que puderam participar dos desfiles das escolas de São Paulo e Rio em razão da antecipação.
“O intercâmbio cultural é fantástico”.