Neste domingo (15), comemora-se o Dia do Professor, profissional que ajuda na formação de gerações. Desse modo, professores comentaram sobre o atual cenário e a importância por trás dessa profissão – nem sempre valorizada como se deveria.
Papel do professor
Segundo a professora-doutora Maria Amélia do Rosário, é necessário entender que houve uma mudança drástica na concepção sobre o papel do professor.
Para ela, o docente é aquele que pensa, organiza, reflete, propõe, dialoga e estabelece contatos e possui um certo grau de autonomia na sala de aula e no local onde trabalha. Contudo, atualmente existe um tipo de professor que cumpre algo que nem sequer ele tenha realizado, seja um planejamento ou uma organização de conteúdo oferecida por terceiros.
A professora conta que, dessa forma, este tipo de docente passou de um professor para ser um mero reprodutor de roteiros de aulas feitos por outras pessoas.
De acordo com a pedagoga Izabel Rodrigues, o professor é quem dita os rumos e caminhos que o aluno pode seguir, alguém que mediará o conhecimento que ele vai adquirindo. “O professor é um orientador, um mediador. Além disso, não apenas de conhecimento, mas muitas vezes a figura do professor acaba por ser a referência que ele tem para dar-lhe um norte na vida”.
Desafios
Conforme Izabel, os professores sofrem desafios nos dias de hoje como desvalorização, recursos escassos, rotina estressante, salário não compatível e diversos outros pontos negativos.
Ela afirma que o professor não se desliga da escola, pois respira educação 24h, trabalhando, inclusive aos finais de semana, produzindo aulas e materiais.
Já para Maria, por exemplo, o professor deve trabalhar com e para a humanização de seus conceitos. “A lógica do salve-se quem puder, seja empreendedor de si, tem se chocado com os valores que vieram organizando a profissão do professor, valores de formação e construção da humanidade do homem. A função não é só de passar conteúdo, pois isso pode se passar por meio da internet, mas também analisar, discutir e perceber que quanto a concepção do mundo só o professor pode fazer”.
Mudanças
Na ditadura, houve um violento processo de despreparo dos professores. “Nesse período, precisavam formar professores. Então formaram-se de qualquer jeito e lugar, em cursos breves e rápidos. Outra mudança é a questão da Educação ser tratada como produto que visa lucro. Isso tem sido o grande destruidor das práticas educativas, pois tudo tem que dar lucro. Por que a gente tem tantos cursos à distância? Por que o curso vende no Brasil inteiro, sem critério, sem controle nem avaliação”, lamenta Maria Amélia.
De acordo com a pedagoga Izabel, um dos pontos principais das mudanças foi a introdução da tecnologia. Por exemplo, uma lousa digital faz toda a diferença na rotina de uma sala de aula.
Apagão
Um dos temas que seguem em discussão é o “apagão dos professores” com a falta de profissionais em razão do desinteresse pela profissão.
Para Izabel, ela acredita que pode acontecer um apagão, mas não sabe o tempo determinado, todavia alerta que se não houverem mudanças, principalmente nas etapas finais dos ensinos (Fundamental 2 e Médio) esta possibilidade se tornará real.Para se reinventar, ela enxerga que o fator que pode sempre ajudar é justamente investir na Educação.
A professora Maria acredita que haverá um apagão dos professores bem qualificados, mas o grupo de professores que foram formados, em cursos de EAD, por exemplo, irão sempre existir. Todavia, em outras disciplinas, seja Física, Química, Filosofia, os professores estão engajados em atividades mais bem remuneradas e avaliadas socialmente.
Ela ainda fortalece que não são os professores que precisam se reinventar, mas as condições que abrigam o profissional que precisam se reinventar. Dessa forma, os professores estão submetidos a uma lógica e ordem que os exclui dessa característica crítica de professor. “Isso torna-se um debate importante sobre o que os responsáveis querem para o futuro dos filhos”.
Além disso, a família tem papel preponderante para atuar com conjunto com a escola na formação destas crianças.
Salário
De acordo a professora Maria, alguns docentes, por exemplo, ganham no Ensino Médio, uma média de R$ 20 a 40 por aula. Para alguns, pode ser suficiente, mas outros não. Para ela, a desvalorização do papel do professor é um ponto triste, mas real na profissão.
Já a pedagoga Izabel relata que a condição financeira depende muito das redes particular e pública. Ela afirma que é praticamente impossível ter uma vida tranquila dando aula em apenas um período.
Assim, por exemplo, o professor precisa se dedicar de dois ou três períodos para receber uma remuneração suficiente para organizar as contas. “No mundo ideal, o professor deveria poder se dedicar inteiramente a uma turma, desenvolver ótimas aulas, estar com a mente mais tranquila para auxiliar os alunos, com mais foco na turma”.
No entanto, na prática, professores lidam com turmas com até 50 alunos. O professor apresenta um papel insubstituível na formação de seres humanos para o desenvolvimento de um futuro melhor para a sociedade. Os docentes não formam apenas mentes, mas também caracteres.