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06 DE MARÇO DE 2009

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Preservação eterna

Preservar algo para sempre. Ou quase sempre. De forma que o tempo não destrua e que as próximas gerações consigam estudar e ter noção do que era? Por meio da taxidermia, isso é possível. Inventor de uma técnica própria criada em 2003, que substitui a velha forma de ‘empalhar’ os animais, o taxidermista e autodidata […]

Por: Da Redação

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Preservar algo para sempre. Ou quase sempre. De forma que o tempo não destrua e que as próximas gerações consigam estudar e ter noção do que era? Por meio da taxidermia, isso é possível.

Inventor de uma técnica própria criada em 2003, que substitui a velha forma de ‘empalhar’ os animais, o taxidermista e autodidata Nelson Dreux Costa deu início a uma nova fase na taxidermia. “O maior objetivo sempre foi manter o realismo, preservar a anatomia real do animal. E isso nem sempre era possível com a serragem, pois alterava o peso do animal, a coloração e além do mais não durava tanto”. Usando como matéria-prima garrafas plásticas e as triturando, ele obtém o material perfeito para ‘rechear’ os animais.



“O visual do animal também é importante. Por isso, faço o acabamento fiel, pinto-os. Dessa forma, as pessoas, principalmente as crianças, irão associar quando virem o animal novamente e lembrar de terem o visto no museu”, diz Costa, que trabalha no laboratório  de taxidermia do Museu de Pesca, em Santos.

Apaixonado pelo que faz, há oito anos Nelson encara a vida de taxidermista como um sacerdócio. “Não tem dia, noite, final de semana, feriado… Eu vivo disso e para isso, sem a menor dúvida!”, conta.
A paixão é tanta que os desafios deixam de sê-los. Nelson conta que até 2003 nenhum animal da classe dos cefalópodes havia sido taxidermizado.
“Mas quando vi a lula gigante, bati a cabeça de todas as formas e acabei encontrando uma maneira pioneira de taxidermizar um animal daquele porte”, orgulha-se.

Os tentáculos, que Nelson considera a parte mais complicada, foram feitos com fibra de vidro. “Esse trabalho me rendeu um contato com um pesquisador do Smithsonian, um cientista que é referência mundial em cefalópodes. Ele ficou maravilhado e muito interessado em minha técnica”, diz.

Para ele, os animais mais difíceis de aplicar a técnica foram a lula gigante e a raia manta. E os mais fáceis? “Fácil de fazer com a mão nas costas? Provavelmente os crustáceos e os tubarões pequenos”, entrega.

De Angola  para  Santos

O taxidermista Nelson Dreux Costa se emociona só de lembrar. Busca um álbum de fotos e começa a contar a história mais emocionante que seu trabalho já lhe trouxe: a do cão Nero. Tudo começou com um telefonema do representante da Embaixada de Angola em São Paulo, John Victor Quibemba, agendando uma visita para conhecer o trabalho do taxidermista em Santos.




Após a visita, Quibemba relatou que em seu país havia um cão pastor alemão acometido de câncer no focinho, que o governo da República Popular de Angola gostaria de taxidermizar por ser considerado herói nacional.

Costa, experiente na taxidermia de animais aquáticos, aceitou o desafio: no dia 12 de maio de 2006 iniciou o trabalho em Nero, nome do cão pastor-alemão, com a presença de uma veterinária da Polícia Nacional de Angola, a brasileira Ana Paula Schueber.

“Foi emocionante e difícil. Minha primeira condição era que o cão estivesse morto. Porém, a veterinária veio e realizou a eutanásia aqui na sala. Foi um momento duro para todos. O angolano chorava feito uma criança. Deu pena…”, relembra, emocionado.
No dia 11 de junho, Nero retornou ao seu país em uma redoma, acompanhado de uma placa com a seguinte inscrição:

“Aos 18 de fevereiro de 2002, quatro cães de pista da Polícia Nacional de Angola, dentre eles o cão Nero, uniram-se às Forças Armadas para tentar capturar Jonas Savimbe. O lugar é Moxico, região que se encontra a leste de Angola. Os cães de pista Rex, Ike, Brutus e Nero, especialmente treinados pela polícia nacional, foram levados numa operação que recebeu o nome de Kissonde, onde o objetivo era encontrar o líder rebelde Jonas Savimbe. As forças armadas já estavam no local havia algum tempo, mas a dificuldade de visibilidade era muito grande, o que impedia o trabalho de captura. Após quatro dias de busca na mata, o cão Nero farejou a coluna em que seguia o líder rebelde e juntamente com ele sua esposa e mais três jovens. Jonas Savimbe foi imediatamente capturado e morto pelas forças armadas de Angola”.

“Chegava ao fim quase 30 anos de guerra: a partir daquele momento a ordem voltaria a existir nas ruas e Angola poderia finalmente comemorar a paz que tanto procurou. O cão Nero viveu sob a responsabilidade da Polícia Nacional de Angola e foi acometido de um câncer no nariz. Curiosamente, a parte do corpo que lhe tornou herói é agora a parte responsável por dar cabo à sua vida”.

São histórias assim que fazem Nelson considerar sua profissão um sacerdócio. E há como discordar? Não.Afinal de contas, junto com o plástico triturado são contadas histórias, guardadas memórias e mais do que nunca, mantidas as saudades. “Lembro até hoje de ver sofrimento em seus olhos. Ele tinha  11 anos, mas estava com metástase, ou seja, sofrendo demais. E agora ele será lembrado para sempre como herói, em sua melhor forma”, alegra-se.

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