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21 DE AGOSTO DE 2009

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Sociedade virtual

Após o horário de saída da escola, a estudante Andressa Barbosa, 15 anos, larga seu MP7 e corre para casa: tem compromisso marcado com o computador. Enquanto checa as mensagens do Orkut e as últimas novidades de sua lista de amigos do site de relacionamentos, aproveita para “bater papo” no MSN e enviar torpedos às […]

Por: Da Redação

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Após o horário de saída da escola, a estudante Andressa Barbosa, 15 anos, larga seu MP7 e corre para casa: tem compromisso marcado com o computador. Enquanto checa as mensagens do Orkut e as últimas novidades de sua lista de amigos do site de relacionamentos, aproveita para “bater papo” no MSN e enviar torpedos às amigas para tomar conhecimento dos planos para o final de semana. Substitui a audiência dos programas televisivos pelo acesso ao Youtube para assistir aos capítulos da novela que perdeu no dia anterior e, simultaneamente, navega pelo Twitter e pelo seu blog para ver os comentários recentes deixados no espaço que criou para cultivar sua liberdade de expressão.

“Não passo menos que cinco horas diárias em frente ao micro. Não sei mais viver sem celular e, se a internet cai, fico desesperada”, diz.
Se, antes, a sociedade era inserida em um contexto de dinamismo e execução de múltiplas atividades (Geração Y), fomentado pelo princípio dos avanços tecnológicos e surgimento da internet, a atual geração vivencia o sobressalto desses estímulos e busca o relacionamento interpessoal por meio de redes sociais on line: é a chamada Geração F (Facebook). E Andressa é apenas uma das milhares de pessoas que compõem o cenário de incentivo democrático à criatividade e liberdade de expressão por meio de blogs, fóruns de discussão na web, além de sites de relacionamento pela internet, tais como Facebook – que soma mais de 1,3 milhão de usuários no Brasil – e Orkut, com 24 milhões. Já o Twitter, microblog com popularidade crescente na internet, registrou um aumento de 700% no tráfego em um ano.

De acordo com a Anatel, o índice de assinantes de celulares aumentou, nos primeiros meses deste ano, em relação a 2008, mais de 0,6%, e beira 160 milhões de assinaturas. No País, a comunicação de dados, com inclusão do envio de torpedos, chega a 10% do faturamento das operadoras de aparelhos móveis. Segundo a Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) e o Sindicato das Empresas de TV por Assinatura (SETA), usuários de internet em alta velocidade somaram 2,8 milhões, o que representa um aumento de 43% em relação ao primeiro trimestre de 2008.



O futuro é o “agora”
“A geração atual é composta por jovens cujos relógios sociais funcionam em segundos, velocidade que faz com que relações, propostas, planos e realizações tenham a eternidade do efêmero. Para eles, o futuro próximo parece que já passou”, afirma o sociólogo e professor universitário Claudio dos Santos.

O sociólogo explica que,  para essa geração, é mais importante “ser rápido no gatilho” do que preocupar-se com a solidez da edificação dos relacionamentos interpessoais. ”O que é mais rápido do que o computador, a internet, o Twitter e o MSN? Texto em papel e livros, para eles, não deveriam mais fazer parte da vida moderna. Esse tipo de material deveria existir apenas nos museus, como as carruagens e as polainas”, complementa.

A socióloga Terezinha Ayud Pelizari compartilha da mesma opinião e explica que a fase social pós-moderna vivenciada e cultivada pela chamada Geração F é caracterizada, principalmente, pela tecnologia e globalização, as quais permitem que o usuário da web conecte-se com o mundo, por mais que, na maioria das vezes, não estabeleça contatos profundos com as pessoas mais próximas. “Hoje, a socialização é muito mais virtual do que visual, sob a proteção do teto e das paredes dos condomínios. Tudo é fugaz e focado no presente, sem projeções a longo prazo. Isso pode acarretar no desenvolvimento de uma série de medos e fobias sociais, além de um profundo processo de desencaixe social, manutenção de relações supérfluas e ausência de solidariedade”.

A mudança do conceito familiar – no qual torna-se quase que obrigatória a saída da mulher do lar para o mercado de trabalho – também é outro aspecto elencado como causa do surgimento da Geração F. “O ser humano é mais individualista, hoje. O consumo, a busca desenfreada por uma posição financeira e profissional no mercado de trabalho e a adequação em novos grupos sociais pela web passam a ‘vender’ a segurança e a auto-estima que a família, atualmente desintegrada, deveria oferecer ao indivíduo”, ressalta a socióloga. “A busca por uma crença ou uma vida espiritual que não trabalhe conceitos capitalistas é uma forma de tornar a dinâmica da atual geração mais saudável”.

Mercado de Trabalho
Empresas e atividades profissionais também conquistaram novo posicionamento social frente à Geração F, pois o profissional mais jovem tende a ter mais proximidade em seu dia a dia com as inovações da internet e das redes sociais. De acordo com o setor de Recursos Humanos da empresa de recolocação de mercado de trabalho Currilum, jovens com perfil dinâmico e polivalente estão criando uma vantagem competitiva para trabalhar em certos segmentos, em relação às pessoas um pouco mais afastadas destas inovações. Para atender às empresas, frente a um mercado altamente competitivo, é exigido  profissional competente, sobretudo criativo e líder, além de flexível e “antenado” às novidades do mundo e da web, em concordância ao mundo globalizado.


Exposição abusiva traz riscos

A estudante Andressa Barbosa nem sabe dizer, ao certo, quantas amigas e conhecidas divulgam no Orkut fotos sensuais em trajes de banho e até mesmo íntimos. “A intenção delas é chamar a atenção dos garotos. Eu acho ridículo”, desabafa. Ela conta que uma antiga colega de classe chegou a pedir transferência de escola devido à pressão que sofreu dos alunos após a publicação indevida de determinadas fotos. “Minha colega enviou a um garoto da escola, pela internet, algumas fotos trajando sutiã e calcinha. Ele criou um perfil falso no Orkut com o nome dela, postou todas as suas imagens e enviou a página para todos do colégio. Seus pais ficaram chocados com a repercussão e a pressão dos nossos colegas foi tão grande que ela pediu para sair da escola”.

Para a mãe da estudante Andressa, a psicóloga Marise Barbosa, é obrigação dos pais supervisionar a conduta dos filhos, principalmente dos adolescentes, na internet. “A web é um mundo aberto, sem fronteiras, e por isso é necessário que quem a utilize tenha consciência disso. Os jovens só podem ter conhecimento dos perigos cibernéticos se houver orientação dos pais”, afirma. “Eu tenho com a Andressa um diálogo muito aberto. Ela sempre me mostra os amigos que adiciona no Orkut e as fotos que coloca. Não invado a privacidade dela, mas, sim, participo de sua vida”.

A procuradora da República no Estado de São Paulo, Melissa Garcia, reafirma a atitude de Marise e ressalta que os pais devem lidar com a internet como lidam com qualquer outro espaço público. “Da mesma forma que alertam seus filhos para não conversar com estranhos, devem instruí-los de que na rede navegam pessoas boas e ruins e que, por isso, devem ter cuidado”.

Segundo o Ministério Público Federal em São Paulo , só em relação ao Orkut, foram denunciadas 1.926 páginas por agregarem notícias ou conteúdo de pornografia infantil. As investigações tiveram início em junho de 2008. Além disso, foi rompido o sigilo de 1.287 páginas do mesmo site de relacionamentos por denúncias de pedofilia.

 “É importante que os usuários postem na rede somente aquilo que gostariam que fosse visto por milhares de pessoas, excluindo dados que permitam localizá-las ou trazer riscos de exposição”, complementa a procuradora.

A psicóloga clínica Giovana Campanilli Basile justifica a exposição excessiva entre os jovens na internet como um fator de busca por grupos de identificação e, especialmente na adolescência, ânsia pela exploração da sensualidade. “A rede de contatos que a web oferece facilita o encontro com outros adolescentes, criando, a partir daí, grupos que se identificam. A busca é a mesma, como em outras gerações, só houve mudança nas ferramentas deste processo”, afirma. A profissional alerta que o acesso abusivo à internet deve preocupar quando o indivíduo deixa de lado obrigações e, até mesmo, a alimentação e higiene pessoal para permanecer em frente à tela do computador. “As relações virtuais estão tornando-se, cada vez mais, reais e não há como reprimir isso. É importante saber que a web também favorece na compreensão da dinâmica e na formação de identidade, mas sempre com devida interação dos pais e alerta sobre possíveis perigos e malefícios pessoais que possam ser gerados”.


 

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