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Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Educação

06 DE DEZEMBRO DE 2024

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Brasil perde quase 7 milhões de leitores

Especialistas da área comentam sobre os impactos e principais desafios no incentivo à leitura

Por: vinícius dantas
Da Redação

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Com o avanço das tecnologias digitais e a popularização das redes sociais, os hábitos de consumo de informação mudaram bastante. O que antes era consumido em material impresso, agora está facilmente disponibilizado entre sites, documentos digitais, vídeos e outros recursos. Contudo, mesmo apesar dessa mudança entre o impresso e digital, o fator mais importante é o hábito da leitura.

Para ter noção quem retrata este cenário é a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil do Instituto Pró-Livro realizada para avaliar o comportamento do leitor. O fato é que o Brasil perdeu quase 7 milhões de leitores entre 2019 e 2024, sendo 6,7 milhões na diferença total desses cinco anos. Portanto, em 2019 haviam 100,1 milhões de leitores, já em 2024 caiu para 93,4 milhões. Vale mencionar que a pesquisa é realizada desde 2007 e o seu maior ano de leitores foi em 2015 com 104,7 milhões. Já o seu menor ano foi 2011, com 88,2 milhões.
Vale mencionar que o estudo define como leitor aquele que leu por inteiro ou em partes, pelo menos um livro, de qualquer gênero, impresso ou digital.

Queda

Segundo a pedagoga e docente da Faculdade de Educação da USP, Elaine Vidal, não é possível indicar apenas um fator único para essa queda de leitores. Ela cita que um ponto evidente é a internet e redes sociais, que tomam o tempo das pessoas. Portanto, o tempo livre, que pode ser dividido entre diversas atividades de lazer, está sendo trocado pelo digital.

Dessa forma, as pessoas estão navegando nas redes sociais, na internet ou jogando vídeo-game.

Outro fator é a mediação da leitura, pois ela informa que é importante ter alguém para indicar o livro. Dessa maneira, conversar sobre ele e isso culturalmente não existe no Brasil. “Então, por exemplo, se a gente entra em uma loja, é comum ver o atendente mexendo no celular, mas não é comum ver lendo um livro. É comum ouvir uma pessoa indicando uma série para outra. Isso é mais comum do que ouvir uma pessoa indicando livro para outra, acho que tem essa questão cultural que permeia o Brasil também”.

Impactos

A professora aborda que essa redução de leitores impacta muito no desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças e adolescentes. Pois a leitura trata-se de atribuir sentido a um texto, leitor é aquele que atribui sentido próprio a um texto. “Esse sentido será atribuído de acordo com as vivências dele, com os conhecimentos prévios que ele traz, com o modo dele de se relacionar com o mundo, então essa atribuição de sentido é fundamental para o desenvolvimento cognitivo”.

Com isso, no momento que você tem por exemplo, uma rede social ou uma TV, os produtos são entregues prontos, deixando pouco espaço para essa atribuição de sentido. Então, as imagens e as conclusões estão próximas, pois há muito mais uma relação de consumo desses produtos do que uma interlocução desse sujeito com o autor da obra, o que a leitura garante.

Outro desafio é o professor se constituir ele mesmo enquanto leitor. “Nos resultados dessa pesquisa, as pessoas indicam como maior vilão, o motivo para pararem de ler que é a falta de tempo. E hoje quando olhamos para o professor que isso é muito real, temos professores que trabalham em dois, até três períodos. Por mais que eles gostem de ler, a necessidade da sobrevivência os obriga a estarem trabalhando o tempo todo, e acaba comprometendo”.

“Se o professor não é leitor, é muito mais difícil dele promover a leitura entre os seus estudantes. O terceiro desafio é convencer a sociedade que está muito convencida de que os professores são inimigos, que a literatura é algo perigoso, mostrar que não, que criar sujeitos críticos, pensantes, cidadãos participativos é algo positivo e algo que deve ser incentivado e não rebatido”.

Incentivo

Com relação ao incentivo do hábito da leitura nas escolas, Elaine afirma que a leitura tem que ser um triângulo, com leitor, livro e o mediador da leitura, sujeito esse que facilitará essa interlocução entre o leitor e o livro.
“O segundo ponto é que haja livros disponíveis, temos diversos programas que garantem obras literárias de muita qualidade dentro das escolas, mas o que acontece é que, às vezes, vemos situações em que essas obras não saem da caixa e ficam trancadas em uma biblioteca”.
Assim, conforme a docente, professores e alunos acabam não tendo acesso a elas. “Isso tem que ser bem distribuído, tem que ter acesso, mesmo a criança pequena tem direito de pegar um livro, de folhear, porque junto com a leitura, ela aprende o comportamento do leitor e esse comportamento é como cuidar de um livro, como usar marcador de texto, como consultar um índice. Tudo isso são comportamentos de leitores que também se aprendem”.

Escritora

Já no olhar da escritora Helena Fraga, o Brasil ainda possui 90 milhões de leitores. “Portanto, o que eu acho é que a gente realmente precisa fazer com que esses leitores voltem ou comecem fazer um trabalho desde agora para que mais pessoas se interessem pela leitura. Eu acredito também que a rede social ajuda e atrapalha nesse contexto, mas leitura e hábito de leitura é uma coisa que você começa dentro de casa, então a gente como escritor deve trabalhar para que os pais incentivem seus filhos a ler”.

Outro desafio citado por Helena é que atualmente é preciso trabalhar com pessoas mais jovens e escrever sobre temas que as pessoas procuram. Assim, deverá haver um trabalho do escritor para pesquisar o que essa faixa etária mais jovem está querendo saber.
“Por exemplo, temos um grande número de escritores na Amazon voltados a esse público, o que na verdade, eles escrevem exatamente o que essas pessoas querem ler, não é que você vai mudar o jeito de escrever, mas procurar temas e formas, e mostrar novas formas de suas escritas para outros públicos”.

Literatura

A escritora informa ainda que acredita que os brasileiros valorizam bastante o escritor de fora. “Há muita profissão independente boa que não é valorizada aqui. Então, da parte do escritor, eu acho que cada vez mais nós teremos que ir até a escola, mostrar o nosso trabalho e fazer esse tipo de entrada. Mas isso não é fácil, pois depende da diretora, da escola e de uma série de fatores que impedem o próprio escritor. A mídia poderia falar mais sobre Literatura, ter mais matérias para contar e mostrar autores novos, antigos, fazer mais divulgação da literatura brasileira”.

Ela aborda também que a Literatura funciona como uma “cadeia” envolvendo autores, editoras, livrarias famosas. “Você nunca vai criar nada novo se não apoiar o pequeno. A Literatura não tem apoio algum, nem da editora grande, então vai acabar tudo, se não mudar o trabalho dentro delas”.
Ela aborda que hoje se o escritor não fizer tudo, ele não é lido, só que uma pessoa para fazer tudo é complicado e nem todo escritor tem verba para gastar e para investir.”Além disso, no Brasil, eu acho que os preços dos livros, em alguns casos, são bem caros, mas existe muita oferta boa, mas falta um encontro para isso tudo. Falta uma cadeia que se alimente”, reitera.

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