Comprar um produto na internet sem nota fiscal, de algum desconhecido ou em uma loja duvidosa pode servir de alimento para o crime. Por trás daquele baixo e atraente preço muitas vezes alguém pagou um valor muito alto: a própria vida.
Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar em proveito próprio ou alheio coisa que sabe ser produto de crime é ilegal, segundo o artigo 180 do Código Penal. E por conta da desinformação ou inconsequência na compra de objetos, consumidores contribuem para o aumento de roubos, furtos e latrocínios.
O secretário de segurança da Prefeitura de Santos e coronel reformado da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Sérgio Del Bel Júnior, recomenda que antes de adquirir um produto, o consumidor assegure-se quanto a idoneidade da loja e desconfie quando o preço não for compatível ao do mercado.
“Quando o preço é muito mais barato com certeza é produto de um crime. As pessoas que o compram podem estar adquirindo o fruto de um crime no qual a vítima pode ter morrido”, afirma. “Antes de obter a mercadoria, devo refletir onde vem o lucro daquele lojista?”, indaga.
Registro
Atualmente cerca de 30% dos crimes de roubo e furto no estado de São Paulo, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado, têm como alvo os aparelhos de celulares.
E foi por este motivo que em 2016 a Polícia Civil passou a registrar nos boletins de ocorrência o IMEI (International Mobile Equipment Identity ) dos celulares roubados e furtados.
Na região de Santos (Baixada Santista e Vale do Ribeira), 20 pessoas já foram vítimas de latrocínio (roubo seguido de morte). Em 2016 e 2015 foram 25 cada e em 2014, 28.
Como consultar?
O IMEI é um número que está visível na nota fiscal da compra do aparelho, na etiqueta colada no aparelho, que é avistada ao retirar-se a bateria, ou ainda, para determinados aparelhos celulares na tela do telefone, ao digitar, no teclado do referido equipamento, o código *#06#.
Antes de efetuar a compra de um celular, por exemplo, o cliente pode acessar o site Consulta IMEI para verificar a situação do aparelho móvel em negociação.
Se o aparelho for fruto de roubo, este será indicado pelo site. Caso contrário, aparecerá “não cadastrado na base” no campo resultado.
Em outubro de 2015, o estudante Luann Oshiro, de 18 anos, foi vítima de latrocínio em um ponto de ônibus da Avenida Francisco Glicério, no Gonzaga. O motivo: tentativa de roubo do celular do estudante.
Desde então, o pai de Luann, Paulo Oshiro, de 47 anos, está à frente do Projeto Luann Vive, lutando pela conscientização sobre a receptação, promovendo a campanha Receptação é crime, focada em alertar aos jovens sobre o risco da compra de produtos de origem duvidosa.
“Às vezes, as pessoas compram inocentemente uma coisa sem saber a procedência. A pessoa que comprou o produto roubado está cometendo um crime e é responsabilidade dela saber a procedência. (…) Quanto mais as pessoas incentivarem, mais casos como o do Luann vão se repetir”, lamenta.
A partir do Projeto Luann Vive (iniciativa que visa dar continuidade nos projetos do jovem assassinado), Paulo e uma equipe de voluntários promovem ações sociais em Santos, que em breve serão ampliadas para São Vicente.
Há duas semanas foi inaugurada a brinquedoteca Núcleo de Jornada Ampliada Luann Oshiro, na Praça Rebouças, que atende crianças de segunda a sexta-feira, das 8 às 17h, um espaço lúdico e colorido.