Mesmo com a aprovação da reforma da Previdência, o país continuará a registrar déficits primários – resultado das contas públicas desconsiderando os juros da dívida – até 2025, só voltando a ter resultados positivos em 2026.
A conclusão consta de relatório da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão auxiliar do Senado, divulgado hoje (15).
O relatório também apontou alto risco de descumprimento do teto de gastos – que limita o crescimento das despesas federais à inflação – a partir de 2022.
Para 2019 e 2020, a IFI considera baixas as chances de os gastos estourarem o teto. Entretanto, vê risco moderado em 2021.
O principal fator para a revisão das projeções foi a piora nas previsões de crescimento econômico. E também na arrecadação do governo no curto prazo.
A IFI reduziu de 2,3% para 1,8% a estimativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos) para 2019.
Para 2020, a instituição revisou a estimativa de crescimento de 2,36% para 2,24%.
Estímulo
Segundo a IFI, o acionamento de gatilhos para o teto de gastos a partir de 2023 reduziria o gasto com pessoal em quase dois pontos do PIB.
A mudança seria de 4,2% para 2,5% do PIB entre 2020 e 2030.
Apesar disso, os gatilhos seriam insuficientes para que o governo tivesse margem para executar as despesas necessárias para o funcionamento da máquina pública.
O menor crescimento adiará a estabilização da dívida pública. No cenário base, o mais provável, a projeção da dívida bruta do Governo Geral para o fim de 2019 passou de 77,8% para 79,6% do PIB.
O endividamento continuaria a crescer até atingir o pico de 85,5% do PIB em 2025. E, posteriormente, começando a cair, até chegar a 82,6% do PIB em 2030.
No relatório anterior, a dívida atingiria o ponto mais alto de 82,7% do PIB em 2023. E, em 2024, caindo para 72,2% até 2030.
Por outro lado, há o cenário mais pessimista. Ele não considera a aprovação de nenhuma reforma.
Dessa forma, a dívida bruta do Governo Geral atingiria 100% do PIB em 2026. Portanto, não em 2030, como anteriormente estimado.
Perda de fôlego
O relatório destaca a perda de fôlego da indústria e a manutenção das incertezas domésticas como fatores principais para a revisão para baixo do crescimento econômico.
Além disso, a IFI cita o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG) como fator de impacto na indústria extrativa.
Na indústria de transformação, os principais responsáveis pela desaceleração foram o enfraquecimento da demanda argentina.
É o principal destino das mercadorias manufaturadas brasileiras, e a demanda doméstica mais fraca.
Em relação ao varejo, o relatório informa que o desemprego ainda alto impede a recuperação do consumo interno de bens e de serviços.
No entanto, a IFI pondera que as projeções para o PIB de 2019 podem ser revistas para cima. Isso caso o governo consiga aprovar ações para equilibrar as contas públicas e incentivar a produtividade.
Criada em dezembro de 2016 por resolução do Senado Federal, a Instituição Fiscal Independente produz relatórios, notas técnicas, banco de dados e projeções econômicas.
Tudo é levado em conta pelos parlamentares na análise de projetos de lei e de medidas do governo.
O órgão pode agir tanto por iniciativa própria como quanto por demandas específicas de senadores.