O pronunciamento do agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, jogou uma bomba no colo do presidente Jair Bolsonaro, que agora precisa esclarecer os motivos que o levaram a pedir a troca do comando da Polícia Federal.
“Fiquei sabendo pelo Diário Oficial a saída do diretor Valeixo, com a informação ‘a pedido’ “, disse Moro.
O presidente Bolsonaro chegou a contatar Moro ontem a noite para avisar sobre a publicação no Diário Oficial.
“Não assinei este decreto”, refutou, a respeito da assinatura digital na portaria.
Em sua fala, Moro relatou interferências por parte do presidente para mudanças no comando da PF, que culminou com a exoneração de Maurício Leite Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal
“Por que trocar?”, indagou Moro, relatando que o trabalho realizado pela PF tem sido exemplar.
E elencou vários pontos realizados até o momento, como aumento da apreensão de drogas no País, a prisão do líder Fuminho, do PCC, que estava foragido há mais de 20 anos, na semana passada, e a redução da criminalidade.
Além disso, Moro chegou a dizer que Bolsonaro confirmou-lhe que a troca do diretor-geral tinha motivação política.
E que o presidente gostaria de alguém no comando da PF de sua confiança, inclusive tendo acesso a relatórios de inteligência.
“Isso seria inadmissível”, disse Moro.
“Imagine se na Operação Lava-Jato, presidentes e ministros tivessem acesso às investigações da PF em andamento”, acrescentou.
Em suma, Moro resumiu: “”O presidente me quer fora do cargo”.

o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Aleixo, foi exonerado do cargo. Foto: José Cruz/Ag. Brasil
Comparação
Aliás, Moro chegou a comparar o atual momento com o início da Lava-Jato, em 2014, ainda no governo Dilma Rousseff (PT).
E chegou a afirmar que naquela ocasião – a despeito das descobertas de esquemas de corrupção envolvendo líderes do governo – havia autonomia para as investigações.
Apenas houve uma tentativa de mudança da PF durante o governo Temer, que ficou três meses do governo.
“Este valor é fundamental dentro do estado de direito”.
E salientou que um dos motivos das mudanças na cúpula da PF e as respectivas superintendências, especialmente no Rio de Janeiro e Pernambuco, teria relação com o temor do presidente com as ações que correm contra o presidente e seus filhos no Supremo Tribunal Federal.
Bolsas em queda
Enquanto o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, concedia entrevista coletiva para anunciar sua saída do cargo, a bolsa de valores caia 8%, chegando a pouco mais 73 mil pontos.;
Além disso, o dólar bateu novo recorde histórico, chegando a R$ 5,67.
Moro convocou a Imprensa após o presidente da República, Jair Bolsonaro, ter exonerado ‘a pedido’ Maurício Leite Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal.
O decreto com a exoneração de Valeixo foi publicado no Diário Oficial da União desta sexta-feira (24).
O documento é assinado digitalmente pelo presidente da República e pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
Moro confirmou que não assinou o documento, pois Valeixo foi indicado por ele.
Em sua conta, no Twitter, Bolsonaro postou o decreto, com o termo ‘a pedido’ e assinado digitalmente por ele e Moro.
E havia falado logo pela manhã à Imprensa que a mídia tinha errado a respeito da saída de Moro, em mais uma fake news.
Horas depois, Moro pediu exoneração do cargo.
O Palácio do Planalto ainda não se pronunciou.
Moro é o nono ministro a sair do governo Bolsonaro, em 16 meses de mandato.

Apesar de grifado como ‘a pedido’, na realidade o presidente exonerou o número 1 da Polícia Federal. Ministro deve anunciar logo mais em coletiva saída do governo.