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24 DE JULHO DE 2008

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Cuidados com a letra

A aposentada Maria Santos de Oliveira, 67 anos, está no balcão da farmácia e não consegue entender nada do que está escrito na receita prescrita pelo seu médico. “Eu já não sei ler direito e o médico escreve com esta letra complicada. Assim fica difícil de saber se estou comprando o medicamento certo e tomando […]

Por: Da Redação

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A aposentada Maria Santos de Oliveira, 67 anos, está no balcão da farmácia e não consegue entender nada do que está escrito na receita prescrita pelo seu médico. “Eu já não sei ler direito e o médico escreve com esta letra complicada. Assim fica difícil de saber se estou comprando o medicamento certo e tomando a dose correta. Todas as vezes que passo por algum médico pergunto o que ele está me receitando e quantas vezes preciso tomar” indaga.


A expressão popular letra de médico não é usada à toa e este não é um episódio isolado. Ele se repete diariamente nas farmácias, mas conforme o artigo 39 do Conselho Federal de Medicina, os médicos são obrigados a elaborar receitas legíveis e por extenso.


Segundo o coordenador do curso de Farmácia da Universidade Santa Cecília, Walber Toma , as prescrições ilegíveis não oferecem segurança ao farmacêutico nem ao paciente. “A falta de certeza e clareza da informação deixa o paciente inseguro. Muitas vezes os médicos indicam um medicamento que tem o nome parecido com outro, mas com efeito totalmente diferente. Isso pode comprometer a saúde da pessoa”. O coordenador afirma que a escrita correta é a garantia de que a pessoa está cuidando corretamente da saúde.


Um agravante apontado por Toma é a falta de experiência dos farmacêuticos. “Em muitos casos o profissional não tem experiência com balcão e pode entender errado o que está escrito. Mais uma razão para que seja tomado cuidado com as receitas”. Toma explica que é comum, também, os médicos confundirem as dosagens dos remédios. “Já peguei prescrições que indicavam comprimidos e o produto era vendido em cápsulas ou a dosagem não estava certa”.


No Brasil não há um estudo que aponte o número de mortes por erros de prescrição médica, mas levantamento realizado nos Estados Unidos durante o ano passado revelou que houve uma queda de 66% dos casos de erros de medicação depois que alguns hospitais adotaram o uso de computadores na prescrição da receita.


Para o oftalmologista Maurício Colmenero, as receitas digitadas não deixam dúvidas do que foi indicado e o tratamento é feito da forma adequada. “Muitas vezes o médico faz um bom exame, um diagnóstico correto, mas por uma má interpretação do que estava escrito corre o risco do resultado não ser alcançado. Isso é ruim para o médico e, principalmente, ao paciente”.


Colmenero conta que sua letra é terrível e acha falta de respeito o médico entregar uma receita ilegível ao paciente. “Acredito que muitos profissionais nem percebam o quanto sua letra é difícil de entender. Mesmo assim acho que é preciso ter cuidado e capricho”.


O médico que prescreve de maneira inadequada está em desacordo com Código de Ética Médica e a punição pode variar entre advertência confidencial até cassação da licença.


O mais comum, segundo Colmenero, é o médico receber a advertência. Ele acredita que a pior parte é o profissional ter a carreira prejudicada por um pequeno detalhe. “Nenhum médico foi cassado por escrever de forma ilegível, mas acho que a pior punição é não ter conseguido tratar seu paciente em uma situação tão simples de resolver. O mais difícil é chegar ao diagnóstico e, depois ver seu trabalho perdido”, comenta.

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