A queima de fogos na virada de ano é tradição em muitas cidades do país.
Mas o que é motivo de alegria e deslumbramento entre as pessoas, acaba sendo um momento de desespero para os animais, silvestres e domésticos. Além de idosos.
É possível, entretanto, criar um ambiente seguro para os animais de estimação, para minimizar os riscos de fuga ou para evitar que eles se machuquem.
“A nossa capacidade humana de perceber o mundo não é a mesma dos animais. A sensibilidade de audição e visão pode ser mais ou menos apurada para cada espécie”, diz a médica veterinária Vânia Plaza Nunes.
Ela é diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal e especialista em comportamento e bem-estar animal.
“Nós temos uma capacidade de um gradiente de cores muito mais complexo que a maioria dos animais, mas a percepção auditiva deles é mais apurada que a nossa”, explica
Riscos para os animais
Os riscos para os animais, segundo Vânia, são vários.
A luz e o brilho dos fogos de artifícios podem causar mais impacto nos animais noturnos, como, por exemplo, os morcegos e os gatos.
“Eles têm uma acuidade visual muito grande, então pouca luz já é suficiente. Então aquilo [fogos] causa pânico, porque foge ao padrão normal a que eles estão acostumados”, explicou.
Para o olfato, as bombas e fogos também são prejudiciais, pois liberam pólvora e outras substâncias químicas e metais.
Mesmo quando os fogos são disparados de balsas no mar, como no Rio de Janeiro e em Santos, as substâncias se depositam na água.
Isso pode afetar espécies marinhas de animais.
“Com o som, o problema é mais grave ainda”, disse a especialista.
Isso porque eles captam os infrasons e os ultrasons, que não são percebidos pelos humanos.
“Os morcegos usam isso para se orientar. Se você solta fogos em área perto de mata, eles vão perder a capacidade de voar, podem cair, entrar na casa das pessoas”, explica Vânia.
“Para os cães e gatos, aquilo também não faz parte do comportamento normal, eles ficam muito assustados”, acrescenta.
Segundo a veterinária, nesses momentos, os animais têm o chamado comportamento de luta e fuga.
Isso é instintivo a todos os seres vivos ao tentar se defender.
Ela explicou que, assim como os animais, pessoas com autismo e crianças pequenas também se incomodam com os efeitos dos fogos.
Preparando o ambiente
Vânia dá dicas que podem ser adotadas para amenizar o estresse e evitar que os animais fujam ou se machuquem.
Nas horas mais próximas à virada, para quem ainda tem aves em gaiola, ela orienta a deixá-las em um ambiente fechado e supervisionar os animais.
“Deixar água suficiente apenas para beber, mas sem risco de se afogarem caso sofram uma queda”, disse.
Para cães e gatos não é recomendado administrar calmantes, mas, se ministrados uma semana antes, é possível usar florais de Bach.
Eles são extratos naturais que ajudam a acalmar.
“E sempre que possível procurar orientação do veterinário”, disse Vânia.
Segundo ela, com antecedência, é possível preparar um ambiente confortável para o animal de estimação.
E, aos poucos, ir acostumando-o com esse ambiente.
É importante não deixar objetos que ele possa derrubar.
E não deixar portas ou janelas abertas, mas evitar que o ambiente fique excessivamente aquecido.
Também existem os feromônios de apaziguamento, que podem ser colocados no ambiente para deixá-lo mais harmônico.
Essas substâncias podem ser encontradas nas boas casas de produtos veterinários.
A especialista recomenda ainda colocar uma música ambiente em uma intensidade que vai competir um pouco com o som externo.
“E, se possível, a pessoa pode ficar junto, porque a companhia acalma o animal.
Mas tomando cuidado para não reforçar o comportamento de medo para o animal”, explicou.
Existe ainda uma técnica de enfaixar o cachorro, que funciona como um abraço, e pode trazer tranquilidade nos ambientes hostis.
Segundo Vânia, a faixa levemente elástica deve passar pelo peito do cão e cruzar e amarrar nas costas.
Mudança de comportamento
Para Vânia, as pessoas poderiam abolir os fogos de artifício como forma de diversão.
“Talvez usar os recursos de uma forma melhor, empregar o dinheiro para minimizar os danos ambientais e criar outros mecanismos de celebração social”, disse.
“Mesmo estando no século 21, continua-se reforçando esse tipo de prática. Está na hora de mudarmos esse marco civilizatório”.
Segundo a especialista, cidades estão conseguindo avançar em projetos de lei que regulam a comercialização e queima de fogos de artifício, como Campinas, Santos e Sorocaba.
“Tem uma minimização, mas não resolve o problema”, disse
Em Santos, a queima de fogos durará 16 minutos e será a segunda maior do País, atrás apenas do Rio de Janeiro.