A má utilização de antibióticos tem levado à resistência de micro-organismos, o que compromete a ação dos medicamentos e gera problemas de saúde pública de grande impacto.
O alerta vale também para a Medicina Veterinária, área em que o uso indiscriminado de antimicrobianos afeta não apenas a saúde animal, mas a população como um todo.
Afinal, de acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), vinculados ao Departamento de Saúde dos Estados Unidos, uma em cada cinco infecções resistentes são causadas por micro-organismos oriundos de alimentos e animais.
De acordo com o médico-veterinário Carlos Augusto Donini, presidente da Comissão Técnica de Políticas Públicas do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), o uso de produtos antimicrobianos atende às demandas da saúde animal, por meio do controle eficiente e necessário das doenças infecciosas.
Ele ressalta, porém, que “a utilização dessas substâncias deve seguir critérios rigorosos de procedimentos, feitos exclusivamente por médicos-veterinários, por representar uma linha tênue entre a cura adequada e o impacto da disseminação do possível agente infeccioso determinado pela resistência antimicrobiana”.
A resistência aos antibióticos é uma defesa natural das bactérias e possui uma alta capacidade de disseminação.
Segundo Donini, essa resistência é consequência, sobretudo, da escolha de substâncias ineficazes, doses insuficientes e prazos reduzidos da medicação, assim como o uso indiscriminado sem a devida avaliação médica-veterinária.
“Além disso, há a incapacidade de função e resposta do organismo afetado, uma vez que se considera que o tratamento eficaz atua sobre cerca de 10% a 20% da carga microbiana invasora, sendo a infecção resolvida pelo organismo imunologicamente competente” explica.
Em animais de companhia, os antibióticos são utilizados para prevenir e tratar lesões e infecções que comprometem o contato com humanos, principalmente idosos, crianças e imunocomprometidos, e também com outros animais.
Riscos
Infecções bacterianas não controladas podem se espalhar, invadindo os tecidos vizinhos, ou ainda se disseminarem para outras partes do corpo.
“Após o diagnóstico e a avaliação clínica, o tratamento é estabelecido segundo o tipo de substância eleita, dose e duração específicos de cada caso. O acompanhamento sistemático confirmará a resposta e eficácia do tratamento proposto” esclarece Donini.
No caso de animais de produção, os antibióticos não estão sendo administrados apenas para o tratamento de enfermidades.
O médico-veterinário Cláudio Régis Depes, membro da Comissão Técnica de Saúde Pública do CRMV-SP, informa que essas substâncias costumam ser administradas também em animais sadios como forma de controle e prevenção, quando uma proporção dos animais do grupo apresenta a enfermidade ou quando há probabilidade do surgimento da doença.
A medicação também vem sendo utilizada com a finalidade de aumentar a produção.
“Neste caso, o antibiótico é administrado a animais sãos em crescimento, através de alimento ou água, para promover um aumento maior de peso corporal, durante um prazo definido, ou para melhorar a conversão de alimento a peso corporal” relata. Esses métodos estão sendo revistos, sendo que alguns deles já foram, inclusive, proibidos em diversos países.
Uso responsável e boas práticas são deveres de todos
O atual desafio é preservar a eficácia e a disponibilidade dos antibióticos, por meio do uso responsável associado a boas práticas de prevenção, conforme observa Cláudio Regis Depes.
“É possível reduzir a necessidade do uso de antimicrobianos utilizando conceitos de prevenção de enfermidades, assim como boas práticas de produção, higiene, biossegurança e programas de vacinação”, reforça.
Para o controle eficaz da resistência antimicrobiana também é importante a mobilização de produtores e tutores quanto ao uso correto da medicação.
Para isso, Depes recomenda:
- utilizar medicamentos apenas com prescrição e seguindo sempre as orientações de um médico-veterinário;
- respeitar as doses, duração do tratamento prescrito, mesmo quando o animal parecer recuperado;
- implementar medidas e recomendações práticas destinadas a melhorar a sanidade e bem-estar dos animais;
- comprar produtos registrados e de estabelecimentos devidamente autorizados para a sua comercialização;
- manter os registros dos tratamentos prescritos a seus animais.