Uma tese de mestrado apresentada em 2014 por Fernanda Davidoff ao Programa de Pós-Graduação em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com 264 estudantes entre 13 e 17 anos, revela que 68% sofrem de dependência moderada em relação às tecnologias atuais (como smartphones, tablets e internet), enquanto que 20% enquadram-se como dependentes graves.
O projeto, orientado pela chefe da disciplina de Medicina e Sociologia do Abuso de Drogas (Dimesad) do departamento de Psicobiologia da Unifesp, Denise De Micheli, buscou identificar o perfil dos adolescentes usuários de internet e mídias digitais e a possível influência desse comportamento na qualidade de vida dos jovens. Foram avaliados 159 estudantes de escolas públicas e 95 de colégios particulares, sediadas no município de São Paulo.
Foram aplicados, na ocasião, questionários específicos de identificação geral para a coleta de dados, a exemplo do The Pediatric Quality of Life Inventory (PedsQL), inventário elaborado na Universidade do Texas e validado para o Brasil, cuja finalidade é medir a qualidade de saúde de vida de crianças e adolescentes. Os motivos e objetivos do estudo, bem como a metodologia que envolviam a aplicação dos questionários, foram esclarecidos tanto para as escolas quanto para os alunos participantes do estudo, garantindo-se o sigilo das respostas e a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Uma das conclusões do estudo é a de que a tecnologia foi definitivamente incorporada aos hábitos diários desses jovens. Quanto ao manejo de celulares e tablets, 33% mencionaram usá-los quando vão ao banheiro; 51% durante as refeições; 90% na cama, antes de dormir; e 92% afirmaram checa-los logo que acordam – antes de levantar da cama. Além disso, 79,7% confessaram voltar para casa e buscar seus aparelhos em caso de esquecimento, mesmo que isso cause atrasos em compromissos ou alguma outra forma de prejuízo.
Mas essa familiaridade pode ter outras consequências. Segundo as pesquisadoras, 82% dos estudantes se preocupam com o que pode estar acontecendo nas redes sociais enquanto está ausente; 65% resistem ao sono ou dormem pouco para continuarem conectados; 61% acreditam ficar menos tímidos e mais seguros ao conversarem via aplicativos de mensagens; 45% dizem sentir alívio no dia a dia; 30% sentem-se menos ansiosos; e 23%, menos sozinhos.