Reconhecida internacionalmente como pioneira no enfrentamento ao HIV/Aids no Brasil, Santos se prepara para uma celebração marcante dos 40 anos de luta contra o vírus e a doença que ele causa.
A Campanha Fique Sabendo será realizada pela Prefeitura de Santos, por meio da Coordenadoria de Controle de Doenças Infectocontagiosas (CCDI), com testes para HIV, com resposta e orientação no máximo sigilo, distribuição de preservativos, lubrificantes e autotestes.
Desde o último sábado (30), organizações da sociedade civil iniciaram uma série de atividades que envolvem distribuição de preservativos, autotestes, orientações, oficinas e bate-papo (veja abaixo a programação).
Desafios
Com o tema ‘40 Anos de Luta Contra a Aids: História, Sucessos e Desafios Futuros’, o evento reforça a necessidade de retomar o protagonismo no enfrentamento da epidemia, especialmente diante da baixa adesão à testagem e à prevenção combinada.
Para isso, todos que atuam na pauta do HIV na Cidade uniram esforços com representantes dos setores público, privado e da sociedade civil para formar uma aliança frente à epidemia.
Assim, o Instituto Multiverso, em parceria com Acausa, Gapa, Instituto Cultural Barong, OSC Concidadania e a Casa das Culturas de Santos busca resgatar a trajetória histórica, os avanços conquistados e os desafios futuros na resposta à epidemia.
Em 2024, Santos registrou 68 casos de residentes que contraíram o vírus HIV e 53 pessoas que desenvolveram a Aids.
“Em dezembro, intensificamos as ações de conscientização, prevenção e diagnóstico devido ao Dia Mundial de Luta contra a Aids, mas são serviços que estão disponíveis o ano inteiro, seja na rede municipal de Saúde ou nas entidades. É importante promovermos as orientações e testarmos o maior número de pessoas possível já que a infecção pelo HIV não apresenta sintomas e é de extrema importância reduzir a carga viral com medicamentos para garantir a saúde e o bem-estar do paciente e evitar novas transmissões”, destaca o secretário de Saúde de Santos, Denis Valejo.
Programação (sujeita a alterações)
3 de dezembro, às 19 h – terça-feira
Roda de conversa com profissionais de saúde, autoridades e ativistas históricos. Local: Casa das Culturas de Santos (Rua Sete de Setembro, 49, Vila Nova)
O encontro contará com depoimentos de pessoas que enfrentaram a epidemia nos anos 1980, debates sobre avanços na prevenção, desafios enfrentados por populações vulneráveis e estratégias para erradicar a Aids até 2030.
Estarão presentes os médicos Fábio Mesquita e Evaldo Stanislau, autoridades locais, ativistas como Hortência Benette, Nanci Alonso e João Geraldo Netto, do Canal Super Indetectável. A atividade contará ainda com exposição de arte, leitura de poemas e oficina artística, com participação de Flávio Viegas, Fabi Mesquita e a artista Adriana Bertini.
5 de dezembro, das 9h às 12h – quinta-feira
Campanha Fique Sabendo – Distribuição de preservativos e lubrificantes. Local: VLT- Estação Ana Costa
7 de dezembro, das 10h às 14h – sábado
Campanha Fique Sabendo – Testagem HIV. Local: Novo Quebra-Mar (José Menino)
8 de dezembro, das 10h às 14h – domingo
Campanha Fique Sabendo – Testagem HIV. Local: Praça Vereador Luiz la Scalla (Aquário, Ponta da Praia)
9 de dezembro, das 10h às 14h – segunda
Campanha Fique Sabendo – Distribuição de preservativos e lubrificantes. Local: Terminal de Passageiros Giusfredo Santini – Concais
13 de dezembro, das 10h às 14h – sexta
Campanha Fique Sabendo – Testagem HIV. Local: Ambulatório de Especialidades Nelson Teixeira (Rua Manoel Tourinho, 395, Macuco)
14 de dezembro, das 10h às 14h – sábado
Campanha Fique Sabendo – Testagem HIV. Local: Praça das Bandeiras (praia do Gonzaga)
Avanços nos últimos anos
O tratamento do HIV/Aids e as formas de prevenção à infecção pelo vírus HIV evoluíram bastante na última década.
O tradicional coquetel que diminui a carga viral do HIV, prevenindo o desenvolvimento da Aids, foi substituído, para algumas faixas etárias no final de 2023, por um único medicamento, ingerido uma vez por dia. O medicamento combina dois antirretrovirais, sendo ambos fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – a Lamivudina e o Dolutegravir.
Em Santos, o fornecimento é realizado pelo Centro de Controle de Doenças Infectocontagiosas para pessoas vivendo com HIV, matriculados no serviço.
Prevenção
Além do uso de preservativos, que continuam sendo a forma mais popular de prevenção às infecções sexualmente transmissíveis, a prevenção ao HIV foi incrementada com duas estratégias: a Profilaxia Pré-Exposição (PrEp) e a Profilaxia Pós-Exposição (Pep).
PrEP
Disponível desde fevereiro de 2018, consiste na prevenção antes do ato sexual desprotegido.
A PrEP combina dois medicamentos (tenofovir + entricitabina) que impedem que o HIV se estabeleça no organismo.
Vale lembrar que a PrEP previne a infecção apenas por HIV, por isso é essencial o uso de preservativo para não se infectar com outras doenças.
Qualquer morador de Santos pode se dirigir ao Serviço de Atendimento Especializado Adulto/Infantil, à Rua da Constituição, 556, Vila Nova.
Inicialmente, a PrEP estava disponível para casais sorodiscordantes, transexuais, travestis, homens que fazem sexo com homens e profissionais do sexo. Com o passar dos anos, o Ministério da saúde ampliou a distribuição da estratégia, hoje disponível a todo o público. Em Santos, a PrEp está disponível no CCDI.
Pionerismo e inovação
A referência aos “40 anos” em 2024 remonta ao registro do primeiro caso de Aids no Brasil, em 1984. Em 1988, foi criado, por iniciativa de Nanci Alonso, o Gapa, primeira ONG relacionada a esse tema na Baixada Santista.
Em 1989, Santos implementou o primeiro programa municipal de Aids do País, sob a coordenação do então secretário de saúde, David Capistrano Filho. Essa iniciativa pioneira foi liderada pelo médico epidemiologista Fábio Mesquita, inspirando políticas públicas nacionais e internacionais no combate à Aids.
Uma das ações mais inovadoras na ocasião foi a distribuição gratuita de medicamentos antirretrovirais à população de Santos, realizada seis meses antes da lei nacional que garantia esse direito.
Santos também foi a primeira cidade da América Latina a implementar um programa de redução de danos. Desse modo, incluindo a distribuição de seringas para usuários de drogas injetáveis, visando reduzir a transmissão do HIV.
Ainda em 1989, fundou-se a organização Acausa, cujo objetivo era distribuir cestas básicas para os assistidos em situação de vulnerabilidade credenciados pelo Hospital Guilherme Álvaro. Com todo esse histórico, a Cidade consolidou-se como referência nacional e internacional no enfrentamento à epidemia. Portanto, destacando-se pela vanguarda em medicina humanizada, tecnologia e arte como ferramenta de conscientização.
Nos anos 1990, o Grupo TEP, liderado por Nanci Alonso e Gilson de Melo Barros, levou o tema ao teatro com a peça ‘Henfil, A Relativa Revista’, sensibilizando a sociedade para o combate ao estigma e à discriminação relacionados ao HIV/Aids.
Desde então, Santos não parou de ser exemplo para o País e o mundo, e segue com programas e serviços de orientação e atendimento multidisciplinar.
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