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05 DE MARÇO DE 2010

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Mulheres que fazem a diferença

Quando a pergunta “quem gostaria de ser um voluntário?”, foi feita no auditório, Samara Faustino foi a primeira a dizer que não. Tratava-se de uma reunião da Associação dos Cortiços do Centro de Santos e a intenção era recrutar um voluntário que pudesse atuar ativamente com a comunidade. “Eu não sabia o que era trabalhar […]

Por: Da Redação

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Quando a pergunta “quem gostaria de ser um voluntário?”, foi feita no auditório, Samara Faustino foi a primeira a dizer que não. Tratava-se de uma reunião da Associação dos Cortiços do Centro de Santos e a intenção era recrutar um voluntário que pudesse atuar ativamente com a comunidade. “Eu não sabia o que era trabalhar com a comunidade.

Naquele momento muitos moradores falaram para eu aceitar o convite e acabei dizendo que sim. O que me moveu é que a associação não contava com projetos definidos para a comunidade”, lembra. A palavra positiva rendeu-lhe a posição de presidente na segunda gestão da associação.

Samara, que não estava certa por onde deveria começar, iniciou o seu trabalho reunindo informações. Para isso, entrava em contato com faculdades e com outros movimentos que estivessem envolvidos com as necessidades em comum como a cultura, lazer e habitação. O primeiro resultado do trabalho com a comunidade foi a reurbanização da Praça Nagazaki, no Mercado. A planta da reforma foi feita por arquitetos e engenheiros voluntários e a obra foi  realizada pelos jovens moradores da região dos cortiços. Hoje, o local oferece lazer para as famílias e também sedia eventos da comunidade. “Essa conquista foi o que me motivou a lutar por melhores condições de vida”, diz.

Moradora do cortiço há 50 anos, ela buscou ajuda de outras organizações, principalmente em São Paulo, que tinham conquistado o sonho da casa própria. Em 2004, a lei do Crédito Solidário (que consiste na própria comunidade gerenciando a obra) foi aprovada sendo o primeiro passo para as realizações da comunidade. “Conseguimos um repasse da Caixa de R$ 3 milhões e R$ 800 mil do Governo Estadual.

As unidades saem por um preço mais barato porque a própria comunidade  ajuda na construção e isso abate do valor total”, explica. E a comunidade realmente ajuda. Sem remuneração, eles se dedicam à obra, sendo que a maioria são mulheres. 



Samara, que também é artesã e confecciona bijuterias, é voluntária da associação. Dedica todos os dias da semana para a entidade, que hoje tem sua sede provisória no terreno na obra. Não recebe remuneração alguma pelo trabalho que realiza. “Minha luta é voluntária. O importante é criar valores e deixar algo para a humanidade”, diz. No final do ano passado, a associação ganhou o prêmio de “melhor prática em gestão local” da Caixa Econômica Federal. O prêmio foi entregue pelas mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.



Agora Samara prepara-se para concorrer internacionalmente pelo mesmo prêmio, que ocorrerá em Dubai, na Índia.“Transformamos o que era impossível no possível. Após a conquista da casa própria, a luta continua. Vamos dar assistência às outras comunidades que não sabem por onde começar o trabalho”, finaliza.


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O albatroz é a maior ave da natureza. Atualmente, está  perto da extinção. Só na costa brasileira são 10 mil aves mortas por ano, uma das maiores taxas do mundo. A causa do alto índice de mortalidade não é por caça e sim pelo fato de ficarem presas nos espinhéis dos grandes barcos de pesca.  Atraídas pelas iscas, elas ficam presas e são arrastadas, ainda com vida, para o fundo do mar. “Em 1991 chegaram alguns barcos em Santos trazendo aves mortas e ninguém sabia o que era. Isso me sensibilizou muito e comecei a investigar melhor. Descobri que o problema com os barcos de pesca era mundial e havia diversas comunidades envolvidas com essa questão mas o Brasil não”. Foi a partir de então que a bióloga, com mestrado em oceanografia, Tatiana Neves iniciou o trabalho que se tornaria a paixão de sua vida: o projeto Albatroz.



Uma vez consciente do problema, a bióloga, juntamente com outros profissionais, desenvolveram medidas para evitar a captura e assim o projeto foi tomando forma. Novos recursos foram pesquisados para que a equipe trabalhasse juntamente com os pescadores. “Reunimos estagiários e fizemos uma força tarefa. A equipe se revezava diariamente para que sempre quando chegasse um barco no terminal pesqueiro houvesse alguém para orientar”, conta.

O envolvimento com a causa e a intenção de participar plenamente com esse trabalho, fez com que a bióloga pedisse demissão do cargo que ocupava na Secretaria Estadual do Meio Ambiente, na área de conservação marinha, em 2005. “Vi que o projeto Albatroz era um trabalho que precisava de mais atenção”. A decisão foi acertada. As atividades cresceram e patrocinadores maiores, como a Petrobras, se envolveram com o projeto. A entidade escreveu, com recursos da ONU, o plano nacional de preservação de albatrozes, um documento do governo, que estabelece uma estratégia nacional com medidas que evitem a captura dessas aves.

O grande objetivo da entidade  para 2010 é a aprovação da lei, que torna obrigatório o uso de toriline nas grandes embarcações de pesca. O projeto foi assinado, inclusive, pelos próprios pescadores. “Esse é um trabalho que envolve o meio ambiente e também o setor produtivo, porque a captura também é ruim para os pescadores”, afirma.

Durante toda a trajetória de luta pela vida dessas aves, Tatiana lembra-se do momento mais marcante de sua vida profissional. A visita à Ilha Malvinas, em 2005, para realizar um programa do Globo Repórter. “Essa é a maior colônia de albatrozes do mundo. Ter visto esses animais se reproduzindo e também mostrado isso às pessoas, foi o que me alimentou e deu força para continuar o trabalho no Brasil”.


A bióloga e sua equipe têm muito o que comemorar. O projeto Albatroz assinou um convênio com o Ministério da Pesca para desenvolver pesquisas para o melhoramento do toriline e também outros projetos.



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Em 2006, um incêndio destruiu 167 casas no bairro da Alemoa. Famílias inteiras ficaram desabrigadas e sem destino.  Maria Lúcia Cristina de Jesus Silva abrigou cerca de 15 famílias, ao todo mais de 30 pessoas. Juntamente com o marido e os cinco filhos, ela dividia o espaço e também oferecia refeições e assistência para esses moradores.

Foi essa experiência que levou Cristina, como é conhecida no bairro, em lutar por melhores condições de vida para sua comunidade. Sozinha, começou a procurar o poder público e privado em busca de ajuda para as famílias e também crianças. “Mando o pedido por ofício ou vou ao local pessoalmente. Peço vários tipo de ajuda. Desde cesta básica até recursos para crianças ou material básico de higiene como fraldas e também roupas”, diz. “Sua casa também virou referência para a comunidade. Algumas crianças e adolescentes, que não têm atenção da família, buscam em Cristina um pouco de carinho e compreensão. “Já consegui até emprego para jovem que queria sair das drogas. Todos merecem uma segunda chance. Alguns me agradecem até hoje pela oportunidade e pela ajuda”, diz.



Ela também organiza a festa do Dia das Crianças. Com ajuda de doações que recolhe durante todo o ano, ela prepara sacolinhas com brinquedos personalizados para cada uma delas. Os brinquedos, em sua grande maioria usados, são todos reformados por Maria Lúcia Cristina que reservou um quarto de sua casa para guardar esses presentes. No Natal, ela também organiza o evento, só que o número de doações nessa época é menor. “Não é fácil encontrar padrinhos para todas as crianças.

Certa vez, uma criança recusou o presente do Papai Noel argumentando que os pais estavam desempregados e ela gostaria de uma cesta básica. Eu mesma fui ao mercado e montei uma cesta de Natal. Sempre ajudo quando tenho condições. Não há nada melhor do que ajudar o próximo”, diz.

Apaixonada por crianças, a dona de casa oferece aulas gratuitas de artesanato. A garagem de sua casa, lotada de utensílios de arte, é a sala de aula. O objetivo é oferecer, também, aulas de esporte e concluir a construção da biblioteca, que já conta com grande doação de livros novos. Atualmente, Cristina lidera um grupo de 18 moradores, que têm como objetivo lutar por melhorias no bairro. “Sonho em ver  o bairro urbanizado onde as crianças tenham lugar para brincar e com oportunidade de serem, de fato, crianças”, emociona-se.


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A pediatra Keiko Miyasaki Teruya é conhecida na Cidade por sua luta a favor do aleitamento materno. Diretora do banco de leite do Hospital Guilherme Álvaro, referência nacional e internacional no trabalho de capacitação de profissionais, sua equipe também oferece atendimento gratuito às mães que apresentam dificuldade em amamentar.  Seu despertar pela importância da amamentação aconteceu com o nascimento do seu primeiro filho, em 1969, época em que o uso da mamadeira era intensificado. “Nesse período a amamentação não era comum. Percebi que, com a necessidade que a mulher tinha de trabalhar fora, uma maneira de dar atenção ao filho seria suprindo às necessidades dele como a alimentação, por exemplo. Por isso achei que a amamentação era algo de muito valor”, lembra.



Uma pesquisa feita em 1972 pelo município de Santos foi fundamental para que a pediatra se envolvesse com o tema. Na época o número de crianças desnutridas era grande. De 2 mil crianças abaixo de 2 anos, apenas 27 eram amamentadas por suas mães. “Percebemos que as crianças que eram  amamentadas, não tinham problemas de desidratação. Foi então que começamos a luta para a mudança de conceitos, pois naquela época as mães já saiam do hospital após o parto com uma lata de leite”, diz Keiko Miyasaki.

O trabalho da equipe com a divulgação da importância do aleitamento materno começa ainda no pré-natal. Para isso, Keiko, juntamente com outros profissionais, conseguiu bolsas de estudos para a especialização em amamentação. “Sugerimos ao Ministério da Saúde que o Hospital Guilherme Álvaro fosse referência nacional e internacional para a capacitação desses profissionais. E isso hoje é uma realidade. Recebemos pessoas de todo o Brasil e também de outros lugares do mundo”, diz. Atualmente Keiko  integra o Comitê Nacional do Aleitamento Materno e tem ajudado na divulgação desse trabalho no Norte e Nordeste do país, realizando cursos de amamentação.

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