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Opiniões

27 DE JUNHO DE 2022

A vida, o nada e o tudo.

Por: Da Redação

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É inegável que no mundo atual há um sentido de urgência em tudo que fazemos. Parece que as 24 horas do dia são insuficientes para abrigar todas as tarefas que temos pela frente.

A corrida começa ao acordar. O banho é acelerado e o café da manhã é tão corrido que a gente escova o dente antes porque depois não dá tempo. O trânsito é infernal, de carro ou de transporte público, o atraso é a única certeza que temos na largada de um dia típico de trabalho.

No escritório, e-mails para conferir, mensagens para responder, reuniões de última hora, planilhas e PPTs a granel. Café. A meta de vendas não foi alcançada, portanto é preciso revisar o planejamento, pois tem alguma coisa errada que necessita ser corrigida. Café.

O gerente vai cobrar e é preciso ter a resposta na ponta da língua. Café. O almoço é tão rapidinho que provoca, vez por outra, o maldito refluxo ou a incômoda azia e aí se faz urgente um omeprazol ou um sal de frutas, mas não dá pra pedir para secretária, porque ela também está enrolada digitando um relatório para diretoria. Café. A tarde é um replay da manhã, só que o corpo se mostra mais cansado, a impaciência nos invade, as olheiras nos deixam mais feios e velhos e assim chegamos ao final do dia, mais exaustos do que se tivéssemos corrido uma maratona. Café.

Chegando em casa, a esposa também acelerada do trabalho nos convoca para o jantar delivery ao som de um silencio sepulcral. Não é por falta de assunto, é por falta de energia de ambas as partes.

O maldito celular continua sinalizando novas mensagens e a gente até esquece de perguntar como foi o seu dia e ela idem. E os filhos? Ah! Também esquecemos de perguntar como foi o dia deles na escola.

O repeteco dessa jornada durante meses e anos tem pelo menos três desfechos previsíveis: 1- a saúde vai pro beleléu com consequências inevitáveis; 2- o casamento acaba, pois o casal não tem tempo para ser um casal e os filhos têm pais ausentes; 3- você descobre que a corrida não valeu a pena e aí é tarde demais.

Pergunta: dá pra ser feliz vivendo nesse stress?

Até aqui o storytelling é meu. Daqui pra frente emprestei a sabedoria do Dr. Itchak Adizes, que explora as Infinitas Possibilidades que existem entre o nada e o tudo.

Literalmente, ele nos recomenda que não fazer nada de vez em quando é muito bom. Na verdade, é bem mais que isso: é vital.

Ele diz: “Estamos todos ocupados e, se desaceleramos por um segundo, nos sentimos culpados porque ‘há sempre muito a fazer’. Mas se você parar por um intervalo de tempo e não fizer nada, poderá descobrir que isso tem seus benefícios”.

E acrescenta: “Não fazer nada por um momento é como sair de uma foto para observá-la de fora, sob uma perspectiva diferente. Todos nós sabemos como é difícil ver a imagem quando você está dentro dela”.

E o Dr. Adizes é mais instigante quando afirma: “Outro benefício de não fazer nada por um intervalo de tempo é que dá espaço para criar algo novo. Quando seu cérebro está totalmente engajado, não está disponível para ser criativo. Encontrei um denominador comum interessante entre meus clientes empreendedores: quando eram jovens, ou ficavam doentes por muito tempo ou por algum outro motivo, ficavam sem nada para fazer. Em não tendo nada por fazer, eles tiveram que criar algo por si mesmos. Muitas vezes eles sonhavam acordados e, com o tempo, desenvolveram seu sonho, que se tornou sua realidade. Sem nada para fazer eles tiveram tempo de avaliar seu passado e fazer planos para o futuro”.

Faz sentido para vocês as afirmações do Dr. Adizes?

Segundo ele, temos imensa dificuldade – para não dizer medo – de não fazer nada, mas ele dá a receita:

“Você nunca encontrará tempo para não fazer nada. Você tem, conscientemente e intencionalmente, que se apropriar do tempo para não fazer nada. A maneira mais fácil de implementar essa filosofia de vida é meditar. Eu medito duas vezes por dia durante uma hora. Se você não quiser meditar, comprometa-se a sentar e não fazer nada diariamente por uma hora, sem se sentir culpado por isso. Tenha um bloco e uma caneta à mão. Você irá se surpreender com os próprios pensamentos. Não fazer nada é fazer algo muito importante. O nada permite que você mude e, no mundo agitado em que vivemos, a mudança é um pré-requisito para o sucesso”.

Vivendo e aprendendo, esse é o barato da longevidade.

A vida não precisa ser tudo ou nada. Pode ser tudo e nada. A diferença é sútil. Se persistir no stress, muda nada. Se perceber o que está em jogo, muda tudo. Experimente.

Ricardo Mucci é jornalista, palestrante e arquiteto de inovações de impacto socioeconômico. www.ricardomucci.com

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