Já não bastassem os muitos obstáculos estruturais existentes a serem superados para elevar a qualidade da educação brasileira, mais um componente se apresenta como agente impeditivo à melhoria das condições de ensino: a indisciplina.
Isso porque, dados consolidados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis), realizada em 2024, revelam que no Brasil os professores perdem, em média, 21% do tempo de aula para manter a ordem em sala. Ou seja, a cada cinco horas de aula, uma é perdida para conseguir a atenção dos estudantes.
O levantamento, divulgado esta semana pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), consultou professores e diretores do ensino fundamental (6º ao 9º ano), comparando o sistema educacional de 53 países.
O tempo de aula perdido pelos professores brasileiros com questões relacionadas à disciplina, é 6 pontos percentuais maior da média dos países-membros do grupo, de 15%.
Os dados apresentados na pesquisa representam mais um fator de desestímulo à carreira docente, já penalizada pelos baixos salários e pela falta das condições mínimas adequadas ao exercício da profissão.
Isso faz com que ocorra o afastamento dos professores com a competência e disposição para forjar gerações melhor preparadas para as exigências atuais e futuras.
Inegavelmente, as carências sociais e a omissão das famílias nos processos inerentes à formação para o convívio em sociedade também representam fatores prejudiciais para o desenvolvimento dos processos de aprendizado.
Porém, o mal maior reside na ausência de políticas educacionais públicas consistentes e duradouras.
Assim, criar infraestruturas adequadas, valorizar e aperfeiçoar corpos docentes, estabelecer padrões mínimos de qualidade de ensino, aplicar métodos compatíveis com a realidade atual e, sobretudo, estimular e integrar de forma efetiva as famílias ao cotidiano das escolas são algumas das ações necessárias para a reversão desse quadro.
Apesar da obviedade que essas iniciativas ensejam diante do sucesso obtido nas poucas experiências isoladas colocadas efetivamente em prática, essas práticas nunca foram adotadas de forma massiva e contínua no País, a partir da mobilização, investimentos, rigor e continuidade necessárias para promover as mudanças almejadas.
O abandono da educação propiciou o moto-contínuo da ignorância, favorecendo a consolidação da didática da indisciplina, que precisa ser abolida em nossas escolas para cessar o atual quadro de beligerância estabelecido.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação
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