Didática da indisciplina | Boqnews

Opiniões

10 DE OUTUBRO DE 2025

Didática da indisciplina

Humberto Challoub

array(1) {
  ["tipo"]=>
  int(27)
}

Já não bastassem os muitos obstáculos estruturais existentes a serem superados para elevar a qualidade da educação brasileira, mais um componente se apresenta como agente impeditivo à melhoria das condições de ensino: a indisciplina.

Isso porque, dados consolidados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis), realizada em 2024, revelam que no Brasil os professores perdem, em média, 21% do tempo de aula para manter a ordem em sala. Ou seja, a cada cinco horas de aula, uma é perdida para conseguir a atenção dos estudantes.

O levantamento, divulgado esta semana pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), consultou professores e diretores do ensino fundamental (6º ao 9º ano), comparando o sistema educacional de 53 países.

O tempo de aula perdido pelos professores brasileiros com questões relacionadas à disciplina, é 6 pontos percentuais maior da média dos países-membros do grupo, de 15%.

Os dados apresentados na pesquisa representam mais um fator de desestímulo à carreira docente, já penalizada pelos baixos salários e pela falta das condições mínimas adequadas ao exercício da profissão.

Isso faz com que ocorra o afastamento dos professores com a competência e disposição para forjar gerações melhor preparadas para as exigências atuais e futuras.

Inegavelmente, as carências sociais e a omissão das famílias nos processos inerentes à formação para o convívio em sociedade também representam fatores prejudiciais para o desenvolvimento dos processos de aprendizado.

Porém, o mal maior reside na ausência de políticas educacionais públicas consistentes e duradouras.

Assim, criar infraestruturas adequadas, valorizar e aperfeiçoar corpos docentes, estabelecer padrões mínimos de qualidade de ensino, aplicar métodos compatíveis com a realidade atual e, sobretudo, estimular e integrar de forma efetiva as famílias ao cotidiano das escolas são algumas das ações necessárias para a reversão desse quadro.

Apesar da obviedade que essas iniciativas ensejam diante do sucesso obtido nas poucas experiências isoladas colocadas efetivamente em prática, essas práticas nunca foram adotadas de forma massiva e contínua no País, a partir da mobilização, investimentos, rigor e continuidade necessárias para promover as mudanças almejadas.

O abandono da educação propiciou o moto-contínuo da ignorância, favorecendo a consolidação da didática da indisciplina, que precisa ser abolida em nossas escolas para cessar o atual quadro de beligerância estabelecido.

 

Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Notícias relacionadas

ENFOQUE JORNAL E EDITORA © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

desenvolvido por:
Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.