
Alegando economia, prefeitura decretou o fim do Diário Oficial deixando milhares de pessoas sem acesso ao veículo público. Foto: Isabela Carrari/Secor-PMS
O discurso dos políticos é sintomático: ‘precisamos cortar custos para deixar a máquina pública mais eficiente’. Quem, em são consciência, irá se posicionar de forma contrária? Afinal, eficiência e eficácia são artigos de luxo no Poder Público de forma geral.
Muitos discursos escondem a verdade real. O fim da edição impressa do Diário Oficial santista pode servir como exemplo.
Nascido há 28 anos com o esboço atual (reportagens, além dos atos oficiais), ainda na gestão do primeiro governo petista de Santos (Telma de Souza) com o objetivo de ser uma alternativa de leitura à população para combater a acidez crítica reinante no único diário da Cidade na ocasião em relação à Administração local, o D.O.Urgente, como era chamado, acabou se tornando uma ferramenta de comunicação eficaz junto à população.
Era impresso na extinta gráfica da Prodesan, algo que perdurou até a chegada da Administração Beto Mansur, que decretou o fim do parque gráfico, alterou o nome e transferiu a impressão ao maior grupo de comunicação regional, a qual permanecia até a última sexta (11) – exceto por um curto período de um ano, cuja impressão ficou nas mãos de uma gráfica de outro diário local.
Sua tradição se tornou um hábito junto à população e todas as administrações – algumas mais, outras menos – acabaram se beneficiando dele.
A súbita decisão – acompanhando experiências tucanas da extinção da versão impressa na Capital e no Estado – provocou indignação, especialmente aos que estavam habituados a ir às bancas para retirar o exemplar, conversar com o jornaleiro, enfim, socializar-se.
Ou até nos ônibus e displays espalhados.
Esquecem os gênios da comunicação – apostadores de que os leitores do Diário Oficial migrarão automaticamente para o digital – que poucas são as áreas da Cidade que oferecem rede digital pública e um volume considerável de pessoas sequer têm acesso à internet.
Não bastasse, Santos tem mais de 20% de sua população formada por idosos, vários deles sem qualquer conexão digital. Sem o meio impresso, este contato aparentemente gratuito finda-se, inibindo o acesso democrático à informação.
Não se pode também deixar de questionar a razão pela qual a Administração vai romper um contrato que fora renovado há dois meses.
Ora, qualquer empresário ficaria aborrecido ao saber que um contrato milionário (o valor revisto e assinado chegou a R$ 3,8 milhões) seria cancelado semanas depois da sua assinatura.
Exceto, é claro, se houver uma forma de compensação para as perdas da quebra contratual, mesmo não implicando em multa, como alega a Administração.
O prefeito de Guarujá, Valter Suman, chegou a anunciar o fim do Diário Oficial local, mas optou em mantê-lo em atividade, pois viu que o custo-benefício vale a pena. Até porque a lei exige a inserção de editais em jornal de circulação local na ausência dele.
Assim, sem a versão impressa pública, tais documentos deverão ser publicados em jornais particulares.
E assim, a emenda pode sair mais cara que o soneto…
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