Em live à página Conexão 013, de Santos (SP), o ex-ministro, médico e deputado federal Osmar Terra, que chegou a ser cotado para assumir o Ministério da Saúde, voltou a criticar o isolamento social implantado por governadores e prefeitos.
Ele disse que o pico da doença do coronavírus chegará a 13 semanas – estaríamos na metade dela – e que os casos começarão a diminuir a partir do final de maio.
“Quando 70% da população estiver contaminada em razão do volume de anticorpos, a tendência é redução dos casos, pois o vírus começará a diminuir a circulação”, disse.
Seu raciocínio teria relação com o volume de pessoas assintomáticas, que chega a 80%, mas que continuam transmitindo a doença para terceiros sem saber.
Terra salientou que no final da primeira década deste século, quando era secretário de Saúde no Rio Grande do Sul, atuou no combate à gripe H1N1 (gripe suína) e que as formas de contágio daquele vírus em relação ao covid-19 são semelhantes.
“Talvez seja uma das poucas pessoas com experiência para lidar com epidemias. Então posso falar sobre o assunto”, disse Terra.
E lembra que ‘tem o dever para levar a experiência aprendida para levar às pessoas’.
Em 18 de março, Terra publicou em sua conta no Twitter que a H1N1 mataria mais que o Covid-19.
No ano passado, foram quase 800 pessoas que morreram da doença no Brasil.
E que o País teria no máximo 730 mortes pelo Covid-19.
Nesta quinta (23), apenas no estado de São Paulo, o total de mortos pelo Covid-19 já chega a 1.134 casos.
No Brasil, já são 2.678 vítimas fatais.
Economia x ciência
Ele criticou a forma como São Paulo tem feito o isolamento, prejudicando a cadeia econômica.
“Este isolamento é fake. As pessoas estão passando fome”, disparou.
E também afirmou que o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, errou ao calcular que a situação iria piorar a partir de maio e junho, com término da pandemia em setembro.
“Estamos no pico da curva. Ela deve terminar no final de maio”, antevê.
E emendou: “Quero que provem a quantidade de vidas que foram salvas em razão do isolamento?”.
Sem respaldo científico
Infectologistas consultados pelo Boqnews.com criticaram as falas do ex-ministro, que tentam desvirtuar as ações médicas e científicas feitas até o momento com o objetivo de salvar vidas e evitar o caos no sistema de saúde do Estado.
Para que São Paulo não repita a mesma situação que está ocorrendo em estados do Norte e Nordeste, especialmente Amazonas e Ceará.
Além do drama vivido pela população de Guayaquil, no Equador, onde os corpos se espalham pelas ruas e são queimados ao ar livre nos cemitérios.
Portanto, um dos profissionais ouvidos pela Reportagem chegou a criticar o questionamento de Terra que tenta associar a quantidade de vidas salvas em decorrência do isolamento social.
“É uma calhordice e total falta de senso”, criticou.
Ele lamenta que até hoje, a despeito das evidências, muitos ainda não acreditam na importância das ações de quarentena, que estão reduzindo o ritmo da curva de casos em São Paulo.
Em artigo publicado no Uol, o infectologista santista Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirma que Terra usa dados sem comprovação científica.
“Ele não tem dados para fazer uma afirmação dessa, não há base na realidade. Com o número de subnotificação, não se pode falar de maneira nenhuma que o pico já passou”.
“Pelo contrário: a gente vê, com grande preocupação, que os hospitais basilares do estão no limite”, comentou o infectologista.
Ele mesmo foi vítima do Covid-19 que, após se recuperar, está de volta aos hospitais para atendimento a pacientes.