
Para o Unicef, o Brasil ainda precisa melhorar o acesso à prevenção, à testagem e aos serviços de atendimento e tratamento direcionados para o público adolescente
O Dia Mundial de Luta contra a AIDS, comemorado em 1º de dezembro, foi estabelecido em 1987 pela Assembleia Mundial de Saúde juntamente à Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de conscientizar a população mundial sobre a doença, que na época aterrorizava o mundo.
Em Santos, dois anos depois nascia ‘ACAUSA – Associação Comunitária de Auxílio Santista ao Portador do HIV/AIDS’, que fez aniversário no último dia 15 de novembro. Comovidos pelo advento macabro da doença, cinco pessoas se reuniram para doar cestas básicas aos portadores credenciados no Hospital Guilherme Álvaro. Desse gesto, a entidade foi criada.
Hoje ACAUSA atende cerca de 230 famílias de portadores de HIV que vivem em situação de vulnerabilidade social. Mensalmente, auxilia o CRAIDS (Centro de Referência em AIDS) e o NIC (Núcleo Integrado da Criança) com a distribuição de cestas básicas, remédios, óculos e demais doações. Para isso, a entidade levanta fundos com diversos eventos como o Jantar Por Uma Boa Causa, ACAUSA Wine e Bazar da Primavera.
Depois de quase 30 anos e um satisfatório reconhecimento pelo trabalho junto à comunidade, muitas histórias emocionantes passaram pela entidade, enriquecendo a narrativa de dor, superação e amor que a luta contra a AIDS promove. Com vozes embargadas e olhos lacrimejados, algumas histórias compõem o repertório do trabalho de assistência social.
Ligia Maria de Toledo Ortiz, de 63 anos, tinha uma vida confortável em São Paulo, casada com um administrador de empresas e com um bom emprego em uma editora de São Paulo. Quando descobriu a cocaína, seu mundo virou. “Um dia peguei todo o meu dinheiro e vim pra Santos. Fiquei em hotel por um tempo, gastei todo o meu dinheiro. Quando vi, estava morando na linha da máquina”.
Descobriu que tinha HIV em 1998. Ficou debilitada, mas ainda usando drogas, até que em 2000 sofreu um AVC. “Costumo dizer que Deus me mandou o AVC, pois, desde então, eu mudei de vida. Parei com as drogas. Fui morar numa casinha com um homem que conheci na rua”.
Hoje Ligia trabalha como autônoma e reergueu a sua vida, procurando passar seus ensinamentos para quem hoje vive o que ela superou. “Ajudo os meninos da rua. Ofereço trabalho, não julgo, sei o que eles passam. Tomo o coquetel certinho, é uma benção, vivo muito bem hoje e agradeço a todos os profissionais de saúde do CRAIDS e CRT”.
A discriminação por causa da doença é contada por muitos pacientes atendidos pela ACAUSA. Alguns são rejeitados até pela família, como é o caso da senhora M.C, de 48 anos. “Tive apoio de Deus e o pessoal do CRT, do Dr. Arnaldo. Hoje não tem tanta discriminação, aqui no Centro somos todos tratados com carinho”.
Já Alberto de Souza, de 55 anos, sofreu discriminação no emprego. Descobriu a doença logo depois de perder os pais e a irmã. A doença foi mais um baque para fragilizá-lo. Contou a notícia aos outros irmãos, até que foi avisar o empregador. “Eu não era registrado, trabalhava com faxina. Sofri muito preconceito. Separavam minha comida, minha louça. De inúmeras pessoas, só 1 que me ajudou. Até que fui demitido. Trabalhei em outros locais depois, depois me aposentei”.
Zuleica Elisa Simões Pereira, presidente da ACAUSA, diz que a luta contra o preconceito é diária. “ainda existe muito preconceito e falta de informação da população. Conscientizar é a melhor forma de mudar este quadro. Conscientizar sobre o respeito, sobre os risco e cuidados, como se prevenir, como se tratar e como conviver com este vírus. O Dia Mundia de Luta contra a AIDS ajuda a trazer o assunto as mídias, trabalhando o respeito e a prevenção entre todos”.