Histórico quadro do PMDB de Santos e um dos braços direitos dos saudosos prefeitos Esmeraldo Tarquínio e Oswaldo Justo, o secretário de Cultura de Santos (Secult), jornalista Carlos Pinto, visitou a redação do Jornal Boqueirão e do site Boqnews, onde falou de política, samba e história. Confira a entrevista:
Jornal Boqueirão- Como liderança histórica do PMDB de Santos, você sabe dizer se a legenda terá candidato a prefeito em 2012?
Carlos Pinto- Com toda a certeza o PMDB terá candidato a prefeito. Até porque é uma norma recente da direção nacional. E mesmo se não existisse essa orientação teríamos candidato. Não se justifica um partido que está no poder não ter um candidato a sucessão. Se vai ganhar ou perder é outra conversa. Quem vai ser também é outra conversa. O partido vai ter que ter um candidato que seja competitivo.
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Carlos Pinto lembra da vitória de Justo sobre Rubens Lara Foto Nara Assunção |
JB- Você pode contar algumas particularidades desta vitória do Justo. Afinal em 1984, todos diziam que o Rubens Lara seria eleito antes da eleição?
CP- Eu me lembro que gastamos naquela campanha 80 mil cruzeiros. E o Lara gastou dois milhões de cruzeiros. Apenas o Orestes Quércia e o Jânio Quadros ajudaram o Justo. Mas o Quércia foi fundamental, pois lutávamos contra todo o partido que apoiava o Lara. Foi uma eleição atípica, pois foi o único pleito no Brasil na época. E tínhamos as sublegendas. O PMDB lançou o Lara, o Justo e o Eduardo Castilho Salvador. E teve muita malandragem. Vou contar algumas. Eu sabia que a campanha do Lara tinha montado um esquema de rádio frequência para coordenar os carros de campanha no dia da eleição para controlar a boca de urna. Nós montamos uma central de rádio no comitê do Justo no Boqueirão e ficamos toda a noite procurando a frequência que eles atuavam. Até que achamos. No dia da eleição, juntamos os carros dele todinho no Morro da Nova Cintra. A frota toda lá em cima sem saber o que estava fazendo. Tem outra. A gente botava uns sapos no comitê do Lara para buscar camiseta dele. No dia da eleição colocamos mais de 200 caras na rua com camisa do Lara pedindo voto pro Justo. Teve outra. Nós estávamos em carros com a camiseta do Lara, passávamos pelo pessoal dele nos locais de votação e dizíamos que eles tinham que ir pro comitê para receber a diária senão ia acaba o dinheiro. Tiramos todo mundo da rua e colocamos na porta do comitê para receber. E lembro que eles estavam pagando uns cinco reais e a gente dizia que era 10 e que eles tinham que ir correndo receber. Tiramos todo mundo da rua. Às 11h30 já sabia que o Justo tinha ganhado a eleição pelas nossas pesquisas de boca de urna. Imagina, tu vai tranquilão para votar encontra um cara com camisa do Lara te dizendo para votar no Justo, que ele é que era o bom. Era uma beleza.
JB- A composição da chapa com o Justo e o filho do Esmeraldo, lembrando a chapa eleita que foi cassada na década de 60 não colaborou também?
CP- Em princípio, a Alda (esposa de Esmeraldo Tarquínio) seria a vice do Justo. Mas houve uma troca de idéias entre eu, o Tanah Corrêa, e o Del Bosco, e nós entendemos que quem deveria ser o candidato a vice era o Esmeraldinho, para ele iniciar na política e seguir a carreira do pai. E essa tese acabou prevalecendo. Foi apenas uma homenagem que nós fizemos ao Esmeraldo. O velho era nosso amigo e queríamos fazer essa homenagem e conseguimos.
JB- Porque você acha que a carreira política do Esmeraldinho não teve o mesmo sucesso que a do pai?
CP- Cada um é cada um. O Esmeraldinho preferiu uma coisa mais administrativa, não gosta de se jogar em eleição, nem nada. Praticamente ele deixou de lado isso. Também as coisas que o Esmeraldo pai passou durante a revolução afetaram muito a família. Inclusive de forma financeira. E muita. Eu sei porque convivia diariamente com o Esmeraldo. Ele tava cassado e eu tinha sido expurgado da Petrobras. Mas a gente todo sábado à tarde ia para o meu apartamento, ficava tomando um whysquinho e planejando o que a gente iria fazer quando acabasse o temporal da ditadura. Quando o Esmeraldo se elegeu, ele tinha projetos fantásticos para a área de Cultura. Ele foi aos Estados Unidos quando se elegeu. Em Los Angeles, se reuniu com a indústria cinematográfica, pois ele queria que Santos virasse um pólo de cinema, até porque na época passávamos pela crise do café e os armazéns estavam todos abandonados e o Esmeraldo queria transformar eles em estúdios para gravações. O Esmeraldo foi um cara com quem eu aprendi muita coisa. Um cara reto, correto, honesto que até hoje eu não entendo porque o cassaram porque não tinha qualquer implicação. Não tinha motivo. No dia da cassação, eu estava esperando o Esmeraldo no Clube XV quando recebemos a notícia da cassação. Esperei ele descer do carro para avisar. Foi uma situação difícil.
JB- Voltando aos dias de hoje, como você vê essa tão anunciada intervenção do diretório estadual do PMDB no diretório municipal de Santos que nunca acontece?
CP- A minha opinião é a seguinte. Lá atrás fui cassado pela ditadura, quando tiraram meu emprego e não fui anistiado até hoje, coisa que não me interessa. Agora, sou cassado pelos democratas do diretório estadual. Eu acho que essa intervenção não vai existir e se existir, a única coisa que me resta é sair. Agora, que não havia necessidade do diretório nacional ter intervido no estadual é fato. A eleição seria agora em novembro. O presidente de fato e de direito seria o Jorge Caruso, não sei por que ele abriu mão disso.
JB- Você não acha que essa especulação de intervenção é fruto da forte ligação que o prefeito Papa mantém com o PSDB, com o ex-governador Serra e com o Alckmin?
CP- Se for por isso, tem que intervir também pela ligação que ele tem com o Aloysio Mercadante (ministro de Ciências e Tecnologia) do PT. E também por causa da ligação com o deputado Aldo Rebello (PCdoB) que é um elo forte pra caramba. O João Papa faz política em prol da população sem ver cores partidárias.
JB- Você pode dizer se o prefeito Papa lhe acompanha nessa sua possível saída do PMDB, em caso de intervenção?
CP- Eu não respondo por ele. Eu saio. Aliás, se ele tiver um pouquinho de bom senso sai. Posso te garantir que eu saio junto com todo mundo que eu coloquei lá dentro.
JB- O senhor não acha que as candidaturas que já estão sendo lançadas nos bastidores visando o pleito de 2012 podem sofrer as consequências do antigo jargão do ex-prefeito Oswaldo Justo que dizia que roupa muito tempo no varal desbota?
CP- Qualquer candidatura que sair hoje visando 2012 vai ficar que nem bacalhau em porta de venda. Ou que nem dizia o Justo, no varal ele desbota, tem a chuva e o sol. Qualquer um que colocar a cara de fora agora corre esse risco.