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Foto: Luiza Pires

Saúde

20 DE JANEIRO DE 2019

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Casos de intoxicação por medicamentos crescem em Santos

Em Santos, foram registrados no ano passado 576 casos de intoxicações por ingestão de medicamentos de forma acidental ou não.

Por: Luiza Pires
Da Redação

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Luciléa do Monte, de 70 anos, passou por um caso de intoxicação de medicamento quando estava sozinha em casa.

Ao comprar seu remédio de uso contínuo para tratamento da pressão alta em uma drogaria de Santos, receitado por um médico cardiologista, foi informada pelo farmacêutico que seu remédio não estava disponível naquela unidade, mas em outra próxima. Assim, ela deixou para buscá-lo no dia seguinte.

Ao usá-lo, percebeu que havia algo de errado. Afinal, não demorou para que ela começasse a sentir uma vertigem muito forte.

“Senti minha pressão caindo. Como tenho o aparelho para medir a pressão em casa, eu o utilizei e constou 9 por 5”, relata. Após o mal-estar, suspendeu o uso do medicamento por conta própria.

Em seguida, sem entender o motivo de ter passado mal procurou a caixa antiga do medicamento para comparar. Só aí descobriu que o seu medicamento, o Exforge HCT (160 mg + 12,5 mg + 5 mg), tinha sido vendido errado, pois a dosagem era o dobro (160 mg + 25 mg + 10 mg).

“A caixa era igual, mas a dosagem diferente. Então me confundi. Foi um erro tanto da farmacêutica, quanto meu que não me liguei ao comprar. Serviu como lição. É um alerta para todo mundo”, diz.

Neste caso, Luciléa suspendeu o uso do medicamento no dia seguinte e foi até a farmácia para resolver a situação, trocando o medicamento.

Automedicação

Já Adriana Oliveira, de 52 anos, conta que tinha o hábito de se automedicar.

Ela relembra o caso que aconteceu há 3 anos.

Em uma crise de pânico junto com insônia, ela tomou uma grande quantidade de maracujina, calmante natural fitoterápico, feito à base de plantas com propriedades medicinais.

Adriana já tinha a receita de remédios tarja preta para ansiedade e insônia, passados por seu médico. “Foi receitado um remédio que me ajudava a dormir, pois eu precisava descansar. Também comprei alguns calmantes naturais e medicamentos à base de florais na farmácia por conta própria”.

Após ingerir quase todo frasco, ela diz que pensava que ficaria mais calma, pois sua intenção era dormir. Sem resultados, tomou comprimidos de Sintocalmy, indicado para estados de agitação, ansiedade e no tratamento de insônia. Mas também não surtiram efeito.

“Lembro de ficar meio mole. Então resolvi tomar mais alguns medicamentos de tarja preta. Eu misturei os remédios. Consegui dormir, mas por um período longo”, conta.

No dia seguinte, ainda estava desacordada e não foi para o trabalho.

Com a preocupação de pessoas próximas, sua filha foi ao apartamento onde mora e após perceber que a mãe não acordava, ligou para o SAMU.

Foi levada para o hospital, onde ficou internada. “Fiquei um dia inteiro lá. Lembro que vomitei muito e tinha muita dor de cabeça. Não fizeram lavagem, mas eu tomava soro, pois estava desidratada e sem comer”, relata.

Adriana confessa que não tinha noção que teria uma intoxicação por medicamentos. “Eu ia à farmácia e comprava tudo que via de calmante natural. Por ser vendido sem prescrição achava que não faria mal”.

“Eu tinha mania de me automedicar. Após isso, comecei a pensar mais, principalmente depois que percebi que não fazia efeito. Hoje, tenho a consciência que se automedicar não é a solução. É preciso buscar alternativas e as pessoas certas que podem ajudar”, aconselha.

Todas estas pessoas estão vivas e saudáveis para contar suas histórias, e apesar de serem diferentes, há um fator em comum entre elas: a intoxicação por medicamentos.

Casos em Santos

A primeira causa de intoxicações registradas em Santos é por ingestões de medicamentos acidentais ou provocadas.

Em 2017, de acordo com dados da Prefeitura de Santos, foram recebidas 814 notificações, sendo 479 por medicamentos (59%).
O número cresceu no ano passado em 24%.

Foram 1.007 notificações de intoxicações de diversas causas, sendo 576 delas (57,2%) causadas por uso indevido de medicamentos.

As mulheres foram a maioria, assim como as crianças. (ver quadro). Nos dois anos, não ocorreram óbitos em decorrência da ingestão de medicamentos.

Mas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os erros de medicação podem causar a morte. No mundo, estima-se que entre 15 a 20 mil pessoas morram por este motivo por ano

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os dados são encaminhados pelos Centros de Informações Toxicológicas (Ceatox) dos estados e ainda não estão consolidados.

Segundo Luciana Giaquinto, coordenadora do curso de Farmácia da Unip Campus Santos, nos casos de ingestões de medicamentos errados existem diferentes níveis de perigos.

“Podem acontecer desde alguma reação adversa contornável como sonolência, coceiras como reação alérgica até o caso de um óbito quando se trata de medicação errada, interações medicamentosas, que anulam o efeito de outros ou ainda potencializam esses efeitos, doses excessivas, seja por aumento na quantidade do princípio ativo ou erro no intervalo das doses”, explica.

Luciana diz que como cada medicamento tem seu próprio mecanismo de ação, é difícil prever em quanto tempo acontecem as reações adversas, mas é importante ler as informações da bula e ficar atento a qualquer mudança no estado físico.

Em Santos, a Seção de Controle e Orientação em Intoxicações (Secoi) orienta em casos de intoxicações por uso de medicamentos.

Os plantonistas dão as primeiras orientações que devem ser tomadas em cada caso.

Esclarecimentos pelos telefones (13) 3222-2878/0800-7226001 (24 horas).

 

Atenção às receitas

A receita médica é um documento onde deve conter todas as informações necessárias para garantir a eficácia e segurança no tratamento do paciente, evitando assim, casos de intoxicação.

“A relação médico e paciente precisa ser mais estreita, pois muitas pessoas saem do consultório sem saber o tipo de tratamento, quais medicamentos prescritos e, muitas vezes, não informam aos médicos quais outros medicamentos que podem estar sendo administrados no momento, trazendo assim outros riscos mais sérios como os de interações medicamentosas”, explica a famarcêutica Luciana Giaquinto.

O paciente deve ter conhecimento do tratamento que o mesmo irá realizar, questionando o médico toda e qualquer dúvida que tenha. Para ela, ainda existe a “cultura do medo” ou vergonha em questionar.

“Se todos pacientes tivessem consciência de seus tratamentos, certamente ao chegar a uma farmácia, ao adquirir os medicamentos, diminuíriam muito os riscos de erros de medicação, pois teriam mais informações que ajudariam a sanar dúvidas referentes à prescrição junto ao farmacêutico na hora da compra”.

Mesmo tomando esses cuidados ninguém está livre de adquirir medicamentos errados, pois o farmacêutico ou o atendente podem também se equivocar e dispensar o medicamento de forma errada e esses erros na grande maioria das vezes estão associados à ilegibilidade da receita, como no caso de Luciléa.

“Acredito que o principal cuidado que precisamos ter na compra de medicamentos é conhecer seu tratamento para dar as informações para o profissional que está atendendo. Isso minimizaria as eventuais dúvidas”, destaca a profissional. (LP)

 

Orientações e dicas aos usuários

O cuidado com os medicamentos deve começar dentro de casa, principalmente na hora do armazenamento.

Luciana Giaquinto diz: “Guardar os medicamentos de forma errada em casa é um dos grandes problemas de erros de medicação, pois além de muitas vezes, não seguirem as orientações de armazenamento descritas na bula, como a ded deixar em lugar seco, longe do calor, sob refrigeração, acontece também a mistura e confusão de cartelas de medicamentos em uso”.

De acordo com a farmacêutica, o certo é sempre deixar os medicamentos dentro de suas embalagens primárias, ou seja, aquelas onde as cartelas e frascos estão embalados até o final do consumo.

“Se jogarmos fora essas embalagens, aumentamos o risco de administrarmos os medicamentos errados, pois nas cartelas nem sempre os nomes são legíveis”, aconselha.

Outra dica da profissional é não deixar medicamentos que sejam parecidos, como cápsulas e comprimidos juntos, para evitar o risco de confusão.

Por último, ela diz que é preciso deixar medicamentos longe de crianças ainda mais se forem convidativos como, por exemplo, xaropes com sabor de frutas. (LP)

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