Há exatamente um ano, o médico Bruno Pompeu começou um trabalho de recolhimento de tampas plásticas – como aquelas de refrigerantes, por exemplo – pelas praias e vias públicas.
Tudo começou após um pedido de sua enteada para recolher lacres e tampas plásticas em troca da aquisição de uma cadeira de rodas.
Aos poucos, ele percebeu que o solitário gesto poderia render frutos maiores. E ajudar mais pessoas.
(Leia detalhes da origem do projeto nesta reportagem.)
E assim, ao lado da esposa, a psicóloga Dulce Del Santoro, eles começaram o projeto Tampa Amiga.
O objetivo é recolher lacres e plásticos que teriam como destino o mar, as ruas e os aterros sanitários.
Em troca, o material recolhido é vendido.
E assim, ajuda nas despesas de alimentação, higiene e limpeza de duas entidades de Santos, no litoral paulista: ARS – Ação de Recuperação Social, responsável por 30 crianças, e o Lar Veneranda, por 150.
Só em alimentos, foram 1 tonelada e 17 quilos neste período.
Pelo whatsapp
Usando apenas o whatsapp como ferramenta de divulgação – e mais recentemente uma conta no Instagram criada por uma das participantes do grupo – o Tampa Amiga cresce diariamente com a adesão contínua, seja em estabelecimentos comerciais ou residenciais.
“Não imaginava que o projeto tomaria uma proporção gigantesca”, explica o profissional.
Diariamente, ele divide seu tempo no atendimento a pacientes em seu consultório, assim como médico no Hospital Guilherme Álvaro, em Santos, e agora como responsável por esta teia social que envolve exatas 206 pessoas via whastapp.
Além disso, centenas de outros colaboradores ajudam a movimentar o volume de material recolhido.
Não bastasse, com o dinheiro recolhido, percorre os supermercados para comprar alimentos, como leite, achocolatado e outros produtos, para entregar às entidades – ou simplesmente pagar faturas de alimentos, como a aquisição de 85 quilos de carne para alimentar os menores, como na quarta (27), quando o projeto fez aniversário.
“É algo que nos dá muito prazer em saber que estamos ajudando tantas crianças”, enfatiza.
Números crescendo
Aliás, contrariando o que o doutor imaginava – que chegaria até o final do ano passado com 1 tonelada recolhida – na prática este número é (muito) maior.
Até o último carregamento, no início de março, foram 8 toneladas e 567 quilos de tampinhas, sendo quase 700 quilos só de lacres de alumínio – os das latinhas de cervejas e refrigerantes.
Para abril, a previsão é que o total recolhido se aproxime das 10 toneladas.
Material que deixou de ir para o lixo e teve como destino a reciclagem.
As tampas moles (PP – polipropileno) são as de margarinas, garrafas com água, shampoos e outras semelhantes.
As mais duras, típicas dos refrigerantes, são as PEAD – Polietileno de Alta Densidade.
Para se ter uma ideia do volume, para formar um quilo de tampas plásticas são necessárias, em média, 980 tampinhas.
Portanto, com o material recolhido só deste material (7.867 quilos) é possível chegar à conclusão que já foram coletadas consideráveis 7,7 milhões de tampas dos mais variados tipos, formas e cores.
Todo o material recolhido é vendido para um dos participantes do grupo que paga acima da média de mercado.
De lá, o material é enviado para as indústrias do setor plástico.
E assim, misturadas e trituradas, as tampinhas irão se transformar em brinquedos, bacias, baldes, copos para festas, entre outros produtos que usam tais tipos de plásticos (PP e PEAD).
“É um parceiro que nos ajuda para a gente poder colaborar ainda mais com as crianças e as entidades”.
Separação por cores
No entanto, para poder vender por um maior valor às indústrias há uma exigência: que as tampas sejam separadas por grupos de cores.
Assim, a prática criou uma nova e importante ação: a participação de crianças, adultos e idosos em uma forma de terapia coletiva.
“É uma ludoterapia”, brinca o médico.
Desta forma, o Tampa Amiga vai agregando colaboradores, estimulando o trabalho social e colaborativo, diminuindo o impacto ambiental e ajudando a dar um futuro melhor para quase duas centenas de crianças e adolescentes de Santos.
E tudo de forma anônima, sem alarde, nem participação do Poder Público.
Em decorrência de uma simples ideia: catar lacres e tampinhas das embalagens para ajudar a garantir um futuro melhor não só ao meio ambiente mas também para crianças e adolescentes que formarão as novas gerações.
Falta espaço
Mas o crescimento também traz transtornos.
Diante do crescimento da rede de solidariedade, um problema surgiu: a falta de espaço para colocar tanto material.
“É um volume assustador”, reconhece.
Para tanto, um segundo caminhão será colocado para captação do material restante a ser usado no dia da coleta geral em abril.
Hoje, a garagem da sua casa se transformou em depósito de tanto material recolhido pela rede. “O carro fica na rua”, diz.
Não bastasse, às vezes, só sobra espaço para o motorista, de tão carregado com tampas e lacres.
“Já aconteceu de eu vir para a casa dirigindo sozinho, pois até no banco do passageiro está lotado. E minha esposa voltou de táxi”, diz.
Mas o crescimento da proposta deixa-o e a esposa, além de outros colaboradores anônimos, animados e cientes que é possível fazer a diferença, a despeito de tantos problemas e desigualdades no País.
Confira os locais para entrega dos materiais do Tampa Amiga
SANTOS
Abor – Associação Beneficente Oswaldo de Rosis – Praça Primeiro de Maio, s/nº – Ponta da Praia
ARS – Rua Manoel Barbosa da Silveira, 239 – Saboó
Centro Espírita Allan Kardec – Rua Rio de Janeiro, 31 – Vila Belmiro
Portaria do edifício Med Center – Rua Olintho Rodrigues Dantas, 343 – Encruzilhada
Portaria Edifício Center Palmares – Av. Afonso Pena, 170 – Boqueirão
Portaria prédio Rua Luís de Faria, 109 – Gonzaga
Espaço Cura do Ser – Av Afonso Pena, 312 cj. 43 – Embaré
Colégio do Carmo – acesso pela Rua Egídio Martins, 181 – Ponta da Praia
Restaurante Nação Verde – Rua Euclides da Cunha, 42 – Gonzaga
Máximo Pet Shop – Rua Maria Máximo, 98 – Ponta da Praia
Restaurante Monte Carlo – Rua Oswaldo Cochrane, 51 – Embaré
Grupo Espírita Andre Luiz – Av. Bernardino de Campos, 504 – Vila Belmiro
PRAIA GRANDE
Rua Fumio Miyazi, 1117 – Jardim Guilhermina – Praia Grande
Casa dos Ortopédicos – Av. São Paulo, 1042 – Boqueirão
SÃO VICENTE
Loja Divisa Materiais – Av. Manoel da Nóbrega, 1785 (ao lado do Habibs) Itararé
CUBATÃO
Rua João Pessoa, 119 – Vila Nova
SÃO PAULO CAPITAL
Rua Renzo Borghi, 58 – Jaguaré (perto do shopping Continental)
Portaria prédio Rua Xavier Curado, 263 – Ipiranga
Cookeria – Rua Costa Aguiar, 1424 – Ipiranga