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Opiniões

18 DE MARÇO DE 2016

Nau dos desesperados

Por: Humberto Challoub

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Epílogo de uma tragicomédia política, a nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva para ocupar a Casa Civil da Presidência da República deverá entrar para a história brasileira como o mais expressivo ato de desprezo às instituições nacionais pela ausência de ética na forma em que foi concebido e pelo total descompromisso com os valores morais que devem guiar a sociedade. Com o dissimulado propósito de possibilitar a Lula foro privilegiado nos processos em que é acusado de ser beneficiado por crimes de corrupção e tráfico de influência, a inédita indicação de um ex-presidente para ocupar uma pasta ministerial representa uma ação desesperada para tentar reverter a profunda crise que atinge o governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

Descontados os excessos praticados em períodos de turbulência institucional, em que acentuam-se posições maniqueístas e oportunistas, havemos de reconhecer que práticas corruptas e de má versação dos recursos públicos, que hoje sustentam as acusações contra as principais lideranças petistas, há muito acompanham a vida política nacional, em menor e maior grau, e envolvem a quase totalidade dos partidos. A novidade, desta feita, é o aprofundamento das investigações com possibilidade criada pelo advento das delações premiadas. Assim, soube-se mais e divulgou-se mais, permitindo que a opinião pública adotasse uma posição ativa, a partir da sucessão dos fatos propagados pela imprensa.

Daí, portanto, o desfecho que venha atribuir culpa ou inocência aos envolvidos pouco valor terá diante da profunda depreciação moral que foi gerada pela revelação dos detalhes sórdidos e manobras politiqueiras que envolvem os processos da Operação Lava Jato. Diante do quadro caótico e de total desprestígio das principais autoridades do País, fica difícil acreditar que Lula conseguirá articular junto ao Congresso Nacional uma base capaz de garantir a permanência no cargo da presidente Dilma, diante do processo de impeachment que se prenuncia. Afinal, como buscar o entendimento entre pares que compartilham culpas e que não dispõem da moral, credibilidade e dignidade necessárias para reverter a crise instalada?

Qualquer entendimento desejado para amenizar o atual ambiente de conflito instaurado deverá ser precedido pela honestidade que falta, sem o quê dificilmente será respaldado pela população, hoje dividida pela retórica de rotos e esfarrapados. Mesmo que ainda sem desfecho, o episódio já remete à necessidade de redefinição dos limites de poder e responsabilidade das instituições, e, principalmente, à refeitura dos critérios utilizados para legitimar cargos eletivos, um modelo democrático que hoje se revela fragilizado pelo descrédito e depreciação das instituições que lhe dão sustentação. Em nenhuma situação pode-se admitir que fins justifiquem meios, sobretudo quando eles estimulem diferenças entre iguais.

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