Abertura das comportas favorece aumento da poluição nas praias de Santos | Boqnews
Foto: Nando Santos comportas canais de Santos

Contaminação

02 DE DEZEMBRO DE 2019

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Abertura das comportas favorece aumento da poluição nas praias de Santos

Toda a água proveniente dos canais da Cidade está indo para o mar. Situação preocupa pois traz riscos à saúde e ao meio ambiente

Por: Da Redação

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Com a proximidade do verão e festas de fim de ano, Santos se prepara para receber milhares de turistas no período de dezembro a fevereiro.

Entretanto, santistas e visitantes que escolherem a Cidade podem encontrar problemas para frequentar o principal atrativo: as praias.

Por R$ 2,384 milhões, a empresa FKB Válvulas e Comportas foi a vencedora da licitação no ano passado para a troca de 10 comportas nos canais de Santos.

Os recursos são municipais e da Fehidro – Fundo de Recursos Hídricos do Estado.

Ao todo, foram seis comportas junto à faixa de areia (canais 1, 2, 3, 4, 5 e 6). E outras quatro distribuídas ao longo dos canais (Canal 1 com a rua Delfino Stockler de Lima; Canal 1 com a Avenida Francisco Manoel; Canal 4 com a Bacia do Macuco; Canal 5 com a Rua Aureliano Coutinho).

Objetivo

Os dispositivos, feitos de aço inoxidável, têm o objetivo de substituir as comportas, deterioradas pela ação do mar e tempo, por equipamentos novos. Visando, assim, melhorar o controle de drenagem e minimizar enchentes.

Entretanto, não se sabe o porquê, mas os dispositivos estão abertos há tempos. Dessa forma, todo o volume de poluição difusa que cai na galeria pluvial e é lançado nos canais está indo diretamente ao mar.

Ou seja, com as comportas abertas, a Cidade está abrindo mão de uma iniciativa existente desde 1991, quando foi concebido o Sistema de Esgotamento Sanitário, cujo objetivo era captar as águas dos canais em tempo seco e enviá-las para a Estação de Pré-Condicionamento e Emissário Submarino, ambos localizados no Bairro do José Menino.

Enterrada na faixa de areia próximo aos jardins, a ligação ocorre desde o Canal 6 em grandes tubulações que medem 3 metros de largura por 2,70 de altura.

Aliás, por suas características geográficas, Santos é uma das poucas cidades no mundo onde há um sistema capaz de conduzir as águas de drenagem para a rede de tratamento de esgotos em tempo seco.

 

comportas canais de Santos

Situação das comportas abertas mesmo em períodos de pouca chuva pode ser observada na orla da praia. Foto: Nando Santos

Problemas

Como as comportas não estão funcionando, todos os detritos estão indo diretamente ao mar, especialmente em épocas de chuvas. A situação só não é pior, pois ocorre assoreamento em alguns trechos, como no Canal 2. Mas só vale em período de estiagem.

Assim, o livre acesso da água afeta a balneabilidade das praias, tornando-as impróprias para banho.

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) classifica semanalmente as praias em próprias ou impróprias, de acordo com a presença de bactérias fecais (enterococos) em análises feitas no período de cinco semanas consecutivas.

A companhia explica que um único valor de concentração de enterococos superior a 400 UFC (Unidade Formadora de Colônia)/100ml – ou registro de densidades superiores a 100 UFC/100ml em duas ou mais amostras – tornam as praias impróprias para recreação.

Piores índices dos últimos anos

Das 52 semanas em 2015, na metade (26) as praias estiveram impróprias para banho. Sendo que em 16 todas os sete pontos de coleta receberam bandeira vermelha.

No ano seguinte, 19 (36,5%) das 52 semanas registraram a maior parte das praias impróprias para banho, sendo que em 11 todas estavam nesta situação.

Em 2017, o melhor cenário. Das 52 semanas, 15 (29%) estiveram com parte das praias poluídas. Deste total, 10 em todas as sete praias onde existem as coletas, realizadas aos domingos.

No ano passado, quando as mudanças iniciaram, em 27 (52%) a maioria das praias estava com bandeira vermelha. Sendo que em 19 todas encontravam-se nesta situação.

O pior cenário é o atual. O ano nem acabou e o volume de praias poluídas supera pelo menos os últimos cinco anos.

Das 47 semanas registradas até o momento, em 32 (68%) a maioria das praias esteve em más condições de balneabilidade. Deste total, em 20 todas as sete praias estavam impróprias para banho.

Os boletins semanais, bem como os resultados de anos anteriores podem ser acessados no site da companhia (cetesb.sp.gov.br/praias – aba classificação).

 

poluição das praias de Santos

Arte: Mala

Impactos

A presença de enterococos indica contaminação fecal e pode acarretar em problemas no meio ambiente.

De acordo com o professor doutor em Ecologia da Universidade Santa Cecília, Fábio Giordano, o lançamento de fezes sem tratamento na água pode acarretar na diminuição de oxigênio na água. E, consequentemente, matar peixes e invertebrados no ecossistema.

Além disso, há o aumento na carga de compostos fosfatados e nitrogenados no mar, levando à eutrofização da água, que consiste no aumento da proliferação de algas e outros seres unicelulares, causando desequilíbrio na comunidade aquática.

Não bastasse, o problema também afeta a saúde. O infectologista Marcos Caseiro pontua que o risco surge quando há grande ingestão oral da bactéria diluída.

Entretanto, outros patógenos intestinais podem ser responsáveis por causar problemas de saúde nos banhistas.

Em razão da proximidade da temporada de verão, a expectativa é que a Cidade receba milhares de visitantes. O presidente do Santos Convention Bureau, Leonardo Carvalho, destaca que Santos é divulgada como destino completo.

“Não focamos em sol e praia. Se por questões meteorológicas e geográficas ficamos impossibilitados de ter melhor balneabilidade da praia, trabalhamos para que os turistas passeiem de bonde, visitem a Vila Belmiro, Museu Pelé e Aquário”, diz.

“E conheçam nosso museus, circulem pelo Centro Histórico e apreciem o por do sol em nossas muretas”, acrescenta.

Jogo de empurra

O projeto de modernização das comportas, iniciado em junho de 2018 e executado sobre um investimento de R$ 2,384 milhões, estava previsto para ser concluído em maio deste ano. Entretanto, o contrato foi prorrogado em outras duas situações.

Procurada, a empresa responsável pelas obras, a FKB Válvulas e Comportas não atendeu a Reportagem até a conclusão.

Segundo o portal da Prefeitura, R$ 2 milhões já foram repassados à empresa.

Questionada, a Prefeitura de Santos pontuou que a função das comportas é controlar as enchentes. Assim, quando abertas, afetam momentaneamente a balneabilidade das praias.

Além disso, indicou a Sabesp como responsável por saneamento, esgotos e ligações clandestinas que poluem as praias. Por fim, informou que o prazo para término dos serviços é 25 de janeiro de 2020.

Não explicou, porém, o motivo das comportas estarem abertas, a despeito do contrato firmado pelo Município com a empresa responsável.

A Sabesp, em nota, enfatizou que realiza investimentos constantes para coleta de esgotos da Cidade. A empresa explicou que, em Santos, “existe um sistema de interligação dos canais de drenagem junto ao interceptor oceânico que passa entre o canal 6 e o Emissário Submarino e, em períodos secos, direciona as águas das chuvas à estação de precondicionamento dos esgotos localizada no bairro José Menino, em Santos. Caso ocorra a abertura das comportas, esta poluição difusa nas ruas atingirá a praia, piorando os índices de balneabilidade”.

“Portanto, se as comportas estiverem abertas, a poluição terá um destino: o mar”, pontua o superintendente regional da Sabesp, Sérgio Bekerman. Simples assim.

Enquanto isso, a temporada de verão se aproxima e ao que parece restará curtir o mar apenas de forma bucólica. Ou pelas muretas.

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